A Síndrome do Intestino Irritável (SII) afeta entre 15% e 20% da população ocidental e, nos Estados Unidos, é a segunda causa mais freqüente de falta ao trabalho, perdendo apenas para os estados gripais. No Brasil, estima-se que o problema afete mais de 1,5 milhão de pessoas – as mulheres são as mais acometidas (59%). No caso dos homens, 41% têm o mal, segundo o médico e professor de Gastroenterologia da PUC de Campinas (SP), Flávio Quilici.
A doença é considerada funcional, ou seja, não se encontram em exames laboratoriais evidências de alterações orgânicas, mas sim no funcionamento do intestino. Porém, o que muitas pessoas não sabem é que a SII tem características psicossomáticas e suas manifestações estão intimamente ligadas às emoções, principalmente em relação à intensidade dos sintomas, os estados depressivos e as alterações do sono.
Relatos”Muitos pacientes referem-se, com freqüência, ao desencadeamento do quadro ou agravamento dos sintomas em períodos de estresse”, afirma o psiquiatra José Paulo Fiks.
Embora ainda não existam explicações causais que liguem a SII à depressão e ao estresse, os relatos de pacientes e a evolução da síndrome mostram que esta ligação tem influência no quadro da doença. Isto se deve à relação direta existente entre o cérebro e o sistema nervoso autônomo, que controla a musculatura intestinal. Portanto, a redução do estresse, tais como as tensões profissionais e familiares, tem impacto nos sintomas da síndrome. “O estresse provoca, normalmente, alterações no sistema digestivo. Nas pessoas com SII, o intestino é mais sensível, causando alterações ainda maiores”, explica o psiquiatra.
PsicologiaHá trabalhos científicos que confirmam a relação da SII com alterações psicológicas. Por isso, hoje a doença é cada vez mais estudada como uma patologia que exige cuidado multidisciplinar. Para Fiks, os tratamentos isolados, somente dos sintomas, sem a abordagem dos aspectos psíquicos, podem prolongar e até mesmo agravar a doença, limitando a rotina de vida do paciente, levando à perda da qualidade de vida e piorando um transtorno psicológico associado.
“Indivíduos podem adquirir hábitos restritivos na tentativa de prevenir os sintomas. Há os que sofrem de aumento do número de evacuações e tentam sair de casa munidos de material higiênico para emergências. Há os que se envergonham de lugares silenciosos, como reuniões, salas de espetáculos etc, por causa de sintomas como gases e movimentos intestinais”, comenta ele.