Mais do que um desconforto estético, o desalinhamento dos olhos, denominado estrabismo, provoca uma série de problemas na visão. A doença causa a perda da visão tridimensional e das noções de profundidade, reduz a angulação total do campo de visão natural, pode causar visão dupla e impede que a maioria dos portadores consiga enxergar imagens em cinemas e televisores 3D. Além disso, pode causar ambliopia nas crianças de pouca idade, podendo levar à cegueira.
“A visão normal do ser humano é binocular. Isso representa a capacidade que temos para integrar duas imagens numa única. Para isso, o cérebro capta as imagens enviadas pelos dois olhos, une as informações e envia uma resposta única em três dimensões”, explica o oftalmologista Hilton Medeiros.
O estrabismo ocorre quando os músculos oculares não trabalham harmoniosamente. São seis pares de músculos extraoculares, inseridos na face externa de cada globo ocular. O desalinhamento dos olhos (ou de um deles) pode ser constante ou intermitente. Ele acarreta o envio de duas imagens para o cérebro (cada olho capta uma imagem diferente).
Segundo Hilton Medeiros, quando as imagens não chegam ao cérebro da maneira correta, a principal consequência é a perda de noções de profundidade e também a redução na angulação total do campo de visão natural (que para um ser humano com visão perfeita, chega a um arco de 200 graus). “A falta de noção de distância e de profundidade dos objetos contribui para que a pessoa tropece pela casa ou pelas ruas”, afirma o médico, da Clínica de Olhos João Eugenio.
Embora o estrabismo seja uma doença mais comum em crianças (acomete cerca de 4%), também pode se manifestar na vida adulta. Nos adultos, ao invés da perda da visão tridimensional, ocorre a visão dupla (diplopia), pois seus cérebros já aprenderam a usar a imagem recebida pelos dois olhos.
O estrabismo na infância, se não for tratado precocemente, pode provocar uma baixa visual ou o aparecimento da ambliopia. Também conhecida como olho preguiçoso, a ambliopia faz com que o cérebro reconheça apenas a imagem do olho de melhor visão e ignore a imagem formada pelo olho amblíope, que apresenta o estrabismo.
A doença, que acomete cerca de 50% das crianças estrábicas, é tratada com a oclusão do olho de melhor visão com a finalidade de melhorar a visão do olho desviado. O tratamento nos primeiros anos de vida tem bons resultados. Entretanto, se o tratamento for iniciado mais tarde, a ambliopia e a baixa visual poderão ser definitivas, podendo levar à cegueira.
Outra dificuldade encontrada pelo estrábico é enxergar com os óculos 3D. As imagens tridimensionais que são transmitidas em cinemas ou televisores 3D funcionam da seguinte maneira: duas imagens são geradas simultaneamente e enviadas para os óculos, que as separam para que cada olho enxergue apenas uma delas. No cérebro, ocorre o processo da fusão binocular, momento em que as imagens são unidas e geram a sensação tridimensional. Quando há o estrabismo, a fusão binocular é prejudicada e o processo não ocorre corretamente.
O tratamento do estrabismo vai depender do tipo diagnosticado. Após um exame oftalmológico completo, incluindo também o de fundo de olho, o oftalmologista indicará o tratamento clínico, ótico ou cirúrgico do estrabismo.