MARIANNA HOLANDA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O presidente do PSDB, Marconi Perillo, convidou Michel Temer (MDB) para se filiar à legenda e ser candidato à Presidência da República em 2026.
Segundo o dirigente, o ex-presidente disse que ficou lisonjeado com o convite e prometeu pensar na possibilidade. “É um homem experiente, que demonstrou capacidade gerencial e administrativa. É um diplomata. Brasil precisa quebrar essa radicalização. Seria uma pessoa para trazer temperança.”
O convite de Perillo para Temer foi feito na mesma semana em que o PSDB filiou Ciro Gomes no Ceará, uma das poucas adesões de peso à legenda após uma série de derrotas que levaram ao esvaziamento da sigla, incluindo a perda de seus três governadores para outras legendas –Eduardo Leite (RS) e Raquel Lyra (PE) para PSD e Eduardo Riedel (MS) ao PP.
A tendência é que Ciro Gomes seja candidato ao governo do estado no próximo ano.
Segundo Perillo, o deputado Aécio Neves (PSDB-MG), que assumirá a legenda no próximo mês, já havia feito o convite a Temer anteriormente, o que foi reforçado por ele nesta semana.
Procurado, Temer não respondeu, mas a troca de partido é vista com ceticismo por emedebistas. Um dos termos utilizados por aliados dele para descrever o movimento é “ilógico”.
Questionado sobre quais outros partidos poderiam compor uma chapa de Temer no MDB, Perillo disse que essa seria uma conversa para um segundo momento.
Perillo afirmou ainda que o PSDB sempre esteve na oposição ao petismo e que seria importante para a legenda ter um candidato à Presidência, como ocorreu nas eleições até 2018 (quando Geraldo Alckmin, hoje no PSB, foi candidato derrotado ao Palácio do Planalto).
A popularidade de Temer seria um desafio, já que o ex-presidente teve os índices mais baixos de aprovação desde o fim da ditadura –encerrou o mandato no fim de 2018 com o governo considerado ruim ou péssimo por 62% dos entrevistados, regular para 29% e bom ou ótimo para apenas 7%, segundo pesquisa Datafolha.
Aliados de Temer usam uma metáfora de casamento antigo para descrever a relação do partido com o ex-presidente.
Integrantes da cúpula do partido relembram seu histórico com o MDB, pelo qual já foi deputado federal, presidente do partido, da Câmara dos Deputados e da República.
Em outra frente, dizem também que Temer é valorizado no MDB e que nunca demonstrou qualquer interesse em se lançar ao cargo de presidente, que ocupou de 2016 a 2018, após o impeachment de Dilma Rousseff (PT).
Outro argumento citado por emedebistas é o fato de o PSDB ser hoje um partido bem menor que o MDB. Na Câmara, há 14 tucanos –neste sábado (25), foi filiado o 15º, Luciano Vieira (Republicanos-RJ). Já os emedebistas são 42.
Na prática, lançar candidato próprio à Presidência significaria desembolsar boa parcela do fundo eleitoral para bancar uma campanha.
Hoje, a prioridade dos partidos, em especial os que diminuíram de tamanho como o PSDB, é fazer bancada na Câmara para receber fundo partidário e continuar tendo representação no Parlamento. A expectativa de Perillo é de dobrar o número de deputados em 2026, chegando a 30.
Em 2022, o PSDB conseguiu atingir a cláusula de barreira e receber recursos do fundo partidário por ter feito uma federação com o Cidadania. Neste ano, a aliança foi desfeita.
Já o MDB tem a sétima maior fatia do fundo (recebe, mensalmente, cerca de R$ 7 milhões).
Temer foi alvo de bolsonaristas neste ano ao liderar uma articulação para unir governadores de direita e centro-direita em torno de uma candidatura presidencial única nas eleições de 2026. Ele disse, à época, que o movimento não excluía o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ele disse na ocasião que Bolsonaro “tem prestígio eleitoral” e que qualquer candidato à Presidência desse campo que se oponha ao ex-presidente teria dificuldades.
“Veja o caso do Tarcísio [de Freitas, governador de São Paulo]. Ele tem sido muito sábio. Ele é bolsonarista, não é desleal ao Bolsonaro, mas firmou uma identidade própria, sem se opor ao Bolsonaro. Ter a oposição do Bolsonaro não dá”, disse, em maio deste ano.
Depois, o ex-presidente voltou ao noticiário quando ocorreu encontro na sua casa com o relator do projeto de lei da anistia aos condenados nos ataques golpistas do 8 de Janeiro, Paulinho da Força (Solidariedade-SP), em que ficou definido uma mudança no rumo na proposta para tratar de redução de penas.
Participaram também o deputado Aécio Neves, que fez a sugestão da nova estratégia ao relator, e, remotamente, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Ministros do STF também foram consultados e deram apoio.