VICTORIA DAMASCENO
KUALA LAMPUR, MALÁSIA (FOLHAPRESS)
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deixou em aberta a possibilidade de que as penas contra o ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, sejam tema da reunião bilateral com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na tarde deste domingo (26) no horário local.
Questionado se essa era uma das condições para as negociações com o governo brasileiro, o americano disse que isso não era da conta dos jornalistas. “Eu gosto de Bolsonaro. Ele é um bom sujeito. Nós ficamos incomodados com as penas contra ele”, afirmou Trump em conversa com jornalistas americanos e brasileiros.
O americano também disse que é possível que exista redução de tarifas ainda hoje, uma vez que seu governo trabalha “muito rapidamente”.
As falas ocorreram em frente ao presidente Lula, que esperava para começar a reunião. O chanceler Mauro Vieira, também estava presente.
O brasileiro disse que tinha uma pauta infinita de temas para tratar com ele, e levou os tópicos impressos em papeis que também entregaria ao americano.
É esperado que eles conversem sobre outros temas, como a regulamentação das big techs, que é de interesse do governo dos EUA, e as sanções impostas a autoridades brasileiras, que Lula disse que estaria em sua agenda
A expectativa é que o presidente brasileiro mire principalmente na guerra comercial, enquanto sua contraparte deve ter como alvo o acesso ao mercado de etanol do Brasil e a regulamentação das big techs.
O encontro ocorre na tarde deste domingo (26) em Kuala Lumpur, na Malásia, onde participam como convidados da cúpula da Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático, em português).
Embora o encontro estivesse acertado há dias, a reunião permaneceu fora da agenda oficial da presidência para evitar que, caso ocorresse algum imprevisto, o governo brasileiro ficasse em posição sensível.
A apreensão foi semelhante à vivida pelo governo durante a organização da reunião. A preferência para que fosse em um país terceiro se deu devido ao temor de que Trump seria uma figura imprevisível, e que uma visita a Washington para discutir o problema poderia colocar Lula em uma situação inadequada.
O medo era de que o americano fizesse uma espécie de emboscada para o brasileiro, a exemplo do que fez com outros líderes europeus na Casa Branca.
O encontro também foi precedido por apreensão do governo devido a falas de Lula em seu giro pela Ásia. Quando passou por Jacarta, na Indonésia, o presidente tocou em temas sensíveis para os americanos, como a Venezuela, e criticou o protecionismo do país sem citar Trump nominalmente.
Em conversa com jornalistas, Lula disse que traficantes são “vítimas” de usuários de drogas, referindo-se aos ataques dos EUA a embarcações da Venezuela.
Em conversa com jornalistas logo após decolar, Trump afirmou que poderia diminuir as tarifas do Brasil “sob circunstâncias certas”. Já Marco Rubio, ao falar com a imprensa a bordo do Air Force One após a saída do Catar, disse que é melhor para o Brasil, a longo prazo, que o país seja parceiro comercial dos EUA, e não da China.
O secretário de Estado afirmou ainda que questões políticas podem estar ligadas ao possível acordo com o Brasil.
“Obviamente, temos alguns problemas com o Brasil, particularmente com a forma como eles têm tratado alguns de seus juízes, com o setor digital nos Estados Unidos, com os indivíduos localizados nos Estados Unidos, por meio de postagens nas redes sociais. Teremos que resolver isso também”, disse ele.
“Isso se tornou um problema em tudo isso. Mas o presidente vai explorar se há maneiras de resolver tudo isso, porque achamos que será benéfico fazê-lo. Vai levar algum tempo.”