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Saúde

Especialistas ainda recomendam máscaras; nas ruas, população se divide

Para ele, mesmo com a cobertura vacinal maior, é importante que as pessoas usem a proteção , por exemplo, no transporte coletivo

Redação Jornal de Brasília

19/04/2022 12h47

Foto: Governo de SC

Usar ou não a máscara? Os recados vindos do poder público indicam que o temor em relação à covid-19 foi reduzido. No domingo (17 de abril), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, retirou o país da emergência sanitária. No Distrito Federal, o governador Ibaneis Rocha tornou voluntário o uso do equipamento no mês passado. A infectologista Margareth Dalcomo,em entrevista à Agência Ceub considerou prematura as decisões.

Cobertura vacinal

O médico infectologista Marco Antonio Alves Cunha, também acha cedo para desobrigar o uso de máscara em ambientes interiores. “Uma das implicações é a possibilidade de transmissão pessoa a pessoa, contribuindo para o incremento do número de casos. Outra implicação é facilitar a circulação viral, especialmente entre grupos de pessoas com baixa cobertura vacinal”.

Para ele, mesmo com a cobertura vacinal maior, é importante que as pessoas usem, por exemplo, no transporte coletivo. “Abandonar o uso de máscaras em espaços abertos é coerente com o momento epidemiológico atual no Distrito Federal , mas pode ser que algumas pessoas ainda não se sintam seguras para isso, de modo que o uso de máscara mesmo em ambientes abertos deve ser respeitado por todos”.

Ele explica que a eficácia da máscara é menor quando no ambiente houver aerossóis formados a partir das gotículas emitidas quando falamos, tossimos ou espirramos. “Se houver pessoas sem máscara, pode ser que no ambiente haja aerossóis. Isso é muito pior em espaços sem ventilação, tais como elevadores, salas pequenas sem janelas, locais de reunião, salas com sistema artificial de ventilação (ar condicionado), entre outras situações que devem ser avaliadas caso a caso”.

O médico salienta que nem todos os modelos de máscara impedem que seja inspirada uma partícula na forma de aerossol, o que aumenta o risco para quem optar por continuar com o uso de máscaras. “A prevenção continua uma grande responsabilidade individual para a proteção da coletividade”.

“Por mais um tempo”

O infectologista Julival Ribeiro, coordenador do núcleo de controle de infecção do Hospital de Base, afirma que o uso de máscaras é fundamental e que a sociedade deve mantê-las por mais um tempo. Para o especialista, as pessoas estão tomando decisões que devem ser revistas e as pessoas podem estar com uma percepção errada sobre o atual momento da pandemia.

“Uma coisa importante que temos que lembrar é que, em lugares fechados, com pouca ventilação, e com muitas pessoas, é um risco muito grande de alguém estar infectado com a covid e transmitir para outras pessoas”.

Dessa maneira, a visão dele é que a situação de saúde pública ainda está precoce para liberarem os protocolos da pandemia. “A gente tem que lembrar que metrô, unidades de saúde, ônibus, são locais, o que aumenta o risco de você pegar a covid”.

Vacinação

O médico ainda diz que o convívio com a covid-19 será igual ao do vírus da Influenza, ou seja, será endêmica e sazonal. “Não se sabe ainda quanto tempo ela se tornando endêmica vai ser necessário de se fazer a vacina, se será semestral ou anual como é o caso da gripe”, afirma o médico.

O infectologista explica que a vacinação é a melhor maneira de prevenir casos graves, hospitalizações e morte, além disso, mesmo aqueles vacinados podem ser infectados pela Covid-19. “ A vacinação é a melhor estratégia para evitar casos de covid e que surjam novas mutações”.

Comorbidades

Além disso, ele se preocupa com pessoas que estão no grupo de comorbidades, para ele essas pessoas não devem tirar as máscaras de jeito nenhum. “Temos milhões de pessoas imunossuprimidas no Brasil, pessoas com câncer em tratamento da quimioterapia, pessoas transplantadas usando imunossupressores, pessoas idosas, essas pessoas infelizmente a resposta de proteção de vacina, mesmo após a terceira dose, vai caindo com o tempo”

“Temos que olhar o que está acontecendo no mundo lá fora, por exemplo na China surgiram centenas de casos que decretou lockdown em algumas cidades”. Na ótica do infectologista, o país não adquiriu o lockdown em peso para o controle da epidemia.

Julival Ribeiro também deu o exemplo dos Estados Unidos. Para ele, aquele país tem tomado protocolos melhores está estimulando que prédios e também escolas instalem ar com alta filtração.

