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Saúde

Maguila controla doença degenerativa com canabidiol e usa redes sociais para manter imagem viva

Quem venceria um hipotético duelo entre George Foreman e Daniel Falconi? E se o confronto fosse entre o argentino e Mike Tyson? Imaginar como teriam sido essas lutas é um passatempo para Maguila

FolhaPress

20/09/2022 6h44

Foto: Lars Hagberg/AFP

Luciano Trindade
São Paulo, SP

Aos 64 anos, José Adilson Rodrigues dos Santos, o Maguila, diverte-se ao idealizar embates entre grandes nomes da história do boxe mundial.

“Foreman e Falconi, quem ganharia? O Foreman”, crava o sergipano em um dos vídeos divulgados no perfil oficial dele no Instagram. E Falconi e Tyson? “Tyson ganha”, diz para os seus mais de 70 mil seguidores no Instagram e no TikTok.

Enquanto se deixa levar pela imaginação, o mais bem-sucedido peso-pesado do boxe brasileiro exercita a memória com uma atividade importante para o tratamento da Encefalopatia Traumática Crônica, também conhecida como demência pugilística, contra a qual ele luta há anos.

Nas imagens, é possível notar que a dicção dele não é mais a mesma dos tempos de atleta, assim como a velocidade de raciocínio. Mas o bom humor continua presente. O sorriso fácil aparece quando ele passa a soletrar palavras. “Pindamonhangaba? Essa não tem como soletrar. P-i-pin-damonhangaba (risos).”

Nem sempre, no entanto, Maguila conseguiu conviver bem com a doença causada por traumas no cérebro, sobretudo pela dificuldade de diagnosticá-la. Em 2010, ele recebeu um diagnóstico inicial de Alzheimer, fato que não só atrapalhou o início de seu tratamento como a indicação dos melhores remédios.

“Começou com uma depressão”, lembra à reportagem Irani Pinheiro, esposa e advogada de Maguila. “Depois que diagnosticaram com Alzheimer, era muita medicação. E essas medicações psiquiátricas são complicadas. Então, a gente teve uma fase bem sofrida.”

Há quatro anos, Irani optou por dar continuidade ao tratamento do marido no Centro Terapêutico Anjos de Deus, clínica em Itu, no interior de São Paulo, onde o ex-pugilista está internado. “A gente tentou ficar com ele em casa, mas não conseguimos porque ele não obedeceu [na hora da] medicação”, conta.

Além disso, a advogada notou que o marido estava mais agitado, com menos apetite e “com um olhar de infinito, perdido, sabe? A gente conversava com ele e ele parecia meio longe da realidade”.

Na clínica, junto aos cuidados especializados, o ex-pugilista teve incluído em seu tratamento o canabidiol. Diariamente, ele consome gotas do CBD (canabidiol) isolado, sem moléculas de THC (tetrahidrocanabinol).

A abordagem fitoterápica foi sugerida pelo neurologista Renato Anghinah, médico de Maguila há mais de oito anos e especialista em concussões cerebrais. Segundo o profissional, a cannabis tem indicação plena para distúrbios como autismo, epilepsia, ansiedade, alterações do sono, comportamento e agitação.

“O Maguila está muito ligado, coisa que antes ele não estava, e essa mudança vem a partir do canabidiol. Ele recuperou o apetite, que estava inapetente. E, sobretudo, está mais tranquilo”, diz. Dificilmente ele tem algum episódio de agressividade atualmente, diz o médico. “Até o sono dele melhorou.”

Irani afirma que é testemunha dessa mudança. Ela conta que mantém contato diário com o marido por telefone e chamadas de vídeo, além das visitas frequentes que faz a ele, assim como alguns familiares.

A mulher do ex-pugilista conta, também, que já tinha ouvido falar dos possíveis benefícios de se fazer um tratamento com cannabis e que teve a certeza que poderia beneficiar seu marido após a indicação feita por Anghinah. “Quando isso vem de um profissional que você tem confiança, você sabe que é o melhor para o paciente.”

Fazer uso da medicina canabinóide não significa usufruir das características psicoativas da planta. Desta forma, não significa que o tratamento é como “fumar maconha”.

“Na maioria dos estados americanos, você compra esses produtos pelo correio, sem receita porque são considerados um suplemento alimentar”, afirma Renato Anghinah.

De acordo com o profissional, muitos atletas ao redor do mundo passaram a usar a cannabis para quadros de dor e processos inflamatórios. Ele enfatiza, contudo, que esses atletas fazem o uso justamente sem o THC, que é proibido nos esportes que têm controle antidoping.

“O mais interessante é que o corticoide passou a ser considerado uma substância proibida pela Wada [a World Anti-Doping Agency, Agência Mundial Antidoping]. Então, a Olimpíada de Tóquio foi a primeira que tinha a proibição absoluta do corticoide e a liberação plena do canabidiol isolado”, cita.

Anghinah, contudo, reforça que Maguila tem uma doença degenerativa e, portanto, não tem cura. No caso dele, o tratamento com canabidiol tem o objetivo de oferecer uma melhor qualidade de vida. Até por isso, o médico não vislumbra que o ex-lutador possa um dia voltar a viver fora da clínica.

“É pouco provável que ele deixe a clínica e siga o tratamento em sua casa. Isso não é o que está no script da evolução da doença.”

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