O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) determinou que os protocolos de segurança das cinco penitenciárias federais sejam revisados. Como mostrou a Coluna do Estadão, a crise colocou o ministro Ricardo Lewandowski, apenas um mês à frente da pasta, na mira da oposição ao governo. O MJSP também pediu à Polícia Federal que inclua o nome dos foragidos no Sistema de Difusão Laranja da Interpol e no Sistema de Proteção de Fronteiras, para uma procura internacional.
Em nota, o MJSP afirmou ainda que acionou a Polícia Federal para investigar a fuga dos prisioneiros e apurar informações sobre eventuais responsáveis. Ainda não há informações se pessoas de dentro da penitenciária auxiliaram os criminosos. De acordo com a pasta, há mais de cem agentes federais envolvidos nas buscas pelos prisioneiros. O governo acionou ainda agentes das polícias estaduais para colaborarem com a investigação.
Brasil registra primeira fuga de um presídio federal de segurança máxima
Dois presos fugiram da Penitenciária Federal de Mossoró, unidade de segurança máxima no interior do Rio Grande do Norte. Foi a primeira fuga registrada na história do sistema penitenciário federal, onde também estão integrantes do alto escalão de facções como Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC).
São cinco presídios desse tipo no País: além de Mossoró, há unidades em Catanduvas (PR), Campo Grande, Porto Velho e Brasília. Os fugitivos foram identificados como Deibson Cabral Nascimento e Rogerio da Silva Mendonça. Eles cumpriam pena no Complexo Penitenciário de Rio Branco, no Acre, mas foram transferidos após terem participado de uma rebelião no Presídio Antônio Amaro Alves, que resultou na morte de cinco detentos, em julho de 2023.
Essa transferência para a Penitenciária Federal de Mossoró foi feita a pedido do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Estado (MP-AC). Além de Deibson e Rogerio, outros 12 presos foram transferidos nas mesmas circunstâncias.
A FUGA
Ainda não havia informações se pessoas de dentro da penitenciária teriam auxiliado na fuga. A Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) informou ontem que o secretário André Garcia estava a caminho de Mossoró para investigar os fatos e apurar as responsabilidades do ocorrido. “A Polícia Federal foi acionada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública e está tomando todas as providências necessárias para a recaptura dos foragidos e a apuração das circunstâncias da fuga ” Conforme informações preliminares, os fugitivos têm ligação com o Comando Vermelho, uma das facções dominantes no Acre.
A Secretaria da Segurança Pública potiguar afirmou que, juntamente com a Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (Seap), está “dando total apoio” ao sistema prisional federal. Segundo a pasta, dois helicópteros auxiliam nas buscas. “Foi autorizado o pouso inclusive dentro do próprio presídio”, disse ao Estadão o secretário da Segurança Pública do Rio Grande do Norte, coronel Francisco Araújo.
Um outro foco são as estradas. Araújo afirma ter entrado em contato com os secretários da Segurança Pública de Ceará e Paraíba para reforçar as revistas nas divisas entre os Estados. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) também foi acionada. “Existe a possibilidade de eles procurarem ônibus ou qualquer outro tipo de transporte para se evadir do território potiguar”, disse o coronel. O Rio Grande do Norte não registra fugas em suas unidades prisionais desde 2021, segundo dados oficiais. Em 2017, o Estado registrou uma rebelião generalizada na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, na Grande Natal, em ofensiva que deixou ao menos 26 presos mortos.
DETENTOS MAIS CONHECIDOS
Para integrar o sistema federal, segundo o Ministério da Justiça, o criminoso deve cumprir alguns requisitos. Essas condições incluem pontos como ter desempenhado função de liderança ou participado de forma relevante em organização criminosa e ser membro de quadrilha ou bando, envolvido na prática reiterada de crimes com violência ou grave ameaça.
Entre os detentos mais famosos do sistema está Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, apontado como uma das lideranças do CV, primeiro ocupante, em 2006, de Catanduvas. Na sequência, passou por Porto Velho e Mossoró e está atualmente em Campo Grande. Já Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como um dos líderes do PCC, está em Brasília, presídio federal mais recente.
Também estão em presídios federais Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, que cumpre pena em Catanduvas, e Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, que está em Porto Velho. Ambos estão entre os principais líderes do tráfico no Rio (Colaborou Rariane Costa)
Estadão Conteúdo