Mas, nas ruas, as pessoas ainda estão divididas…

O enfermeiro Neilton Nogueira de Sousa, de 41 anos, que atua na rede pública, é favorável à liberação do uso das máscaras. “A vacina chegou para trazer mais segurança, assim foi com várias outras doenças. Temos que voltar a viver a vida como ela é. Claro que tivemos várias perdas com essa doença, inclusive perdi o meu pai há um ano”.

No hospital em que ele trabalha, as equipes foram orientadas a permanecer usando máscaras. “Estamos falando aqui de um ambiente hospitalar, trata-se de um local onde a doença deverá ser um dos últimos locais a ser combatida por completo, nesse início ainda compreendo que o uso das máscaras se faz necessário”.

O aposentado Margarido Corrêa da Silva, de 62 anos, acha cedo para deixar de usar. “A pandemia ainda não acabou. Mesmo que os números estejam reduzidos acho que ainda tenho a possibilidade de ser contaminado”. Ele diz que sempre usou máscara apropriada e fez o constante uso do álcool em gel. “Eu passei a usar isso como rotina. Até mesmo pra sair no portão, antes de abrir eu já colocava a máscara”.

Idosos

A aposentada Rita Tereza, de 72 anos, informou-se sobre a pandemia por telejornais e sites noticiosos. Em maio de 2020, a ex-funcionária do STJ foi contaminada pelo vírus COVID-19 e passou 10 dias internada no hospital. Como consequência, ela desenvolveu formigamento no corpo, falta de ar, palpitação e ansiedade. Ela ficou receosa inicialmente com as vacinas, uma vez que foram produzidas “em um curto período de tempo”.

“Quando falaram que você poderia se proteger com a máscara, já passei a usar, sem ninguém me obrigar. Não precisava de um decreto. Fiquei esclarecida de que era uma pandemia, não era uma coisa só no Brasil. Se o mundo inteiro estava usando, por que eu ia me recusar? E vou continuar (a usar) até achar que seja necessário”.

Já a doméstica Zildene de Almeida, 58 anos, teve como principais fontes de informação a televisão e as notícias que a sua empregadora lhe passava. Zildene se contaminou em 2021, apresentando sintomas leves, como perda do paladar e 1 dia de febre baixa. Contudo, teve as seguintes sequelas: congestão nasal, prejuízo ao olfato, cansaço e formigamento do lado esquerdo. Depois que teve covid-19, foi convencida por um sobrinho a tomar ivermectina por um ano, como forma de “prevenção”. Atualmente, ela continua a usar máscara, como sempre fez antes do decreto, por temer pegar novamente o vírus.

Como se informar…

O aposentado Margarido Corrêa, de 62 anos, se informou sobre a doença de diferentes formas. “No início, acho que estava todo mundo assustado e isso me fez buscar todos os canais possíveis de informação. Principalmente na televisão, nestes canais mais sérios de notícias”.

Ele diz que fez parte da rotina se preocupar com quem estava gripado perto dele. “Até, em casa mesmo, quando algo parecia sintoma, eu já desconfiava e me protegia um pouco mais. Então é uma soma de coisas. Talvez o medo de pegar também tenha me forçado a querer me cuidar um pouco mais, já que tenho mais de 60 anos.”

Margarido entende que não é um decreto que acaba com a pandemia. “Claro que têm estudos da secretaria de saúde e dos órgãos responsáveis, mas eu daria como conselho que continue verificando os números de contágio e de mortes pra ver se vale a pena mesmo não usar máscara. Até porque ela não só evita a covid-19, mas também outras doenças que são transmitidas pelo ar.”

Contra fake news

O produtor de eventos Thiago Cirillo, de 28 anos, explica que tem se informado sobre a evolução da doença debatendo com as pessoas na internet. “Fica difícil acreditar em todas as informações trazidas à tona, por terem pouco tempo de estudo e pesquisa, com muitas fake news e informações incoerentes, por isso tenho um grande desinteresse no assunto” Ele diz que continuará usando a máscara em ambientes fechados.

O estudante de saúde coletiva Vinícius Oliveira, de 19 anos, afirma que foi influenciado pelo temor dentro de casa. “Minha família contribuiu para que eu formasse uma opinião porque eles mostravam estar com medo então acabei ficando também, bastante preocupado”.

Alexya Lemos, Ana Clara Neves, Catharina Braga, Danyelle Silva, Gabriel Botelho, Giovanna dos Santos, Henrique Fregonasse, Lara Vitória, Luana Nogueira, Isabele Azenha, Luiza Guido, Maria Clara Britto, Maria Eduarda Fava, Maria Luiza Castro, Marina Morôni, Milena Dias, Monique Del Rosso e Nathália Maciel
(Jornal de Brasília / Agência de Notícias CEUB)

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