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Política & Poder

Youtubers do Gabinete do Ódio faturavam mais de R$ 100 mil do Planalto

Inquérito aponta que o Planalto tem servidores que fazem a ligação entre o governo e youtubers antidemocráticos

Willian Matos

04/12/2020 7h44

O inquérito dos atos antidemocráticos cometidos pelo “Gabinete do Ódio”, grupo de youtubers que atacam a democracia em prol do presidente Jair Bolsonaro, mostra que a ligação entre o governo Bolsonaro e os canais é bastante próxima e até rendia lucro.

O inquérito diz, basicamente, que os youtubers ganhavam mais de R$ 100 mil por mês para promover vídeos a favor de Bolsonaro contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso. Obtido pelo jornal O Estado de S.Paulo, o documento aponta que assessor especial da Presidência da República, Tércio Arnaud Tomaz, e o ajudante de ordens Coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, são os interlocutores do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, dono do canal Terça Livre.

Tércio é apontado como o elo entre o governo e os demais youtubers. O inquérito cita os seguintes antidemocratas:

Anderson Azevedo Rossi, criador do canal Foco do Brasil;

Fernando Lisboa, do Vlog do Lisboa;

Emerson Teixeira, do canal “Professor Opressor”;

Ernani Fernandes Barbosa e Thaís Raposo, da “Folha Política”,

Camila Abdo, do Direito aos Fatos; e

Marcelo Frazão, do TV Direita News.

A extremista Sara Giromini também é citada, mas o canal dela foi excluído do YouTube por violar normas. O jornalista Oswaldo Eustáquio consta no documento. Embora o canal dele não esteja disponível para ser acessado do Brasil, o perfil segue ativo para outros países e tem 9,1 milhões de inscritos.

O grupo antidemocrático foi descoberto em setembro de 2019, e as investigações, conduzidas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, ainda não terminaram. Até agora, foram ouvidas mais de 30 pessoas. Entre elas, estão os filhos de Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Apontado como comandante do Gabinete do Ódio, Carlos é citado 43 vezes no inquérito.

No período dos protestos antidemocráticos, alguns com a presença de Bolsonaro, vídeos com títulos apelativos pipocaram nas redes sociais. Nessa lista estavam “Bolsonaro rebate conspiradores”, “Bolsonaro dá ultimato para sabotadores e intromissões”, “Bolsonaro invade STF”, “A Força de Bolsonaro é maior que Congresso e STF”, “Bolsonaro e Forças Armadas fechados em um acordo para o Brasil” e “STF decidiu eliminar Bolsonaro”, como registrou a Procuradoria-Geral da República (PGR).

“Com o objetivo de lucrar, estes canais, que alcançam um universo de milhões de pessoas, potencializam ao máximo a retórica da distinção amigo-inimigo, dando impulso, assim, a insurgências que acabam efetivamente se materializando na vida real, e alimentando novamente toda a cadeia de mensagens e obtenção de recursos financeiros”, disse o vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques, em manifestação ao STF.

Depoimentos

Nos interrogatórios, a Polícia Federal tem questionado se os donos de canais são “laranjas” de terceiros. Foi o que ocorreu no depoimento prestado por Anderson Azevedo Rossi. O criador do canal Foco do Brasil respondeu que não repassa dinheiro recebido de monetização do YouTube a outros. Rossi afirmou, porém, que recebe ajuda de Tércio Tomaz para abastecer a sua página.

Por meio do WhatsApp, disse ele, o assessor repassa vídeos de Bolsonaro. Tércio está sempre ao lado do presidente. Filma suas conversas de forma imperceptível e procura flagrar situações que possam constranger quem o incomoda.

Com 2,3 milhões de seguidores no Youtube, Rossi teve uma guinada na carreira desde a ascensão de Bolsonaro. Recebia um salário de R$ 3,5 mil como técnico de informática em sua cidade, Canela, no Rio Grande do Sul. Agora, com os recursos da monetização – a remuneração que o YouTube paga por anúncios publicitários nos canais – faturou com o Foco do Brasil US$ 330.887,08 entre março de 2019 e maio de 2020, o equivalente a R$ 1,7 milhão na cotação atual de câmbio. É um valor aproximadamente 33 vezes maior do que ganhava na função anterior. Rossi chegou a instalar uma sala física do canal em Brasília.

Em depoimento à PF, Tércio negou dar tratamento diferenciado aos donos de canais no Youtube que orbitam em torno de Bolsonaro. Admitiu, porém, ter participado de um grupo de WhatsApp com Allan dos Santos para discutir questões do governo federal. Allan, por sua vez, disse que recebe R$ 12 mil por mês, na condição de “sócio” do Terça Livre, também obtidos por meio de monetização, segundo depoimento prestado à PF.

Já Fernando Lisboa, do Vlog do Lisboa, fatura de R$ 20 mil a 30 mil por mês. Emerson Teixeira, do canal “Professor Opressor”, informou que tem rendimento mensal de R$ 11 mil. Foco do Brasil, Terça Livre e Vlog do Lisboa veicularam propaganda da reforma da Previdência, paga pela Secretaria de Comunicação (Secom). Exibiram, respectivamente, 57.044, 1.447 e 2.081 inserções publicitárias no YouTube, de acordo com informações enviadas pela Secom à CPMI das Fake News no Congresso, no período de 6 de junho a 13 de julho de 2019.

Com informações do jornal O Estado de S.Paulo

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