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Política & Poder

Simone Tebet e Soraya Thronicke levam questão feminina para o centro do debate

Após presidente ser grosseiro com jornalista, senadoras reagiram com falas contundentes contra o machismo e o questionaram sobre sua conduta em relação às mulheres

Redação Jornal de Brasília

29/08/2022 6h43

Foto: Agência Brasil

Com a participação de duas mulheres candidatas à Presidência no 1º debate na TV, realizado pela Band neste domingo, 28, o feminismo e a misoginia foram levados para o centro da discussão, fazendo com que o presidente Jair Bolsonaro (PL), mais uma vez, tentasse minimizar o tema e reclamar de “vitimismo e mimimi”. Isso logo depois de o candidato à reeleição ser agressivo com a jornalista Vera Magalhães, representante da TV Cultura no debate, durante comentário a uma pergunta feita por ela sobre a baixa cobertura vacinal no País.

Em vez de responder, Bolsonaro atacou: “Vera, eu não podia esperar outra coisa de você. Eu acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido em um debate como esse. Fazer acusações mentirosas ao meu respeito, você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”, afirmou o presidente, sem, é claro, citar suas posições sobre a vacina contra a covid-19.

Na sequência, Bolsonaro direcionou falas agressivas também contra a candidata Simone Tebet (MDB). “A senhora é uma vergonha no Senado Federal. E não estou atacando mulheres, não. Não venha com essa historinha de se vitimizar.” A senadora devolveu depois, ao responder críticas de Bolsonaro à sua atuação na CPI da Covid.

O presidente acusou Simone de barrar uma investigação complementar durante a comissão sobre a atuação de governadores. “Não tenho medo de você e nem de seus ministros. Seu governo não me amedronta”, disse Simone, que ainda perguntou a Bolsonaro: “Por que tanto ódio contra as mulheres?”

Assim como Simone, a candidata Soraya Thronicke (União Brasil) se solidarizou em seguida com a jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura. “Quando eu vejo o que aconteceu agora com a Vera, eu realmente fico extremamente chateada. Quando homens são ‘tchuchucas’ com outros homens, mas vem pra cima da gente sendo ‘tigrão’, eu fico extremamente incomodada, aí eu fico brava sim. E digo mais pra você. Lá no meu Estado, tem mulher que vira onça, e eu sou uma delas.”

A questão das mulheres também foi alvo de um embate entre Bolsonaro e Ciro Gomes (PDT) no início do terceiro bloco do debate. Ambos trocaram farpas sobre declarações machistas que marcaram suas trajetórias políticas. Confrontado, Bolsonaro pediu desculpas por ter dito que teve três filhos e uma filha, depois de uma “fraquejada”. Já Ciro também pediu desculpas por ter dito que o papel de sua mulher na campanha presidencial de 2002 era “dormir com ele”.

O ex-presidente Lula (PT) também se envolveu no tema ao reforçar que Bolsonaro foi o único deputado a votar contra a lei que deu direitos trabalhistas a empregadas domésticas e a não aceitar se comprometer a formar, caso eleito, um ministério com 50% de homens e 50% de mulheres. Segundo o petista, é possível que ele forme um governo com mais de metade de mulheres, mas que não pode se comprometer com o temor de passar por mentiroso caso não consiga alcançar a meta.

Economia e Auxílio Brasil

Ao comentar sobre benefícios sociais, o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que a economia brasileira “está bombando” ao ser questionado sobre como fará para conseguir os recursos necessários para manter o Auxílio Brasil nos atuais R$ 600. Segundo o candidato à reeleição, o Brasil nunca recebeu tantos investimentos externos como em sua gestão e afirmou ainda que seu governo está dando certo, sem citar taxas de desemprego e de inflação, por exemplo.

Para Ciro Gomes (PDT), no entanto, “tudo está fora do lugar”. “Me choca ouvir o presidente dizer que a economia tá bombando se apenas entre os desalentados são 5 milhões de pessoas que deixaram de procurar emprego. No total, são 50 milhões de pessoas esfoladas, vivendo na informalidade.”

No tema econômico, tanto Bolsonaro como o ex-presidente Lula afirmaram que têm a intenção de manter o valor atual do auxílio que substituiu o Bolsa Família em R$ 600 também em 2023. “Logicamente esse auxílio se aproxima do mínimo necessário para a pessoa sobreviver. De onde tirar dinheiro? Tenho conversado com a equipe econômica. Conseguimos negociar os precatóros. Para o PT, quando pior estiver o povo mais pobre, melhor para eles fazerem política”, acusou Bolsonaro.

Lula rebateu dizendo que a promessa do presidente não está oficializada na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) enviada ao Congresso Nacional por seu governo. A LDO é a lei que prevê como devem ser usados os recursos do orçamento. “Há uma mentira no ar. Não está na LDO. E é uma inverdade dizer que o PT é contra o auxílio de R$ 600. Nós temos reivindicado isso há dois anos. Mas essa política precisa ser feita em continuidade juntamente com uma política de geração de empregos”, afirmou o petista.

O atual presidente e candidato à reeleição foi questionado sobre o fato de ter declarado que não existe fome no Brasil, por sua política para a educação, sua postura durante a pandemia de covid-19 e por sua relação conflituosa com o Poder Judiciário. O atual presidente e candidato à reeleição foi questionado sobre o fato de ter declarado que não existe fome no Brasil, por sua política para a educação, sua postura durante a pandemia de covid-19 e por sua relação conflituosa com o Poder Judiciário.

Combate à corrupção

Na primeira oportunidade de fazer uma pergunta no debate da noite deste domingo, 28, Bolsonaro questionou Lula sobre o tema corrupção. O presidente e candidato à reeleição falou sobre o endividamento da Petrobras e disse que o escândalo do Petrolão prejudicou o povo do Nordeste, reduto historicamente petista. Ele questionou por qual motivo Lula quer voltar ao Palácio do Planalto. O petista se esquivou da resposta

“Era preciso ser ele para me perguntar”, disse Lula, classificando os números citados de mentirosos. “Inverdades não valem a pena na TV. Citar números mentirosos não compensa. Não teve nenhum presidente da República que fez mais investigações do que nós fiscalizamos”, afirmou Lula, que depois ouviu de Bolsonaro: “Todo mundo fazia malfeitos, só o presidente é que não sabia”.

Bolsonaro citou a delação do ex-ministro Antonio Palocci, segundo qual “tudo foi aparelhado no governo de Lula”. Disse que Lula recebia “pacotes de dinheiro” como propina e que seu governo era uma “cleptocracia”, um governo a base de roubo, feito para controlar o Parlamento. E afirmou ainda que o governo do PT foi o mais corrupto da história do Brasil.

Lula disse, contudo, que seu governo é marcado pelo crescimento em muitas áreas, como empreendedorismo, educação, riqueza da biodiversidade, proteção da Amazônia, relações internacionais, entre outros. “Meu governo deveria ser reconhecido exatamente por isso”. Disse que Bolsonaro adora fazer bravatas, dizer números que não existem. Alegou que o País que deixou é “um País que o povo tem saudade”.

Ao final do debate, Lula comentou que seus processos foram anulados e que ele foi considerado inocente. Reforçou que só foi preso para que Bolsonaro ganhasse a eleição e afirmou ainda que a história dirá por que Dilma Rousseff foi tirada da Presidência. “Ela caiu por uma pedalada e esse cara não cai pelas motociatas.”

Estadão Conteúdo

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