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Política & Poder

Tarcísio enfrenta pressão de aliados de Lula e de bolsonaristas após crise sobre empresa ucraniana

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) se viu pressionado entre bolsonaristas e aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva

FolhaPress

28/04/2023 19h28

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Arthur Rodrigues e Carolina Linhares

São Paulo, SP

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) se viu pressionado entre bolsonaristas e aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) devido a uma crise causada pela divulgação de informações sobre uma suposta negociação do Governo de São Paulo com a empresa ucraniana Antonov.

O caso eclodiu após reportagem da CNN Brasil afirmar que a Antonov deixou de investir US$ 50 bilhões no Brasil devido a falas do presidente sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, o que foi apontado como fake news por petistas.

A CNN Brasil então publicou uma nota da Secretaria de Negócios Internacionais, comandada por Lucas Ferraz, na qual a pasta afirma ter recebido representantes da Antonov para tratar do tema.

A estatal ucraniana, porém, afirmou por meio de nota que não tem representantes no Brasil, o que levou ministros de Lula a acusarem o governo paulista de espalhar informação falsa para prejudicar o governo federal.

Nesta sexta (28), enquanto aliados de Lula cobravam até mesmo investigação do caso pelo Ministério Público, redes bolsonaristas buscavam refutar as críticas, com base em nova reportagem com um diretor da Antonov citando uma negociação preliminar com o governo.

Auxiliares de Tarcísio se dividiram em relação ao episódio, com parte avaliando que Ferraz causou um desgaste desnecessário a todo o governo, e outra parte considerando que a situação estava esclarecida após a empresa ucraniana voltar atrás.

Tarcísio, por sua vez, sinalizou que Ferraz pode ser substituído, ao falar com o presidente Lula sobre io assunto pelo telefone e se reunir com Marcos Troyjo, ex-presidente do Banco dos Brics, que é cotado para o posto, como noticiou a coluna Painel, da Folha de S.Paulo. Deputados aliados do governador, porém, afirmam acreditar que Ferraz não será demitido.

Para integrantes do governo, a situação se tornou problemática porque deu margem para que ministros de Lula atacassem Tarcísio. A exploração política, dizem, é que foi determinante para que o mal-estar com o secretário se disseminasse no Palácio dos Bandeirantes.

Pesou sobretudo o que foi visto como uma tripudiada de Márcio França (PSB), ministro de Portos e Aeroportos, que é adversário de Tarcísio na privatização do Porto de Santos.

“É lamentável ver o Governo de SP produzir, ‘oficialmente’, fake news contra o governo federal. Eu fui governador de SP, o presidente também não era do meu partido, mas tínhamos atitudes republicanas, respeitosas. Esse nunca foi o padrão de São Paulo”, escreveu França no Twitter.

Não foi apenas ele quem partiu para o ataque no primeiro escalão do governo Lula. O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta (PT), afirmou que aguardava, “por uma questão de decência”, que o governador Tarcísio e veículos de imprensa que divulgaram “que reproduziram uma fake news absurda contra o governo federal se manifestem e reconheçam a gravidade do que fizeram”.

Mesmo na oposição, Tarcísio tem buscado manter boa relação com o governo federal, sobretudo porque depende do Planalto para viabilizar empreendimentos, inclusive a privatização do porto. Por isso, o estresse causado com Lula e seus ministros aprofundou a crise, e Tarcísio buscou desfazer o embaraço.

O líder do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo, Paulo Fiorilo, ainda acionou o Ministério Público contra o secretário, afirmando que ele produziu notícia falsa.

“Causa perplexidade o modo de produção e divulgação de notícias sem a devida comprovação oficial. A publicação de fake news pode caracterizar o crime de difamação e por isso é fundamental que o Ministério Público apure o que de fato ocorreu e se houve motivação política”, disse Fiorilo em nota.

Redes bolsonaristas de apoio a Tarcísio passaram a espalhar o vídeo com a última reportagem da CNN Brasil, citando uma reunião preliminar, para rebater as acusações de fake news. Entre os perfis que divulgaram essa versão está o “Tarcisão do Asfalto”, que, segundo o jornal O Globo, é controlado pelo irmão da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, Diego Torres, que é assessor de Tarcísio.

Não fossem as reações políticas, Ferraz poderia ser advertido a checar melhor seus interlocutores e não repetir o erro, mas conselheiros de Tarcísio afirmam que ele acabou por criar um atrito maior, o que colocou seu cargo em risco.

Há ainda a avaliação de que o equívoco principal em meio a uma história mal explicada foi a Secretaria de Negócios Internacionais lançar uma nota confirmando a reunião com a Antonov sem consultar a empresa ou a comunicação central do Bandeirantes.

De modo geral, Ferraz é elogiado pelos seus pares e por deputados aliados de Tarcísio –e parte da equipe buscou minimizar o caso para mantê-lo no cargo.

A reportagem procurou o secretário Lucas Ferraz por meio da assessoria de imprensa, mas não obteve resposta sobre o assunto. A Folha de S.Paulo também procurou o governo, que até agora não se manifestou.

Entre auxiliares de Tarcísio mais ligados à direita, há o entendimento de que todo o imbróglio foi distorcido por petistas para criar a versão de que o governo paulista promove fake news justo no momento em que o governo federal tenta aprovar um PL sobre o tema, enquanto a oposição é contra.

Para essa ala que defende Ferraz, é importante ressaltar que os ministros petistas, como França e Pimenta, estavam errados e não houve fake news. Caso Tarcísio demitisse o secretário, o gesto poderia ser visto por bolsonaristas como mais uma concessão do governador em direção do presidente Lula.

Tarcísio tem se equilibrando entre gestos à base bolsonarista e acenos ao centro. Além da relação republicana com Lula, o governador também sancionou lei que prevê maconha medicinal na rede pública de saúde e adotou um discurso de agenda verde.

Por outro lado, Tarcísio contemplou a base conservadora ligada ao ex-presidente quando derrubou a exigência de comprovante de vacinação contra a Covid-19 no estado.

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