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A periferia nas telas

Arquivo Geral

25/10/2005 0h00

As grandes cidades, cercadas por bolsões de pobreza, onde o desemprego e a violência reinam sem precedentes, proporcionaram uma produção cinematográfica fascinante, de um lado, e amarga, de outro, retratando uma vida muito próxima de todos nós e ao mesmo tempo infinitamente distante da realidade da classe média. São comuns filmes em vários países tentando decodificar uma realidade cada vez mais presente no dia-a-dia da população. Filmes como Trafic, Faça a Coisa Certa, Filhos do Paraíso, para citar o mercadão internacional; e Cidade de Deus, para exemplificar um recente sucesso nacional, dão um tom diferente ao cinema. Com este espírito, chega hoje a Brasília a mostra Uma Outra Cidade: Imagens das Periferias, demonstrando como o cinema brasileiro lançou seu olhar sobre as periferias e suas particularidades, desde a década de 50 até agora.

Até o dia 6 de novembro, no cinema do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), o público brasiliense poderá ver filmes de diferentes estilos e formatos com essa temática. São produções de ficção, documentários e videoclipes em 30 longas e 13 curtas-metragens, além de filmes e vídeos franceses.

A mostra retrata as singularidades com que esses territórios de misérias foram mostrados ao longo das últimas cinco décadas. Enquanto nos anos 60 tentava-se explicar a miséria, nos anos 90 a ficção exibia o confronto entre periferia e cidade. Exemplo desse embate está em Como Nascem os Anjos, de Murillo Salles (1996), em que personagens vivem situação limite quando meninos da favela invadem mansão na Barra da Tijuca.

Anteriormente, na década de 50, os filmes apresentavam uma visão romântica. “A favela aparecia como símbolo de marginalidade tolerável e lírica”, analisa a curadora e pesquisadora Ivana Bentes. “Em Orfeu do Carnaval, de Marcel Camus (1959), os favelados são nativos exóticos, mostrados como uma humanidade original, numa terra exuberante”, explica Ivana. Do mesmo período é o clássico Rio Zona Norte, de Nelson Pereira dos Santos (1957).

Em contraste com os filmes produzidos nos anos 50, o cinema contemporâneo exibe uma periferia onde impera a criminalidade, o grande número de assassinatos e a violência com ares de espetáculo. Um exemplo é Cidade de Deus, de Fernando Meirelles (2002), marco do cinema nacional que relata a história do tráfico em uma favela.

Além do tráfico de drogas, a mostra traz à tona temas diversos como racismo, em Garotas do ABC, de Carlos Reichenbach (2004); imigração, em O Culpado é Voltaire, de Abdel Kechiche (2001); identidade, no francês A Esquiva, de Abdellatif Kechiche (2004), e no brasileiro Orfeu, de Carlos Diegues (1998); o choque de classes, em Quase Dois Irmãos, de Lucia Murat (2005); e música e resistência, em Fala Tu, de Guilherme Coelho (2003), e em Onde a Coruja Dorme (2002).

Principal meio de protesto dos jovens marginalizados, a música aparece ainda nos curtas-metragens Diário de Detento (1998) e Mágico de OZ (1998), ambos videoclipes dos Racionais MCs, e em Soldado do Morro (2000) e Traficando Informação (1998), videoclipes de MV Bill.

A periferia tem seus problemas revelados em letras de rap e hip hop, produz imagens de pobreza e caos, seus personagens, sua cultura e formas próprias de vida. Como destaca Ivana Bentes, “as favelas e periferias tornam-se hoje lugar de outros modelos de cidade”.

Serviço

Uma outra cidade: Imagens das Periferias – Mostra de cinema de hoje a 6 de novembro, no Centro Cultural Banco do Brasil-CCBB (Setor de Clubes Esportivos Sul, trecho 2, conjunto 22, próximo ao Clube de Golfe). Entrada franca. Mais informações: 3310-7087.

