Um grupo de cientistas franceses apresentou, na semana passada, aquilo que deve ser um avanço nos estudos da reconsolidação da memória, que é a “regravação” das lembranças com a neutralização de episódios traumáticos, caso, por exemplo, da violência sofrida na infância.Para chegar ao objetivo, os pesquisadores introduziram uma memória eletrônica artificial em ratos. O dispositivo continha sensações agradáveis para o roedor, vividas dentro do laboratório. As boas memórias eram ativadas, justamente, quando os episódios traumáticos ao rato apareciam durante o sono.
O procedimento de substituição era empregado enquanto o roedor dormia, pois é no decorrer do sono que as memórias, entre elas as ruins, são fixadas diariamente.
Testes em humanos
Os especialistas do Centre National de la Recherche Scientifique, localizado em Paris, acreditam que a técnica também pode ser aplicada a humanos. A ideia seria escanear imagens agradáveis ao sonho da pessoa e ativá-las nos instantes de episódios ruins da memória enquanto ela dorme. Isso, segundo os estudiosos, pode neutralizar os efeitos negativos dos traumas.
O tratamento poderia ser feito, por exemplo, com soldados que estiveram em guerras. Enquanto, durante o sono, eles estivessem assistindo a cenas de horror de uma batalha, boas memórias – as valências positivas – poderiam ser induzidas no cérebro dos combatentes, amenizando os pensamentos ruins.
Os cientistas reconhecem, contudo, que mais estudos sobre o assunto são necessários. Além disso, a proposta esbarra em questões éticas: é aceitável invadir a memória das pessoas? Até que ponto?