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Política & Poder

PEC isenta prefeitos e governadores que não fizeram gasto mínimo em educação

O tema tem patrocínio da base do governo Bolsonaro e há acordo desenhado entre líderes para que a matéria seja votada em Plenário

Redação Jornal de Brasília

17/08/2021 15h55

Foto: Agência Brasília

Paulo Saldaña
FolhaPress

O Senado pode aprovar nesta terça-feira (17) uma proposta que isenta de responsabilidade prefeitos e governadores que deixaram de aplicar durante a pandemia de coronavírus o gasto mínimo em educação estabelecido na Constituição.

A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) já está na pauta do Senado para esta terça. O tema tem patrocínio da base do governo Jair Bolsonaro e há acordo desenhado entre líderes partidários para que a matéria seja votada em Plenário.
Apesar de a proposta inicial falar na desobrigação somente para 2020, já há uma emenda que estende isso também para 2021. O impacto causado nas contas públicas durante a pandemia é a principal justificativa da proposta.

Municípios e estados registraram queda de gastos com educação no ano passado, enquanto a oferta de ensino remoto foi precária: a diminuição dos gastos foi de 9% nos estados e 6% nos municípios, segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica, do Movimento Todos pela Educação.

A Constituição determina que estados e municípios apliquem 25% das receitas em educação. O não cumprimento pode levar à rejeição das contas e até crime de responsabilidade. O governo Bolsonaro já tentou, inclusive, extinguir o mínimo constitucional em educação e também em saúde.

O texto foi proposto em maio, sob liderança do senador Marcos Rogério (DEM-RO), da tropa de choque do governo na CPI da pandemia. O presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), também assina a iniciativa, ao lado de parlamentares de partidos como MDB, Podemos, PSD e PSL. Se passar pelo Senado, o tema ainda precisa ser apreciado pela Câmara.

Há receio entre especialistas e parlamentares contrários à medida de que a emenda abra um precedente e premie quem não se preocupou com a educação. Essa queda de gastos em educação durante a pandemia só evidencia o quanto a subvinculação é importante, diz Lucas Hoogerbrugge, do Movimento Todos pela Educação. “Ainda que entendamos o momento difícil que o país tem passado, isso não pode ser um argumento para desresponsabilizar os gestores de sua obrigação legal de utilizar os recursos de manutenção e desenvolvimento do ensino”, afirma.

“Na prática, são recursos que poderiam ter sido utilizados para apoiar o ensino remoto e adaptação das escolas para um retorno presencial seguro. Na falta desses investimentos, crianças e jovens foram negligenciadas”. Com problemas de conexão e adoção de plataformas educacionais, mais de 90% das cidades lançaram mão de materiais impressos ou orientações por WhatsApp durante o ano de 2020, em que as aulas presenciais ficaram interrompidas. Acesso à internet e problemas de infraestrutura das escolas foram apontados por gestores municipais como os maiores entraves para o retorno às aulas neste ano.

Levantamento da CNM (Confederação Nacional dos Municípios), de setembro do ano passado, indicou que 12% dos municípios teriam dificuldades de cumprir o mínimo constitucional. As prestações de contas ainda não estão fechadas, mas o cenário é de aumento dessa situação com relação a 2019.

No ano anterior à pandemia, apenas 60 municípios descumpriram a Constituição. Dados colhidos pela CNM no Siope (Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Educação), do governo federal, mostra que, em 1º de junho, 218 municípios não haviam cumprido.

A CNM apoia a PEC. Segundo Mariza Abreu, consultora de educação da entidade, a dificuldade de municípios atenderem ao mínimo constitucional é reflexo da queda de gastos de custeio com o fechamento das escolas, com transporte escolar e demissões de professores temporários. Além disso, a legislação impediu reajustes salariais.

Por outro lado, houve aumento de gastos com alimentação escolar, no atendimento às famílias com aulas fechadas, mas essas rubricas não entram no cálculo para o mínimo constitucional. “A CNM entende que é pertinente essa exceção apenas para os anos de 2020 e 2021, mas para o próximo é necessário planejamento”, diz.

Nota da Consultora técnica do Senado, elaborada a pedido da liderança do Cidadania, refuta a proposta e afirma, entre outros pontos, que os entes da federação contaram com auxílio federal durante a pandemia e que apenas Ceará, Santa Catarina e São Paulo tiveram insuficiência de recursos.

“A proposta não merece prosperar por representar um perigosíssimo precedente, sinalizando justamente aos agentes públicos que os mesmos não precisam se preocupar em cumprir as normas, pois mesmo aquelas de ?hierarquia mais elevadas, no caso um dispositivo constitucional, poderão ser excepcionalizadas em seu benefício, caracterizando um risco moral elevadíssimo, que certamente poderá levar a sociedade a uma situação de caos total”, conclui a nota.

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