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Política & Poder

Lula ameniza fala de pressão a deputados e tenta explicar declaração sobre aborto

Agora, o ex-presidente defendeu que mulheres que realizarem o aborto tenham acesso a tratamento na rede pública de saúde

FolhaPress

07/04/2022 11h06

Foto: Ricardo Stuckert

José Matheus Santos
Recife, PE

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tentou amenizar, nesta quinta-feira (7), o estímulo para a sua militância pressionar deputados em suas residências sobre projetos em tramitação no Congresso.

Além disso, na mesma entrevista, o petista se posicionou pessoalmente contra o aborto e defendeu o tratamento para mulheres que realizarem o procedimento na rede pública de saúde.

Sobre a pressão a parlamentares, Lula reafirmou a sugestão de que o público possa conversar com os congressistas de forma civilizada após bater palma na porta da casa dos deputados.

“Eu disse que, ao invés de gastar fortuna indo para Brasília fazer protesto, porque quando a gente está dentro do Congresso a gente não vê o protesto, todo deputado e senador mora numa cidade.”

“Não custa nada o povo que está reivindicando ir conversar na porta da casa dele de forma civilizada”, afirmou Lula em entrevista à Rádio Jangadeiro BandNews, de Fortaleza.

A fala de Lula provocou reação de parlamentares, sobretudo de aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL). Alguns deles insinuaram que poderiam receber com armas quem fosse pressionar por projetos nas suas residências.

“Ao invés de um deputado me agradecer, esses deputados que falam que andam com o povo de braços abertos [não querem receber o povo], dizem que abraçam o povo, porque depois de eleito o povo passa a ser tido como estorvo”, disse Lula.

“Não custa nada, o cidadão vai lá, bate palma, o deputado sai de forma civilizada, atende os eleitores, pergunta o que eles querem, eles vão dizer que não querem que aprove determinada lei e o deputado diz se vai votar ou não. Qual o mal nisso, ou será que o deputado vai votar escondido?”, indagou.

“Lamentavelmente, me parece que tem deputado que não quer conversar com o povo, só na época das eleições”.

Outra fala do ex-presidente que ganhou repercussão ao longo da quarta (6) foi a declaração de que o aborto deveria ser tratado como questão de saúde pública. Nesta quinta (7), ao ser perguntado sobre o assunto na entrevista à rádio cearense, Lula se posicionou contra o aborto.

Além disso, o ex-presidente defendeu que mulheres que realizarem o aborto tenham acesso a tratamento na rede pública de saúde.

“Sou contra o aborto, tenho 5 filhos, 8 netos e uma bisneta. O que disse é que é preciso transformar essa questão do aborto em questão de saúde pública, ou seja, que as pessoas pobres que forem vítimas de um aborto tenham condições de se tratar na rede pública de saúde.”

“Mesmo eu sendo contra o aborto, ele existe, de forma diferenciada, quando é numa pessoa que tem poder aquisitivo bom essa pessoa vai pro exterior e vai se tratar, e uma pessoa pobre que quer se tratar, como faz?.”

“O que acho é que tem que ser tratado por questão de saúde pública, o Estado tem que dar atenção a essas pessoas pobres que por diversas razões abortam, e que eu não quero saber porque estão abortando, e o Estado tem que cuidar, não pode abandonar. Por mais que a lei proíba e a religião não goste, ele [o aborto] existe”, acrescentou.

O aborto é permitido no Brasil apenas em três hipóteses, segundo a legislação: quando a gravidez é resultante de um estupro, quando há risco de morte para a mulher causado pela gravidez ou se o feto for anencéfalo (má formação no cérebro).

As declarações iniciais do ex-presidente sobre aborto e pressão a deputados geraram desgaste inclusive internamente no PT. Petistas históricos avaliam que Lula errou na forma de se expressar, o que pode dar munição a adversários, como o presidente Jair Bolsonaro (PL).

A avaliação interna no PT também é de que poderá haver um desgaste junto aos evangélicos, público com o qual Lula tenta aproximação.

As falas de Lula ocorrem em um momento em que Bolsonaro avança em pesquisas de intenção de voto na corrida presidencial, mesmo com o petista ainda na liderança, conforme mostrou o Datafolha.

Entre aliados de Geraldo Alckmin (PSB), a avaliação foi de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve uma recaída e voltou a falar para sua base tradicional em seus posicionamentos recentes sobre o aborto e sobre pressão nos deputados, conforme mostrou o Painel.

Tido como um assíduo praticante da religião católica, o ex-governador de São Paulo, no entanto, manteve-se quieto, apesar de já ter externado posições críticas ao aborto no passado. O gesto foi visto como um primeiro teste de fidelidade ao petista.

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