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Política & Poder

“A realidade vai chegando aos poucos”

O presidente e alguns dos seus ministros convocaram jornalistas para anunciar medidas emergenciais para o combate ao coronavírus

Rudolfo Lago

18/03/2020 16h53

(Brasília – DF, 18/03/2020) Coletiva à Imprensa do Presidente da República, Jair Bolsonaro e Ministros de Estado. Carolina Antunes


O presidente Jair Bolsonaro iniciou a entrevista coletiva no Palácio do Planalto anunciando que mais um de seus ministros, Bento Albuquerque, das Minas e Energia, também está com o novo coronavírus. Com ele, já são 17 os integrantes da comitiva presidencial que viajou há duas semanas aos Estados Unidos que testaram positivo para o covid-19. Na manhã de ontem, soube-se também que está contaminado o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno.

Diante do novo quadro, o presidente e alguns dos seus ministros, incluindo Paulo Guedes, da Economia, e Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, convocaram jornalistas para anunciar diversas medidas emergenciais para o combate à doença que se alastra pelo planeta e que já matou, segundo as últimas notícias, três pessoas no Brasil. Todos compareceram à entrevista usando máscaras cirúrgicas. No domingo, o mesmo presidente agora de máscara saiu às ruas para confraternizar com manifestantes, contrariando todas as recomendações sanitárias. Caiu a ficha do capitão.

“A realidade vai chegando aos poucos”, disse o presidente, ao responder a uma pergunta. Durante toda a entrevista, Jair Bolsonaro procurou justificar sua atitude do domingo, que vem sendo condenada mesmo por alguns de seus apoiadores. Segundo ele, quando as primeiras notícias sobre o novo coronavírus surgiram na China, ninguém no resto do mundo ficou preocupado com isso. “No Brasil, existe uma cultura de não se antecipar aos problemas”, disse ele.

Segundo Bolsonaro, o nível das preocupações foi aumentando conforme a doença foi se alastrando. Mas as medidas, segundo o presidente, foram sendo tomadas, e o governo sempre esteve atento ao problema, desde a operação que retirou da China brasileiros que ali viviam no mês passado. “O governo se preparou para quando o vírus chegasse. E ele chegaria”, afirmou.

O presidente disse que, além das manifestações do dia 15 de março, houve outros episódios de aglomeração de pessoas. Ele citou como exemplo a festa de inauguração da rede CNN de televisão, certamente para lembrar, indiretamente, que a ela compareceram os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

“No dia 15, vim para este prédio. Estava ao lado do povo, sabendo dos riscos que corria”, afirmou. Para Bolsonaro, era uma demonstração de uma obrigação sua, estar “ao lado do povo”. Comparou a atitude com a de jornalistas que correm riscos, por exemplo, cobrindo uma guerra.

Durante toda a entrevista, o presidente adotou bastante o tom de gravidade que vinha dando à pandemia. Embora, em determinados momentos, tenha voltado a ponderar que a situação não pode descambar para a histeria. “O momento é de gravidade. É de grande preocupação. Mas não é de pânico”, afirmou.

As medidas anunciadas buscam injetar recursos na economia, especialmente para atender à população de baixa renda. Profissionais autônomos terão uma ajuda de R$ 200. Haverá R$ 15 bilhões, segundo Paulo Guedes, para atender às “populações desassistidas”. Para isso, o governo espera que o Congresso aprove o pedido de situação de calamidade pública. Isso permitirá que o governo abra mão dos limites de responsabilidade fiscal para gastar mais diante da situação. Antes, o governo pretendia fazer um contingenciamento, para atender aos limites de responsabilidade fiscal, de R$ 40 bilhões. Caso a calamidade pública não seja aprovada, esse contingenciamento terá de ser feito.

O ambiente e o gestual da entrevista pareceram acompanhar as idas e vindas dos últimos dias no discurso e nas atitudes do presidente com relação ao novo coronavírus. Por recomendação de Mandetta, os ministros ficaram a uma distância de mais de três metros dos jornalistas. Entre eles, porém, não se respeitou a orientação de distância de pelo menos um metro e meio entre um e outro. As máscaras eram retiradas no momento em que cada ministro falava e recolocadas depois. Segundo Mandetta, as máscaras eram necessárias porque eles estiveram nos últimos dias com pessoas contaminadas, como Augusto Heleno e Bento Albuquerque. Mas, pela distância adotada, a retirada da máscara na hora de falar não implicava risco aos jornalistas.

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