Menu
Política & Poder

Ex-assessora de Flávio confessa rachadinha em gabinete

Funcionária admitiu que devolvia mais de 90% do salário para Queiroz, líder das ‘rachadinhas’. Ela também afirma nunca ter trabalhado para Flávio

Redação Jornal de Brasília

04/11/2020 10h52

Uma ex-assessora do hoje senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) admitiu que estava no quadro de funcionários do então deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) mas nunca trabalhou, de fato. Luiza Sousa Paes confessou ainda que recebia salário, mas devolvia mais de 90% dos proventos a Fabrício Queiroz.

As informações são do jornal O Globo. Nesta quarta (4), veio à tona a denúncia do Ministério Público do Rio (MPRJ) contra Flávio pelo esquema de ‘rachadinha’. A funcionária disse que recebia cerca de R$ 5 mil, ficava com R$ 700 e devolvia o restante, incluindo 13º, férias, vale-alimentação e restituição do Imposto de Renda.

No depoimento prestado em setembro deste ano aos investigadores, Luiza confessou que nunca trabalhou de fato para Flávio, apesar de ter passado cerca de seis anos nomeada no gabinete dele e em outros cargos na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Era obrigada, segundo relatou, a repassar mais de 90% dos salários para Queiroz. Ela apresentou extratos bancários que mostram transferências de R$ 160 mil para o ex-assessor durante esse período, entre 2011 e 2017.

Como se deu na etapa final da investigação, o interrogatório foi crucial para o MP decidir denunciar Flávio e seus assessores. Foi a primeira vez que um ex-funcionário do filho do presidente Jair Bolsonaro assumiu diante da Promotoria que era “fantasma”. Com os repasses, Luiza ficava apenas com cerca de R$ 700 por mês. Ela precisava transferir para Queiroz até valores referentes a 13º salário, férias e vale-alimentação, por exemplo.

Ao citar seu caso, a ex-assessora inclui ainda outras colegas de gabinete que também participariam do esquema: as filhas mais velhas de Queiroz, Nathália e Evelyn, além de uma amiga da família dele, Sheila Vasconcellos. Luiza é filha de Fausto Antunes Paes, amigo próximo ao suposto operador. Eles jogavam juntos uma pelada de futebol em Oswaldo Cruz, na zona norte do Rio, chamada de “Fala tu que eu tô cansado”. As famílias Queiroz e Paes foram vizinhas naquele bairro.

No depoimento, Luiza disse que se envolveu com essas práticas aos 19 anos, enquanto ainda cursava a faculdade de Estatística. Pediu um estágio a Queiroz por meio do pai, e ele a inseriu no esquema da Alerj. Ela alegou que só ficou sabendo que não trabalharia de fato – e que precisaria repassar os valores – no dia da nomeação.

Em junho deste ano, no pedido de medidas cautelares que resultou na prisão preventiva de Queiroz, o MP elencou uma série de provas que já mostravam que Luiza não comparecia à Assembleia para trabalhar. Ao rastrear os passos dela por meio do celular, os investigadores apontaram que a ex-assessora só foi ao Palácio Tiradentes em três ocasiões – e apenas para assinar o ponto. Dentro do período ao qual os investigadores tiveram acesso aos dados, entre 2014 e 2017, ela esteve nomeada por 792 dias.

Por meio das mensagens entre Luiza e o pai, a investigação também mostrou que ela combinou com o servidor da Alerj Matheus Azeredo Coutinho, que trabalhava no Departamento de Pessoal, de assinar uma espécie de ponto retroativo no dia 24 de janeiro de 2019. Com orientações de Queiroz, o contato se deu por intermédio do ex-advogado de Flávio Luis Gustavo Botto Maia e pela assessora Alessandra Esteves Marins, funcionária dele até hoje no escritório de apoio que mantém no Rio.

Procurado, o advogado de Luiza, Caio Padilha, disse que não pode confirmar nem comentar o depoimento, que está sob sigilo. Também informou que ainda não foi notificado sobre a denúncia.

“A defesa de Luiza Souza Paes não foi notificada do oferecimento de denúncia e ainda desconhece seu conteúdo. Ainda nesse momento inaugural do processo sobre o qual recai sigilo, não é possível tecer qualquer tipo de comentário extra-autos sobre as fases da investigação”, afirma a nota divulgada pela defesa.

Flávio ataca MP

Nesta quarta (4), o senador se pronunciou sobre a denúncia. Na visão de Flávio, o MP cometeu uma “série de erros bizarros” na ação.

“Na?o cometi nenhuma ilegalidade. O MP do Rio comete se?rie de erros bizarros em sua ‘denu?ncia’, a?s ve?speras das eleic?o?es municipais”, disse Flávio, nas redes sociais. Na visão do senador, o MP cometeu quebra de sigilos de forma ilegal, distorção de informações fiscais, dentre outras ações supostamente ilícitas.

O senador concluiu afirmando que a Justiça do Rio não deve aceitar a denúncia do Ministério Público. “Acredito que a denu?ncia sequer sera? aceita pelo O?rga?o Especial do Tribunal de Justic?a do Rio de Janeiro.”

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado