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Política & Poder

Representante do PSOL, Fátima Sousa quer listas tríplices para cargos políticos

Arquivo Geral

26/06/2018 7h00

Atualizada 25/06/2018 21h10

Foto: João Stangherlin/Jornal de Brasília.

Francisco Dutra e Valdir Borges
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Pré-candidata do PSOL ao Buriti, a professora Fátima Sousa assume compromisso de escolher administradores regionais e diretores das regionais de saúde e educação a partir de listas tríplices populares. Buscando assumir o protagonismo da esquerda, dispara que Jofran Frejat (PR) foi o responsável pelo começo do desmonte da Atenção Primária no Distrito Federal e que Rodrigo Rollemberg (PSB) não está resgatando o modelo, a despeito do discurso oficial do GDF.

Guerra fiscal: pretende replicar benefícios fiscais de outros estados no DF?
Nós vamos lançar mão, sim. Até porque Brasília desde sua origem foi criada para a tecnocracia. Veja, agora temos que inverter isso. Até porque Brasília assumiu uma posição muita rica para o desenvolvimento econômico. Não só porque a geopolítica dela facilita essa condição. Gosto de dizer sempre que Brasília é um celeiro de oportunidades em que, infelizmente, governo após governo não têm utilizado essa oportunidade para o desenvolvimento, geração de emprego, renda o bem viver das pessoas. Veja, além de circunscrita pelos ministérios, embaixadas, que podem perfeitamente nos ajudar, é uma região próspera. Estamos no Centro-Oeste, circunscritos pela Bahia, Minas Gerais. Nenhum governo entendeu a importância da região. De ter a Ride como espaço de diálogo com, no mínimo, os governos de Goiás e Minas Gerais. Brasília tem se esquecido de que as 31 regiões administrativas são verdadeiras cidades. Infelizmente, é tudo centralizado no Plano Piloto.

Aumento de impostos no DF?
Nós temos que enfrentar esse debate com muita tranquilidade com a classe média alta: de que quem tem mais condições de pagar, tem que pagar mesmo. Porque esse é um tributo que vai ser socializado com as pessoas que têm menos. Estamos discutindo isso. Temos um grupo de trabalho que está discutindo não só o IPTU, mas outras formas de captação de recursos. Onde o IPTU pode ser cobrado de forma progressiva. Com metas, ao médio e longo prazo. Para que não caia abruptamente. Quer dizer: que não seja mais um imposto acrescido nos primeiros dias de nossa mandato, mas que seja um estudo cuidadoso, onde as pessoas de classe média alta sejam solidárias, para que a gente tenha mais recursos para investir nas políticas públicas. Insisto: na saúde, em que a gente tem visto um caos.

Então é uma possibilidade?
Pode sim. Mas dialogada. Cobrando mais de quem tem mais e de forma discutida com a sociedade.

Propostas para saúde?
Governo após governo, fizeram uma opção para a saúde que foi descumprir o que está escrito na Constituição Brasileira. Ela é clara: cabe ao governo e ao Estado proteger as famílias e as pessoas no que se refere à saúde. Vamos trazer um programa que foi muito bem feito aqui na nossa cidade, mas que o governo Roriz canetou no mesmo dia de posse – diga-se de passagem o secretário era o pré-candidato Frejat (PR). Então acabou o Saúde em Casa. Como o próprio nome está dizendo, vai de casa em casa com agentes comunitários de saúde fazendo um processo de prevenção, tratamento, recuperação da saúde. As pessoas não precisam enfrentar essas filas miseráveis, humilhantes e agressivas para as famílias. Então nós vamos radicalizar com o programa Saúde em Casa. E vai ser um dos primeiros atos nossos. Nós vamos radicalizar com as cirurgias eletivas. Não dá para a pessoa esperar ano após ano para fazer uma cirurgia de catarata.

Educação?
Nós temos que investir pesadamente na educação desde a creche até o espaço universitário. É um dever meu como educadora investir em educação. E mais do que isso, a creche não pode ser, como tem sido tratada, um depósito de crianças. As mães têm o direito de ter um lugar para que os filhos fiquem quando elas forem trabalhar. É absolutamente legitimo. Mas nós tínhamos que pensar a creche em outra dimensão. Ela é um direito da criança. O Estado precisa proteger as crianças de 0 a 6 anos, porque é o período onde elas formam a consciência, onde ser formam cidadãos. Temos que inverter essa lógica. O direito à creche é de que inclusive essa criança seja bem-cuidada e que a mãe se sinta segura de não estar só depositando sua criança lá.

