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Política & Poder

Vice-líder do governo diz que Planalto falhou ao não conseguir maioria na CPI da Covid

“Não adianta ter maioria. Para quê? Fazer inquisição? Vamos ver os fatos. Eu estou de sangue doce”, disse o senador Jorginho Mello, vice-líder do governo no Congresso

Redação Jornal de Brasília

23/04/2021 15h01

Foto: Agência Brasil

O senador Jorginho Mello (PL-SC), vice-líder do governo no Congresso, afirmou que o Palácio do Planalto falhou na articulação política na CPI da Covid. Para Jorginho, os aliados poderiam ser maioria na comissão se o Executivo tivesse se esforçado. Mesmo assim, ele disse ser preciso aguardar os próximos capítulos da batalha para ver “no que dá isso”.

Ao ser questionado se o governo poderia ter se articulado melhor, o senador não hesitou na resposta. “Claro que sim”, devolveu ele, de pronto. “Mas talvez a preocupação não seja a de ter CPI do governo ou da oposição. Na CPI você tem de ser juiz, avaliar e responsabilizar quem quer que seja de forma desarmada. Não adianta ter maioria. Para quê? Fazer inquisição? Vamos ver os fatos. Eu estou de sangue doce.”

Jorginho é um dos quatro titulares governistas da CPI. Dos 11 senadores da comissão, sete se intitulam independentes ou de oposição. O governo tentou que o PSD do ministro das Comunicações, Fábio Faria, indicasse dois aliados para a CPI. O partido, porém, escolheu Omar Aziz (AM), que será o presidente da CPI, e Otto Alencar (BA), da chamada “ala independente” da sigla.

Como mostrou o Estadão, o Palácio do Planalto tenta ganhar tempo e adiar ao máximo os trabalhos da CPI após sua instalação, marcada para a próxima terça-feira, 27, com o objetivo de negociar cargos no primeiro escalão e atender à pressão de parlamentares para acomodar suas emendas no Orçamento. A negociação tem sido conduzida atualmente pelo ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos.

Há cinco deputados no comando de ministérios e nenhum senador. No início do ano houve pressão para que Davi Alcolumbre (DEM-AP) ou Nelsinho Trad (PSD-MS) assumissem o Ministério do Desenvolvimento Regional, mas as conversas não prosperaram. Aliados do governo no Senado avaliam que o Planalto desprestigia a Casa. Ainda que as pastas não estejam definidas, há nos partidos a expectativa de que dois senadores sejam escolhidos para vagas na Esplanada dos Ministérios.

Sem emoção. O vice-líder do governo admitiu não estar muito a par de como a CPI da Covid vai funcionar. “Não falei com ninguém. Já escolheram relator, vice-presidente, presidente. Já sabem quem vão chamar para dar depoimento. Não estou muito emocionado, não”, afirmou.

Um acordo entre a maior parte dos integrantes da comissão prevê que Omar Aziz (PSD-AM) seja o presidente; Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o vice, e Renan Calheiros (MDB-AL) atue como relator. O plano de trabalho deverá ser definido na quarta-feira, 28.

Aliados do presidente Jair Bolsonaro ainda fazem pressão nas redes sociais para impedir Renan de assumir esse posto porque, além de ser crítico do governo, ele apoia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nas plataformas digitais, bolsonaristas batem na tecla de que o senador não pode integrar a CPI por ser pai do governador de Alagoas, Renan Filho (MDB). A CPI vai investigar o destino do dinheiro repassado pelo governo federal a municípios e Estados, entre os quais Alagoas, para o combate à pandemia de covid-19.

O senador Jader Barbalho (MDB-PA) também está em situação semelhante à de Renan. Jader é suplente da CPI e pai do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB). Jorginho é contra a participação dos dois colegas na comissão: “Quem tem filho governador fica difícil estar (na CPI), sendo juiz. A própria legislação proíbe isso”.

Responsável pela articulação do Planalto com o Congresso, a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, disse na terça-feira, 20, que a CPI da Covid não tem sido o foco da sua pasta. “(Estamos) fechando a questão do Orçamento”, respondeu a ministra, quando indagada sobre as críticas. Nesta quinta-feira, 22, último dia do prazo legal, Bolsonaro sancionou o Orçamento deste ano, com alguns vetos, como combinado com o Congresso.

Irritado com o que chamou de “erros” do Palácio do Planalto, o senador Marcos Rogério (DEM-RO), vice-líder do governo e integrante da CPI, também criticou a articulação política de Bolsonaro. “O governo errou, deixou correr solto (a CPI). Agora, querem correr atrás do prejuízo. O Palácio não procurou a própria base para conversar”, reclamou Rogério, em entrevista à CNN Brasil, na noite de segunda-feira, 19.

A ministra da Secretaria de Governo disse ao Estadão que conversou com Marcos Rogério para explicar a ausência na articulação da CPI. “Liguei para vários senadores e deputados e deputadas, como faço todo dia. Encontrei o senador Marcos Rogério no plenário”, contou. Flávia garantiu que, com o Orçamento sancionado por Bolsonaro, a secretaria comandada por ela, “assim como todo o governo”, passará a atuar mais na CPI.

Estadão conteúdo

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