RAPHAEL DI CUNTO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
A bancada do PSD na Câmara dos Deputados decidiu nesta terça-feira (16) apoiar a candidatura do deputado Hugo Leal (PSD-RJ) para a vaga que será aberta no TCU (Tribunal de Contas da União) em fevereiro de 2026 com a aposentadoria do ministro Aroldo Cedraz.
Com a escolha, a sigla atrapalha o acordo feito entre o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e seu antecessor, Arthur Lira (PP-AL), para eleger um deputado petista para o cargo. O favorito é Odair Cunha (MG), ex-líder do PT e considerado da ala mais pragmática do partido.
Leal é o primeiro candidato formalmente lançado contra a candidatura de Cunha. O União Brasil também discute apoiar um deputado do partido, mas está dividido entre Danilo Forte (CE) que pressiona a bancada a realizar uma reunião o quanto antes para decidir e Elmar Nascimento (BA).
Os petistas fizeram um acordo com Motta e Lira para que eles ajudassem a eleger um candidato do partido. Em troca, apoiaram a candidatura do atual presidente da Câmara que hoje vive atritos com a bancada e o governo Lula (PT). O alagoano confirmou o acerto em entrevista à Folha na época da eleição.
A cadeira de ministro do TCU é cobiçada em razão do papel na decisão de contratos e licitações do governo, além da fiscalização sobre gastos dos Poderes. O posto também garante salário vitalício para o escolhido.
O PT tentava antecipar a votação e realizar a eleição ainda em 2025, para evitar que o tema fosse contaminado pelo debate eleitoral, quando a maioria dos deputados tende a concorrer contra o governo Lula (PT). A escolha, no entanto, ficará para o próximo ano.
Motta decidiu que as sessões desta semana, a última antes do recesso, serão com votação e registro de presença pelo celular, sem a necessidade de que os deputados estejam em Brasília. A eleição para o TCU, contudo, só pode ocorrer em sessões presenciais, com registro do voto secreto em cabines instaladas no plenário. Vence aquele mais votado em turno único.
Petistas e líderes do centrão dizem que, por ora, o acerto está mantido. Parlamentares ouvidos pela reportagem, no entanto, afirmam que a grande insatisfação dos deputados com o PT e com o Palácio do Planalto pode prejudicar ou até mesmo inviabilizar o acordo.
Um grupo de petistas e deputados do centrão se reúne periodicamente para tratar de temas políticos, entre eles a indicação ao TCU. Há hoje, de acordo com integrantes deste grupo, apoio suficiente para eleger o petista, com cerca de 270 votos.
Os adversários, porém, afirmam que o clima de antipetismo no plenário é mais forte e que o acordo com as cúpulas dos partidos não será suficiente para garantir os votos. A maioria dos deputados é de centro-direita e direita, o que favoreceria os demais candidatos, na avaliação deles.
A derrota do candidato petista pode esgarçar ainda mais a relação do PT com Motta, já contestada. Na semana passada, o líder do partido na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), afirmou que o presidente da Casa “está perdendo as condições de continuar” no cargo, por causa da votação do projeto que busca reduzir o tempo de prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros condenados pela trama golpista.
Já Motta rompeu com Lindbergh em novembro, após críticas sobre a condução do PL antifacção enviado pelo presidente Lula. Apesar dos atritos, integrantes do PT cobram que o acordo sobre o TCU seja mantido.