Segurança?
Nós não vamos tratar a segurança como violência que gera violência. Isso não resolve o problema. Isso amplia o problema. Nós não vamos tratá-la como um intriga que existe entre as ordens da cidade, a Polícia Militar contra a Polícia Civil, contra o Corpo de Bombeiros. Nós vamos fazer uma união. Para começar, esse pessoal está sendo mal tratado. O militar não quer ir para o confronto achando que é bom. Ele quer ter um lugar de paz. O Estado precisa inclusive cuidar dos militares, das forças civis e bombeiros. Eles estão se suicidando. Eles não suportam a violência. Então, a primeira coisa é cuidar de quem cuida da segurança pública. A gente tem que fazer uma formação permanente para eles. Em terceiro, precisamos de uma integração para um ciclo de combate à violência. Não pode ser um cuida de uma coisa, outro de outra. Não tem Estado que segure isso. Essa competição desenfreada não funciona para ninguém. O plano de segurança tem que ser integrado. Nossa segurança pública será mais escola e menos bala.

O GDF diz que já está ampliando o Saúde da Família.
O governo atual não está fazendo Saúde em Casa. Primeira diferença nossa é que nós vamos massificar com a presença de agentes comunitários de saúde, coisa que ele não está fazendo. Segundo, nós vamos fazer um processo de educação permanente para todos os profissionais que compõem as equipes. Não me diga que fazendo um treinamento de 24 horas para um ginecologista, um pediatra e um obstetra os faça virar médicos generalistas não é verdade. Você não vira um médico de família do dia para noite. Esse é outro diferencial. Saúde não pode ser tratada como ausência de doença. Ela tem que ser tratada como conceito ampliado. O que o governo está fazendo é tratar das doenças nos amontoados dos hospitais. Nós vamos trazer a saúde para as pessoas, as famílias. Vamos transformar as cidades em canteiros de saúde, educação, cultura e arte.

Então não há Saúde da Família?

O que o GDF está fazendo não é Saúde da Família. Está ampliando equipes incompletas e sem a formação qualificada e transformando do dia para a noite os trabalhadores para atividades para que não estão preparados. Isso inclusive está causando adoecimento dos trabalhadores da saúde.

Infra-estrutura e merenda nas escolas?
Também tenho visitado muito as escolas rurais. Tenho visto profissionais dispostos a investir na educação. São abnegados. Mas não há infraestrutura. As escolas estão caindo, bibliotecas não existem. Na área rural estão completamente abandonadas. Um dos primeiros atos do nosso governo será o diagnóstico já de pronto da infraestrutura dessas escolas, mas também do potencial pedagógico. Nós sabemos que em Brasília, nos anos 60, 70, nós tínhamos uma modelo de pedagogia que era feito de forma integrada. Mas simplesmente foi abandonado. De posse desse diagnóstico nós vamos traçar um plano integrado, desde a creche até a universidade.

E a merenda?
O problema da merenda é um bem precípuo. Não dá para a criança comer pipoca, desmaiar em sala de aula. Vamos investir pesadamente em merenda escolar. Essa questão de falta de merenda não é financeira. É de gestão pública. Tem que se antecipar aos fatos. Qualquer gestor que não se antecipa, é fadado o tempo inteiro a enfrentar os problemas emergenciais. Outra questão que vamos radicalizar é na descentralização administrativa das escolas.

Faltam equipamentos públicos em regiões como Águas Claras.

O Estado está ausente. A população não sente a presença do Estado. Nós vamos radicalizar na descentralização da administração. Não existe participação popular em governo centralizado, autoritário, diria até mais autocentrado, que não tem capacidade de sentir o pulso do povo. Vamos retomar a discussão das listas tríplices para a escolha dos diretores das regionais, não só da saúde. Esperamos que com as listas tríplices a gente possa escolher não indicações de políticos A, B ou C, mas da competência técnica, do compromisso com as regionais.

Onde as listas serão usadas?
Saúde, ensino e para o conjunto das regiões administrativas. Administradores regionais também.

O PSOL vai sozinho ou coligado às eleições?
Nós constituímos um grupo de interlocutores que procura os partidos do campo progressista. Estamos abertos ao dialogo. O PSOL nunca se fechou para um frente ampla para o debate da cidade, para encontrar propostas que respondam às necessidades reais da população. Mas respeitamos os partidos, cada um tem seu tempo, sua dinâmica interna. É claro que se viermos todos nessa frente que estou convidando as pessoas a compor um plano de governo que está em gestação serão todos bem-vindos, desde que compreendam os valores e princípios que norteiam o PSOL. Um partido que defende as políticas públicas sempre, nunca tomou atalhos, intolerante para qualquer forma de violência e corrupção.

