Brasília, 18 – O vice-líder do governo Lula no Senado, Weverton Rocha (PDT-MA), foi alvo de buscas, ontem, na quinta fase da Operação Sem Desconto – investigação sobre desvios no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) por meio de descontos indevidos de aposentados e pensionistas. A operação da Polícia Federal também prendeu o número 2 do Ministério da Previdência Social, Adroaldo Portal. Ele foi exonerado da pasta.
Antes de ocupar postos no Ministério da Previdência, Adroaldo trabalhou no gabinete de Weverton e ocupou cargos no Congresso ligados a políticos do PDT. Adroaldo é apontado pela PF como um dos intermediários que recebiam valores oriundos do esquema de descontos associativos ilegais em nome de Weverton.
Em nota, Weverton disse que “recebeu com surpresa” as buscas em sua residência. Não houve diligências no Congresso. O senador afirmou que está “à disposição para esclarecer quaisquer dúvidas assim que tiver acesso integral à decisão”.
O Ministério da Previdência afirmou, também em nota, que, junto com o INSS, continuará “contribuindo ativamente com as investigações e atuando para recuperar os recursos desviados”. Em entrevista, pela manhã, o ministro Wolney Queiroz disse que não tinha informações sobre o envolvimento de Adroaldo no esquema de fraudes do INSS.
As defesas de Adroaldo e dos outros alvos da operação citados não foram localizadas.
‘SÓCIO OCULTO’
A PF chegou a pedir a prisão de Weverton, mas o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça – que autorizou a operação de ontem – negou.
Além de vice-líder do governo Lula no Senado, ele é o relator da indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal (STF) e da proposta que revê a Lei do Impeachment.
O senador é suspeito de ter realizado negócios com investigados pelos desvios em aposentadorias e pensões e de ter atuado como “sócio oculto” no esquema. Ele teria recebido, por meio de intermediários, recursos amealhados pela “organização criminosa”
“O senador Weverton teria, segundo a peça de representação da Polícia Federal, atuado como beneficiário final (‘sócio oculto’) de operações financeiras estruturadas pela organização criminosa, recebendo recursos ou benefícios por meio de interpostas pessoas, alguns seus assessores parlamentares”, diz a decisão que autorizou operação.
Ainda segundo a PF, Weverton integraria o núcleo político do esquema, que viabilizaria a continuidade dos ilícitos. De acordo com as informações policiais mencionadas na decisão de Mendonça, quatro pessoas ligadas ao senador são suspeitas de receber valores ilícitos em nome do parlamentar – um deles, seu ex-assessor parlamentar Gustavo Gaspar.
Conforme os investigadores, Gaspar tinha uma empresa, a GM Gestão, que realizava parcerias com firmas do “Careca do INSS”. Planilhas encontradas sob posse do “Careca” indicaram o pagamento de R$ 100 mil em favor de “gasparzinho”.
Preso ontem, Adroaldo é outro suspeito de atuar em nome de Weverton. Planilhas indicam, segundo a PF, pagamento de R$ 50 mil para “Adro”, codinome atribuído ao agora ex-número 2 do Ministério da Previdência. Adroaldo foi secretário do Regime Geral de Previdência Social e se tornou secretário executivo da pasta após a saída de Carlos Lupi (PDT) do comando do ministério, em maio.
O filho de Adroaldo, Eduardo Portal, trabalha no gabinete de Weverton e também é investigado. Além dos três, Vanessa Barramacher Tocantins, que ocupa cargo de chefia de gabinete do Ministério da Previdência e é ex-assessora do senador, é suspeita de intermediar valores do esquema para o parlamentar do PDT.
EM ESPÉCIE
De acordo com os investigadores, Adroaldo recebeu R$ 250 mil em espécie, entre outubro de 2023 e janeiro do ano passado. Parte dos depósitos foi efetuada por seu filho. No total, foram três aportes. O primeiro, de R$ 99,9 mil, foi feito por Eduardo. Depois, em novembro de 2023, o próprio Adroaldo fez um de R$ 100 mil na própria conta. O último partiu novamente do filho, que depositou R$ 50 mil.
Outro alvo de busca e apreensão ontem foi a empresária Roberta Luchsinger. Amiga de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho mais velho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ela é investigada por, segundo a PF, ter recebido pagamentos de Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”.
FILHOS
O “Careca do INSS” é um dos principais investigados da Operação Sem Desconto e está preso desde setembro. Ele é suspeito de usar uma rede de empresas e offshores no Brasil e no exterior para operar o esquema de fraudes no INSS. Ontem, seu filho mais velho e sócio, Romeu Antunes, foi preso sob suspeita de movimentar as contas de uma das firmas do pai envolvida nos desvios.
Outro filho de investigado na Sem Desconto, o advogado Eric Fidelis foi preso e teve endereços vasculhados, ontem. Seu pai, André Fidelis, é ex-diretor do INSS e foi detido em novembro. A PF suspeita que o escritório de Eric intermediou propinas pagas pelo “Careca do INSS”. A banca movimentou cerca de R$ 12 milhões em menos de dois anos, segundo dados da CPI do INSS.
Ao todo, foram autorizados 16 mandados de prisão preventiva e 52 de busca e apreensão, em São Paulo, Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Minas Gerais e Maranhão, além do Distrito Federal. Os crimes sob investigação são inserção de dados falsos em sistemas oficiais, organização criminosa, estelionato previdenciário e dilapidação patrimonial.
Como mostrou o Estadão, Weverton já havia entrado na mira da CPI do INSS por causa de suspeitas relacionadas à suposta compra de um jet ski por um secretário municipal do interior do Maranhão. O gestor recebeu R$ 100 mil do “Careca do INSS” e o valor estaria relacionado ao veículo. Além disso, a reportagem mostrou que um contador de Brasília é, ao mesmo tempo, funcionário de uma agropecuária do parlamentar, no Maranhão, e sócio da firma responsável pela contabilidade das empresas do “Careca” na capital federal.
REUNIÃO
O ministro Wolney Queiroz, e o agora ex-número 2 da pasta, Adroaldo Portal, fizeram uma reunião fora da agenda, na noite da última segunda-feira, com superintendentes regionais do INSS, sem a presença do presidente da autarquia.
O encontro foi registrado na agenda oficial do ministério depois que o Estadão pediu esclarecimentos sobre a omissão. Oficialmente, como informado em nota, a reunião serviu para tratar de “aprimoramento do atendimento aos beneficiários, com foco em melhorias nos sistemas utilizados nas agências da Previdência Social”.
O Estadão apurou com participantes da reunião, porém, que ela foi convocada pouco antes e teve como pano de fundo pressionar os superintendentes por apoio à mudança na presidência do INSS, hoje exercida pelo procurador federal Gilberto Waller Junior.
Após a publicação da reportagem, o ministério afirmou que “nunca houve esse tema na reunião” e negou que o tema tenha surgido. “Isso é uma desinformação”, registrou.
Estadão Conteúdo