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Política & Poder

Pré-campanha de Lula fica marcada por aperto financeiro e freio em viagens

Com a oficialização da candidatura, o comitê eleitoral terá acesso ao fundo eleitoral, sendo R$ 130 milhões reservados à campanha de Lula

FolhaPress

14/08/2022 10h08

Foto: Nelson Almeida/AFP

Catia Seabra e Julia Chaib
São Paulo, SP e Brasília, DF

A liberação do fundo eleitoral do PT, de quase R$ 500 milhões, deve deixar para trás um duro período da pré-campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em que o partido se viu forçado a economizar devido a um aperto nas suas contas.

Despesas com contratos e dívidas judiciais —cobradas até mesmo por antigos aliados— fizeram o PT frear a agenda de viagens de Lula na pré-campanha e reduzir custos com eventos.

Programada para ocorrer há pelo menos dois meses, a viagem do ex-presidente à região Norte do país só acontecerá, por exemplo, a partir da oficialização da campanha, nesta terça-feira (16).

Ao longo da pré-campanha, o PT optou por reuniões virtuais, como na aprovação do nome do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) para vice da chapa.

A realização da convenção partidária em uma sala no subsolo de um hotel do centro de São Paulo foi outra amostra da contenção de despesas nessa pré-campanha.

O problema financeiro também pesou na substituição do publicitário Augusto Fonseca no marketing da campanha de Lula. Segundo petistas, Fonseca não contava com estrutura básica até a liberação do fundo eleitoral.

Pessoas próximas do marqueteiro diziam que o PT queria que ele fizesse uma espécie de empréstimo à campanha, bancando ele próprio a primeira parte das ações até que o partido recebesse recursos do fundo eleitoral.

Dirigentes do partido, porém, dizem que o problema para a saída dele não foi financeiro e, sim, divergências de rumos.

Já seu sucessor, Sidônio Palmeira, tem uma equipe montada, além da estrutura necessária para montagem de um estúdio na zona oeste de São Paulo.

Também por motivos de segurança, nas viagens a equipe do ex-presidente priorizou cidades administradas pelo PT, onde há presença da militância petista.

O aperto fica demonstrado em números. O PT acumulou neste ano em uma das contas do partido R$ 59 milhões, divididos entre o Fundo Partidário e doações. O total de despesas da sigla, porém, está na casa dos R$ 65 milhões.

A razão dos gastos são compromissos com dívidas judiciais antigas, contratos novos e antigos e o dispêndio em si com a pré-campanha do ex-presidente.

Além disso, o partido tem uma dívida de pelo menos R$ 6 milhões com o ex-marqueteiro da legenda João Santana. O débito com o ex-aliado de Lula levou, por exemplo, ao bloqueio de cerca de R$ 200 mil em outra conta que o partido mantém.

A situação reforçou a atuação do próprio Lula, que estimulou doações durante jantar com apoiadores em um restaurante de São Paulo. Segundo participantes do evento, Lula agradeceu as colaborações, afirmando que a iniciativa permitiria cobrir despesas até a formalização da campanha.

Desde então, o partido recebeu mais de R$ 5 milhões de doações de pessoas físicas, que podem ser usados para pagar a dívida com Santana.

Com a oficialização da candidatura, o comitê eleitoral terá acesso ao fundo eleitoral, sendo R$ 130 milhões reservados à campanha do ex-presidente.

Já para a semana, estão programados dois comícios, um em Belo Horizonte e outro no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. O ex-presidente também fará viagem ao Sul do Brasil.

Os próximos dois meses garantirão outro alívio para o PT, uma vez que os recursos não podem ser bloqueados durante o processo eleitoral.

Encerrado o processo eleitoral, o partido terá de executar a dívida contraída com João Santana, e ainda pode ter de arcar com mais despesas devido ao risco de ver a prestação de contas da campanha de 2018 rejeitada ou aprovada com ressalvas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

A assessoria técnica do TSE tem feito uma minuciosa análise sobre as contas da campanha presidencial de 2018, quando Lula chegou a concorrer à Presidência da República enquanto estava preso em Curitiba.

Então na condição de vice, Fernando Haddad —que, em setembro, assumiu a cabeça de chapa— viajou pelo país em nome da campanha. Oficializada sua candidatura, foi constituído um CNPJ específico para a candidatura de Haddad.

Hoje, a assessoria técnica da corte eleitoral questiona as despesas contraídas em nome da campanha de Lula, sob o argumento que os gastos não condizem com o período em que teria concorrido.

Em um processo de cerca de 800 páginas, o TSE cobra, por exemplo, amostras de material de campanha, imagens de gravações e bilhetes de viagens.

Apesar da cobrança da assessoria técnica, o Ministério Público Eleitoral se manifestou em favor dos argumentos do PT que, após apresentar comprovantes, afirmou que o material colhido para a campanha de Lula, incluindo cenas de viagens do Haddad, foram usadas na campanha do ex-prefeito.

Tesoureiro da campanha de Haddad, Chico Macena conta que dedicou um mês à coleta de documentos, material de campanha e imagens, em atendimento às exigências da assessoria técnica de tribunal.

“A campanha é a mesma. Por uma formalidade, houve dois CNPJs”, justifica.

Os problemas financeiros da legenda não são novos. No passado, o diretório estadual do PT em São Paulo teve que entregar a própria sede em razão de problemas financeiros.

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