Mas o partido não assumiu o protagonismo na esquerda. Falta força? E como lidar com a onde de descontentamento com a política?
Primeiro que o PSOL não é fraco. É um partido forte. Nunca abriu mão de suas teses, do que entendemos do que é um socialismo, um modo de vida humanista, de enfrentar os problemas como são e ir até às raízes deles. Então o PSOL é forte. Segundo, entendo perfeitamente o desalento o desencanto da população. Os governo ditos de centro-esquerda, ditos, porque se fossem de esquerda não fariam o que fizeram, se tomaram atalhos, o PSOL não pode pagar esse preço. O PSOL não pode pagar pelos atalhos e descaminhos que os governos de centro-esquerda tomaram. Essa história é deles. Eles que respondam. Nós vamos responder pelo que somos capazes.

O PSOL não elegeu deputados distritais nas últimas eleições.
Pera aí. Não elegia. Mas neste momento nós temos uma expectativa de eleger em torno de 7 deputados distritais.

A vice será do PSOL?
Isso não está em discussão. Keka Bagno é a nossa pré-candidatada.

Caso eleita, a senhora tentará a reeleição?
É um mandato só. Digo que 4 anos serão suficientes. Juscelino Kubitschek construiu essa cidade em 3 anos e meio. Porque uma mulher, paraibana, nordestina, em companhia de outras mulheres e bons homens não pode? Só precisa de 4 anos. Não para resolver todos os problemas, porque quem disser que vai resolver todos falta com a verdade. Nós vamos semear o que tem de mais importante nessa cidade. Retomar a civilidade, a humanização, o emprego e renda.

Reforma da previdência no Distrito Federal?
Isso nós vamos ter que estudar com muita calma, inclusive conferindo os números. Uma coisa tenha certeza: nosso governo não vai jogar dinheiro pela janela.

Estádio Mané Garrincha e Centro Administrativo?
O Mané Garrincha foi um espaço de corrupção. Isso não sou eu quem está dizendo. A população inteira sabe. Nós vamos auditar. Quem tirou dinheiro público vai ter que devolver centavo por centavo. Segundo, ali é um lugar que pode gerar muita renda. De novo, falta gestão. Ali poderia estar um celeiro de grandes eventos nacionais e internacionais, revertendo recursos para o Estado. Quanto ao Centro Administrativo todos nós sabemos que ele está sob judicialização. Nós vamos dar uma atenção nos primeiros dias de governo. Em resolvendo a questão de Justiça, vamos transformar aqui lo ali em outros espaços que não seja apenas a administração pública fria. Vamos transformar em escola, uma faculdade para diversas especialidades. Vamos enfrentar o Centro Administrativo. Não vamos adiar. Não vamos para o bate-gaveta. O gestor público que coloca os problemas debaixo da gaveta, gera mais problemas.

Comissionados?
Olha a gente tem que investir no trabalhador que está lá. Por que a cada governo tem que entrar essa multidão de gente? Quer ver um exemplo, o vice-governador dessa cidade ele tem 178 trabalhadores para dar assistência para ele. Não precisa.

Mas a estrutura da vice, hoje, está com a Casa Civil.
Posso lhe dar outro exemplo. Do governo, do secretariado. Não tem necessidade de inchar a máquina com com cargo comissionado. Não tem necessidade estourar a administração pública em função de cargo comissionado. Nosso grupo também fazendo um estudo da máquina publica. A máquina vai ser mínima, nem máxima. Vai ser aquela que atende a políticas públicas. Não vamos admitir loteamento da máquina. Também não vamos admitir viagens internacionais com a eventos sem necessidade. Sem definição de prioridades. Jogam recursos, com todo respeito, pela janela, e mais grave ainda. Quando tem recursos captados pelos ministérios, do Governo Federal, devolve dinheiro. Diz que não tem dinheiro, que está em uma crise fiscal e devolve recursos para Esplanada dos Ministérios.

Modelo de mobilidade urbana e gratuidades?
Em relação ao contratos, nós vamos analisar com muito cuidado. Não vamos chegar atropelando. Seria irresponsável da minha parte dizer que vamos fazer isso, isso e isso. Nosso governo será muito cuidadoso. As coisas boas que os governos anteriores fizeram, importantes para a sociedade, nós vamos preservar, ampliar, cuidar. Ninguém aqui é afobado. Até porque sou professora. Trabalho com fatos, com ciência, não trabalho com política desenfreada. É legitima a gratuidade. Vamos estudar essa questão com muito carinho.

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