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Política & Poder

Lula inicia primeira viagem europeia em Portugal, após polêmica sobre a Ucrânia

A comitiva seguira para a Espanha, após recente passagem pela China marcada por comentários polêmicos sobre a guerra na Ucrânia

Redação Jornal de Brasília

22/04/2023 9h40

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que busca devolver o Brasil ao seu protagonismo internacional, iniciou neste sábado (22) uma visita a Portugal, de onde seguirá para a Espanha, após recente passagem pela China marcada por comentários polêmicos sobre a guerra na Ucrânia.

Em sua primeira viagem à Europa desde que voltou ao poder em janeiro, o ícone da esquerda latino-americana optou por uma visita de Estado de quatro dias à ex-potência colonial da qual o Brasil conquistou sua independência em 1822.

Lula chegou a Lisboa na sexta-feira e foi recebido neste sábado com uma cerimônia de boas-vindas antes de se encontrar com seu homólogo conservador Marcelo Rebelo de Sousa e com o primeiro-ministro Antonio Costa.

O ex-metalúrgico de 77 anos, que governou o Brasil de 2003 a 2010, quer colocar seu país de volta no centro da geopolítica mundial, após o relativo isolamento diplomático que marcou a gestão de seu antecessor de extrema direita Jair Bolsonaro (2019 -2022).

Equilibrismo diplomático

Em um delicado jogo de equilibrista para melhorar a imagem de seu país nas questões ambientais e se firmar como um possível mediador da paz, Lula viajou aos Estados Unidos em fevereiro, onde se encontrou com o presidente Joe Biden.

Mas ele pareceu vacilar quando, após se encontrar este mês com seu colega chinês, Xi Jinping, pediu aos Estados Unidos que parem de “incentivar a guerra” na Ucrânia, que resistiu à invasão russa por mais de um ano, e pediu à União Europeia (UE), aliado de Kiev, para “começar a falar de paz”.

Os Estados Unidos foram rápidos em acusar Lula de “repetir a propaganda russa e chinesa, desconsiderando os fatos”.

O líder brasileiro também reafirmou que as responsabilidades da guerra desencadeada pela invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022 são compartilhadas entre os dois países.

Na segunda-feira, recebeu em Brasília o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, que “agradeceu” o Brasil pela “contribuição” na busca de uma solução para o conflito e por “sua excelente compreensão da gênese dessa situação”.

Diante da intensidade das críticas, Lula mudou de tom na terça-feira e condenou a “violação da integridade territorial da Ucrânia” pela Rússia.

Em Portugal, membro fundador da Otan e um dos primeiros países europeus a fornecer tanques a Kiev, a ambiguidade de Brasília não causou boa impressão.

“A posição brasileira nas Nações Unidas tem sido sempre a mesma: ao lado de Portugal, dos Estados Unidos e da Otan. (…) Dito isto, é muito simples: se o Brasil mudar de posição, é uma escolha dele e Portugal não tem nada a ver com isso”, declarou Rebelo de Sousa no início desta semana.

Representantes da comunidade ucraniana se reuniram com integrantes da delegação brasileira na sexta-feira e Lula decidiu enviar seu principal assessor, Celso Amorim, a Kiev para um encontro com o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.

“O Brasil está determinado a contribuir para a promoção do diálogo e da paz e para o fim deste conflito”, insistiu Brasília em comunicado.

Chico Buarque e a Revolução dos Cravos

Nesta cúpula luso-brasileira, a primeira em sete anos, serão assinados uma dezena de acordos bilaterais, principalmente nos setores da energia, ciência, educação e turismo.

Na segunda-feira, após encontro com empresários próximo ao Porto (norte), Lula participará da entrega da mais alta distinção da literatura de língua portuguesa, o Prêmio Camões, ao famoso cantor e autor brasileiro Chico Buarque.

Este artista, conhecido por seu compromisso com a esquerda e contra a Ditadura Militar (1964-1985), havia sido anunciado como vencedor em 2019, mas Bolsonaro se recusou a assinar os documentos necessários para que o prêmio fosse oficialmente concedido a ele.

Antes de voar para Madri na terça-feira, Lula discursará no Parlamento português antes das comemorações do 49º aniversário da Revolução dos Cravos, que encerrou 48 anos de ditadura de direita e 13 anos de guerras coloniais para o país europeu na África.

© Agence France-Presse

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