Menu
Saúde

Pandemia afetou tratamento de 24% de pacientes com câncer em 2021

O estudo, realizado pelo Movimento Todos Juntos Contra o Câncer em parceria com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), ouviu 774 pessoas em 2020

FolhaPress

24/09/2021 18h22

Paulo Ricardo Martins
DUQUE DE CAXIAS, RJ

Um em cada quatro pacientes com câncer disseram que a pandemia afetou, de alguma forma, o tratamento contra a doença em 2021. Embora a situação esteja melhor que a do ano passado –quando 33% disseram ter sofrido mudanças no tratamento, ante 24% hoje– especialistas afirmam que a queda nos investimentos públicos e a falta de medidas estruturadas pelas autoridades podem agravar a situação.

O estudo, realizado pelo Movimento Todos Juntos Contra o Câncer em parceria com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), ouviu 774 pessoas em 2020. Neste ano, até o momento, foram entrevistadas 150. O resultado foi apresentado na quarta-feira (22) durante o 8º Congresso Todos Juntos Contra o Câncer.

Para os participantes do painel A Pandemia não Acabou: Impactos e Desafios da era Covid-19, o vírus trouxe uma série de complicações para pacientes de câncer do sistema de saúde brasileiro, mas o cenário piorou devido às dificuldades que já existiam antes da chegada da crise sanitário.

José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde e pesquisador associado ao Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz, chama atenção para as questões estruturais e conjunturais que o Brasil está vivendo. Para ele, a longa duração da pandemia, associada à falta de investimentos, cria um cenário que prejudica ainda mais os pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde)–que são 88% dos que responderam a pesquisa.

A emenda 95, também conhecida como Teto dos Gastos Públicos, foi citada pelo sanitarista como uma das agravantes da crise financeira da saúde. Promulgada em 2016, ela congela investimentos do Governo Federal por 20 anos. Temporão afirma que estudos e pesquisas já apontam onde estão os problemas, e que agora é preciso ações mais concretas por parte do governo. “Nós já temos um diagnóstico pronto. Precisaríamos de uma série de medidas de políticas públicas na atenção ao câncer que pudessem fazer frente a esses desafios. É uma situação muito grave que demandaria uma postura do Ministério da Saúde diferente da de hoje”, diz.

O ex-ministro também afirmou ser preciso entender qual é a dificuldade do SUS em relação ao atendimento remoto. Dos profissionais de saúde entrevistados pelo levantamento, 68% disseram que a rede pública não oferece tele atendimento para os usuários, número bem mais alto que os 27% das operadoras privadas.

Embora a saúde suplementar esteja se saindo melhor no tratamento à distância, o levantamento mostrou que o atendimento domiciliar é baixo para ambas as redes: 27% do SUS, contra 32% da saúde privada. Para Alexandre Ferreira Oliveira, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), isso mostra a gravidade do atual cenário. “Nem aquela que era considerada a parte rica do tratamento de saúde, que é a saúde suplementar, está conseguindo acompanhar”, diz.

O médico afirma que o coronavírus aflorou problemas que já eram enfrentados pela oncologia: falta de diagnóstico precoce e tratamento adequado. Países desenvolvidos, segundo ele, estimularam hospitais a não interromper o acompanhamento dos diagnosticados e criaram instituições que tratam exclusivamente doenças graves que não sejam Covid-19.

Outro problema apontado pelo estudo do TJCC e da Fiocruz é o alto nível de cancelamento das cirurgias, que no SUS chega a atingir 25% –um crescimento de 19 pontos percntuais em relação a 2020. O superintendente-geral do Hospital de Câncer de Pernambuco, Helio Fonseca Jr., afirma que viu o volume de cirurgias caírem em 50% nos piores meses da pandemia. Embora a vacinação tenha aumentado a procura pela instituição, o médico diz que, além da crise assistencial, o hospital enfrentou problemas financeiros decorrentes desse período. Hoje, Fonseca Jr. vê com preocupação a chegada de casos de câncer em estágios mais avançados em pessoas que não puderam se tratar durante os últimos dois anos.

Para Nina Melo, coordenadora de pesquisa da Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) e do Observatório de Oncologia do TJCC, o que deve ser feito agora é um diálogo com o Ministério da Saúde, no qual possa ser esclarecida a atual situação dos pacientes com câncer. A partir disso, as autoridades precisam dizer quais ações estão sendo feitas. Ela diz que é importante dar atenção à crise sanitária que o país está vivendo por causa da Covid, mas outros problemas não podem ser deixados de lado. “Não estão conseguindo levar e dar voz a essa dificuldade.”

8º Congresso TJCC (Todos Juntos Contra o Câncer)
Quando de 20 e 24 de setembro
Onde assistir no site congresso.tjcc.com.br

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado