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Política & Poder

Menção a guerras da Ucrânia e em Israel dificulta consenso entre ministros do G20

Reunidos em São Paulo, os ministros das Finanças têm discordado sobre a menção às guerras Rússia-Ucrânia e Israel-Hamas

Redação Jornal de Brasília

29/02/2024 16h54

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

JÚLIA MOURA E THIAGO AMÂNCIO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

A falta de consenso entre as delegações das 20 maiores economias do mundo sobre como se referir às guerras em curso no planeta tem ameaçado o comunicado final que costuma encerrar as reuniões ministeriais do G20.

Reunidos em São Paulo, os ministros das Finanças têm discordado sobre a menção às guerras Rússia-Ucrânia e Israel-Hamas.

Países do G7 estão mais empenhados em condenar a invasão russa à Ucrânia, enquanto o tema é considerado mais lateral pelas economias do chamado Sul Global. Também há dúvidas sobre como se referir ao conflito em Israel, com menção ao país ou apenas referir-se à “crise humanitária em Gaza”.

Em conversa com jornalistas pela manhã, o ministro alemão Christian Lindner afirmou que só assinaria um comunicado que citasse os conflitos.

O ministro das finanças de Portugal, Fernando Medina, também afirmou que não havia consenso para o comunicado.
Apuração da agência Reuters apontou ainda que os russos querem que o conflito seja referido como Guerra na Ucrânia (“war in Ukraine”), enquanto países do G7 defendem menção à Guerra contra a Ucrânia (“war on Ukraine”).

A falta de consenso entre os ministros tem sido comum desde o início da Guerra da Ucrânia, há dois anos. Nos encontros do Fundo Monetário Internacional de 2022 e 2023 não houve comunicado pelo mesmo motivo.

No encontro de Nova Délhi no ano passado, quando a Índia ocupava a presidência do G20, o Brasil foi considerado essencial para fazer a ponte entre os países do G7 e União Europeia com o restante dos membros do bloco e superar a discordância.

Por isso, a presidência brasileira neste ano optou por orientar os trabalhos para que não seja obrigatória uma declaração ao final de cada reunião ministerial. E, de fato, não houve comunicado ao fim do encontro de chanceleres no Rio de Janeiro na semana passada, apenas uma declaração do ministro brasileiro Mauro Vieira.

Na avaliação de um membro brasileiro, os temas de guerra contaminavam cada grupo de trabalho e paralisavam os debates. Já adiantando as discordâncias, a secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito, afirmou na terça-feira (27), antes do encontro de ministros das finanças em São Paulo, que haveria um “comunicado mais curto”.

Dois anos após o início do conflito na Europa, a guerra esteve presente tanto nas reuniões privadas como em diversas declarações públicas das autoridades reunidas na capital paulista.

A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, defendeu a desapropriação dos fundos russos congelados pelo mundo desde a guerra, avaliados em US$ 285 bilhões, e afirmou que a posição era defendida pelos países do G7.

Mas membros do bloco, no entanto, como ministros da França e Alemanha, baixaram o tom.

“Os países do G7, os países europeus, não devem dar nenhum passo que possa prejudicar o sistema jurídico internacional. O G7 é baseado no Estado de Direito, deve agir respeitando o Estado de Direito. O que significa que, como não temos a base legal para apreender os ativos russos, precisamos trabalhar mais nisso”, afirmou o francês Bruno Le Maire.

Líderes como o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, defendem que esses fundos sejam usados para reconstruir a Ucrânia após a guerra. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que o dinheiro deveria ser usado para comprar munição para a Ucrânia.

Em entrevista à Folha de S.Paulo na terça, o ministro das Finanças da Rússia, Anton Siluanov, chamou a proposta de roubo, afirmou ser “um tiro no pé” e mina a estabilidade financeira global. “Mina as bases do atual sistema monetário e financeiro. A maioria do que foi congelado no exterior é de reservas do Banco Central, que sempre estiveram acima da política e foram protegidas por instrumentos legais e pelas instituições”, disse. “Haverá uma resposta simétrica”, afirmou.

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