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    25/10/2005 0h00

    As grandes cidades, cercadas por bolsões de pobreza, onde o desemprego e a violência reinam sem precedentes, proporcionaram uma produção cinematográfica fascinante, de um lado, e amarga, de outro, retratando uma vida muito próxima de todos nós e ao mesmo tempo infinitamente distante da realidade da classe média. São comuns filmes em vários países tentando decodificar uma realidade cada vez mais presente no dia-a-dia da população. Filmes como Trafic, Faça a Coisa Certa, Filhos do Paraíso, para citar o mercadão internacional; e Cidade de Deus, para exemplificar um recente sucesso nacional, dão um tom diferente ao cinema. Com este espírito, chega hoje a Brasília a mostra Uma Outra Cidade: Imagens das Periferias, demonstrando como o cinema brasileiro lançou seu olhar sobre as periferias e suas particularidades, desde a década de 50 até agora.

    Até o dia 6 de novembro, no cinema do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), o público brasiliense poderá ver filmes de diferentes estilos e formatos com essa temática. São produções de ficção, documentários e videoclipes em 30 longas e 13 curtas-metragens, além de filmes e vídeos franceses.

    A mostra retrata as singularidades com que esses territórios de misérias foram mostrados ao longo das últimas cinco décadas. Enquanto nos anos 60 tentava-se explicar a miséria, nos anos 90 a ficção exibia o confronto entre periferia e cidade. Exemplo desse embate está em Como Nascem os Anjos, de Murillo Salles (1996), em que personagens vivem situação limite quando meninos da favela invadem mansão na Barra da Tijuca.

    Anteriormente, na década de 50, os filmes apresentavam uma visão romântica. “A favela aparecia como símbolo de marginalidade tolerável e lírica”, analisa a curadora e pesquisadora Ivana Bentes. “Em Orfeu do Carnaval, de Marcel Camus (1959), os favelados são nativos exóticos, mostrados como uma humanidade original, numa terra exuberante”, explica Ivana. Do mesmo período é o clássico Rio Zona Norte, de Nelson Pereira dos Santos (1957).

    Em contraste com os filmes produzidos nos anos 50, o cinema contemporâneo exibe uma periferia onde impera a criminalidade, o grande número de assassinatos e a violência com ares de espetáculo. Um exemplo é Cidade de Deus, de Fernando Meirelles (2002), marco do cinema nacional que relata a história do tráfico em uma favela.

    Além do tráfico de drogas, a mostra traz à tona temas diversos como racismo, em Garotas do ABC, de Carlos Reichenbach (2004); imigração, em O Culpado é Voltaire, de Abdel Kechiche (2001); identidade, no francês A Esquiva, de Abdellatif Kechiche (2004), e no brasileiro Orfeu, de Carlos Diegues (1998); o choque de classes, em Quase Dois Irmãos, de Lucia Murat (2005); e música e resistência, em Fala Tu, de Guilherme Coelho (2003), e em Onde a Coruja Dorme (2002).

    Principal meio de protesto dos jovens marginalizados, a música aparece ainda nos curtas-metragens Diário de Detento (1998) e Mágico de OZ (1998), ambos videoclipes dos Racionais MCs, e em Soldado do Morro (2000) e Traficando Informação (1998), videoclipes de MV Bill.

    A periferia tem seus problemas revelados em letras de rap e hip hop, produz imagens de pobreza e caos, seus personagens, sua cultura e formas próprias de vida. Como destaca Ivana Bentes, “as favelas e periferias tornam-se hoje lugar de outros modelos de cidade”.

    Serviço

    Uma outra cidade: Imagens das Periferias – Mostra de cinema de hoje a 6 de novembro, no Centro Cultural Banco do Brasil-CCBB (Setor de Clubes Esportivos Sul, trecho 2, conjunto 22, próximo ao Clube de Golfe). Entrada franca. Mais informações: 3310-7087.

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