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Política & Poder

Queiroga diz que hidroxicloroquina não tem comprovação científica após pasta defender remédio

A declaração foi dada dias após a pasta afirmar que há eficácia e segurança no uso da hidroxicloroquina contra a Covid-19 em documento

FolhaPress

25/01/2022 9h27

Raquel Lopes
Brasília, DF

O Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que a hidroxicloroquina não tem eficácia comprovada contra a Covid-19. Medicamentos do kit Covid já foram descartados pela comunidade científica para a doença.

A declaração foi dada dias após a pasta afirmar que há eficácia e segurança no uso da hidroxicloroquina contra a Covid-19 em documento usado para justificar a rejeição de diretrizes de tratamento da Covid-19 ao SUS.

“Essas medicações foram utilizadas no começo da pandemia e na época o uso era chamado de uso compassivo, todos usaram. Posteriormente, se viu que nessas situações essa medicação não era mais aplicável e foi testada em outros contextos, né? Essas medicações, inclusive eu já falei, são medicações cuja evidência científica da sua eficácia ainda não está comprovada”, disse em entrevista para o programa Sem Censura, da TV Brasil.

Na mesma nota técnica, a pasta declara que as vacinas não demonstram essas características. A manifestação antivacina foi feita em tabela dentro de documento assinado pelo secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Helio Angotti, uma liderança de ala do governo defensora das bandeiras negacionistas do presidente Jair Bolsonaro (PL).

As diretrizes rejeitadas haviam sido elaboradas por especialistas de entidades médicas e científicas e aprovadas pela Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS). Os textos contraindicavam o uso de medicamentos do kit Covid.

Queiroga ressaltou que à decisão tomada por Angotti cabe recurso e ele mesmo decidirá caso seja necessário.
Especialistas e sociedades médicas que participaram da elaboração da diretriz contra o uso do kit Covid no SUS vão apresentar um recurso ao Ministério da Saúde contra a decisão de arquivamento do texto.

“Cabe recurso dessa decisão [de Hélio Angotti] a ele mesmo e se não houver o acolhimento do recurso cabe ao ministro da Saúde decidir. O ministro pega a bola, bota na marca do pênalti e bate a bola para fazer o gol. Não é o governo da metáfora futebolística, né? Mas a gente tem que explicar a quem nos assiste na nossa TV Brasil. Chegou para o ministro eu vou analisar se o recurso deve ser acolhido ou não e se for acolhido eu vou analisar os seus detalhes”, disse.

Ao assumir o Ministério da Saúde, em março de 2021, Queiroga anunciou que promoveria o debate na Conitec para encerrar a discussão sobre o uso do kit Covid. Ele indicou o médico e professor da USP Carlos Carvalho, contrário aos fármacos ineficazes, para organizar grupo que iria elaborar os pareceres.

Queiroga, porém, modulou o discurso e tem investido em agrados a Bolsonaro para se agarrar ao cargo. Ele passou a evitar o tema, ainda que admita a colegas que não vê benefícios no uso destes medicamentos.

O ministro ainda alterna, em discursos, elogios à compra e entrega das vacinas com acenos à ala bolsonarista que duvida da segurança e eficácia da imunização.

Nesta segunda-feira (24), a AMB (Associação Médica Brasileira) disse que o ministro da Saúde age à margem das mais simples normas de conduta e preceitos éticos esperados para a função.

Em um dos pontos disse que o ministro defende o kit Covid sob a tese da autonomia médica.

“Já em outubro, fez uma de suas repetidas defesas da aplicação do ineficaz kit Covid, sob a insustentável tese de que era questão de autonomia médica. A verdade é que a utilização de tratamentos já comprovadamente ineficazes pela ciência não é autonomia e, sim, má prática médica”, pontuou.

Destacou ainda o mais recente movimento da pasta que, em nota técnica, desqualificou as evidências da ciência e as recomendações aprovadas para o tratamento ambulatorial e hospitalar da Covid-19 pela Conitec.

Na mesma nota técnica, o Ministério da Saúde sustenta que a hidroxicloroquina é eficaz e segura. De gravidade extrema, a nota ainda classifica as vacinas contra Covid como medidas sem comprovação de efetividade e não-seguras, contrariando a todas as evidências científicas”, pontuou.

A ABC (Academia Brasileira de Ciências) manifestou repúdio à atuação da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos que rejeitou parecer aprovado pela Conitec.

“Manifestamos nosso apoio e solidariedade aos coordenadores desse grupo de trabalho, bem como aos inúmeros especialistas envolvidos, que representaram sociedades científicas e universidades e elaboraram, em meticuloso trabalho, diretrizes para o tratamento da Covid-19, pautadas no conhecimento científico sólido e bem fundamentado nas melhores informações e recomendações internacionalmente aceitas”, disse.

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