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Política & Poder

Moro anuncia demissão: “O presidente não me quer no cargo”

Ministro citou que não assinou exoneração de Valeixo e revelou que Bolsonaro quis interferir na PF

Willian Matos

24/04/2020 12h07

Após a notícia de que pediria demissão, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, anunciou a saída do cargo. Em pronunciamento no auditório do Ministério, Moro falou sobre a suposta interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal e esclareceu outros pontos.

Moro relembrou que, quando recebeu o convite de Bolsonaro, lhe foi ofertada carta branca para nomear assessores em órgãos policiais como Policia Rodoviaria Federal e Policia Federal. O ministro aceitou por entender que poderia agir como um “garantidor da lei e da imparcialidade e autonomia dessas instituições”

Interferência de Bolsonaro

O cenário começou a mudar quando Bolsonaro insistiu na troca do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, para, supostamente, obter informações privilegiadas quanto às operações. Moro afirma que nunca foi contrário a realizar uma troca, mas que não o faria sem motivo. “Não tenho nenhum problema para trocar, mas eu preciso de uma causa, relacionada a uma insuficiência de desempenho, um erro grave.”

Moro, então, revelou que Bolsonaro tinha a consciência de que essa insistência configura uma interferência na Polícia Federal. “Falei ao presidente que seria uma interferência politica [trocar Valeixo sem razão]. Ele [Bolsonaro] disse que seria mesmo.”

“Não é o papel da Policia Federal fornecer informações [a Bolsonaro]. Imagina se a ex-presidente Dilma ou o ex-presidente [Lula] ficassem ligando para superintendente da PF para colher informações da Lava Jato.”

Exoneração de Valeixo

A exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) com a assinatura de Moro. No entanto, o ministro revelou que não assinou o documento. Disse também que não é verdade a informação de que Valeixo queria sair do cargo e que foi pego de surpresa.

“Foi ofensivo. Como vou concordar? Vou fazer o que?”

PT e autonomia à PF

Moro também chegou a citar positivamente os governos do PT, em especial ao de Dilma Rousseff. “É certo que o governo da época tinha inúmeros defeitos, aqueles crimes gigantescos de corrupção. Mas foi fundamental a autonomia da PF, essa autonomia foi mantida.”

Por fim, Moro afirmou que está, de fato, deixando o Ministério da Justiça e Segurança Pública. “O presidente não me quer no cargo”, afirmou. “Entendi que não poderia deixar de lado esse meu compromisso com o estado democrático de direito.” 

O presidente Jair Bolsonaro deve se pronunciar sobre a saída e o pronunciamento de Moro em breve.

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