Francisco Dutra
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A construção de um arco rodoviário é um dos principais compromissos de Júlio Miragaya (PT), caso seja eleito para o Governo do Distrito Federal (GDF).
Segundo o economista, o projeto passaria por terras brasilienses e pela Região Metropolitana. Ao longo das pistas seriam construídas cinco grandes áreas industriais para geração de milhares de empregos diretos e indiretos.
Outro ponto importante no plano de governo petista é implantação de um salário mínimo regional, 30% mais polpudo do que o atual. Miragaya também pretende rever a política tributária do DF, cobrando mais dos ricos e menos dos pobres.
Salário mínimo regional?
Ele já existe no Brasil. O que a gente quer é trazer para o DF. Ele existe nos estados onde o custo de vida é maior e também a capacidade de pagamento é maior. Valor real do salário mínimo aqui, que é de R$ 954, é muito menor do que o valor real no Maranhão. Ou seja, uma pessoa no Maranhão que vive com R$ 954 vive menos pior do que aqui. As pessoas questionam que isso prejudicaria a micro e pequena empresa. Esse era o argumento quando 2003, o Lula resolveu implementar uma política de valorização do salário mínimo, de dar aumento acima da inflação. Pelo contrário. Nunca se criou tanta pequena e micro empresa quanto no governo Lula. Por que? A pessoa com dinheiro no bolso faz com que a economia gire. Nós estamos propondo 30% acima do teto nacional. A ser implementado em duas parcelas, uma em 2019 e a segunda em 2020.
Como criar empregos fora do serviço público?
A nossa vitória está muito condicionada a vitória do projeto do Haddad no plano nacional. Porque a economia de Brasília depende muito do setor público. A gente vive hoje sob o paradigma do Estado Mínimo. O retorno de um projeto de crescimento econômico com inclusão social, o fortalecimento do Estado vai ser fundamental para Brasília. Ele é um fator determinante para que a economia privada cresça. Hoje 92% que a gente consome de bens manufaturados vem de fora. Isso é maior taxa do Brasil. Isso significa que tem espaço para o crescimento industrial aqui. Mas as empresas só vão voltar se tiver infraestrutura. Se tiver as áreas industriais devidamente aparelhadas. Não as ADEs que a gente aqui, que é uma vergonha. Nós temos que investir fortemente nisso. Nós temos um projeto de consolidação, na verdade, de implantação definitiva de um arco rodoviário no DF.
Em volta do DF?
Parte vai estar dentro do DF e parte vai estar na Região Metropolitana. E nesse arco vamos instalar cinco grandes áreas industriais, que possam atrair empreendimentos. Com isso a gente pode combater o problema da concentração de empregos no Plano Piloto. Você criaria alternativas de emprego nessas regiões mais periféricas.
Quanto custaria?
No Rio de Janeiro, o arco de lá foi orçado em R$ 1,5 bilhão. Imagino que o nosso aqui gire em torno de metade disso. E o nosso arco pode se auto-financiado. A venda desses terrenos industriais poderia financiar a construção. Poderíamos gerar 70 mil na atividade industrial. Com o seguinte detalhe, cada emprego industrial gera de três a sete empregos na área de serviços. Por isso que a gente defende tanto a atração de investimentos industriais. Nós temos um mercado consumidor muito forte que disputado por outros estados.
Impostos?
No plano federal a posição do Partido dos Trabalhadores é clara. Tributar quem tem maior capacidade de pagamento. Porque é assim que se faz justiça tributária. E isentar quem não tem capacidade de pagamento. No plano local nó temos alguns tributos que poderiam ser mais progressivos, por exemplo o IPTU. Ou seja os imóveis com maior valor pagando mais. A mesma coisa vale para a Taxa de Limpeza Pública. O mesmo acontece no imposto sobre heranças e doações. No Brasil ele está limitada a 8%. Nos EUA é de 40%, na pátria do Capitalismo. E o DF pratica de 4% a 6%. Quero elevar para pelo menos 20% e que seja progressivo. E que uma herança de baixo valor seja taxada com um percentual abaixo e uma de alto em um percentual de 20%. Isso nós dá uma capacidade para permitir que o governo não seja tão rigoroso com determinados produtos. Podendo levar a uma isenção ou uma quase isenção.
Quais?
Produtos de largo uso popular. Como por exemplo, remédios ou da cesta básica. Tem estudos do Ipea que dizem que uma família com uma renda de 2 salários paga 46% de tributos na sua renda. Enquanto família com renda de R$ 1.300.000,00 por ano pagam em torno de 8%. É uma disparidade que não tem o menor cabimento.
Burocracia? Como deixar a máquina eficiente?
Tem a questão de gestão mesmo. Você colocar as pessoas que sejam líderes dos processos. A gente tem que fazer a autocrítica. No próprio governo do PT você tinha pessoas que deixavam a desejar na liderança. O gestor tem que mostrar por retidão do processo. Tem que cobrar resultado. E tem problema, que aí é de ordem geral e que ajudou a levar essa letargia, que é a excessiva fiscalização. Quando falo que é excessiva, não é que ela não deva ser rigorosa. Isso faz com o gestor tema tomar uma decisão.
O que deve ser feito?
Eu diria que os órgãos de fiscalização buscassem entender melhor o próprio funcionamento da máquina. Há uma certa falta de busca de compreensão do trabalho do gestor público. Ele pode cometer erros sem dolo. Ele pode cometer erro de dimensionamento de determinada demanda sem dolo.
Haddad disparou nacionalmente. O senhor tem condições de estar no 2º turno?
Eu vi Jaques Wagner (PT), ex-governador da Bahia, a 3 semanas da eleição aparecer com 6%, 7% em uma pesquisa e ganhar no 1º turno. É importante pegar carona na subida de Haddad.
O PT pode pacificar o Brasil?
Eu assisti uma polarização muito forte na eleição 89. Hoje se desenha uma eleição mais polarizada. Nas últimas eleições, a polarização foi entre o PT e o PSDB. E nessa última é entre o PT e um candidato que representa antipetismo. Vai ser uma eleição radicalizada. E depois da eleição não vai ser fácil, por um lado ou para outro. Eu acho que um governo Haddad tem que fazer um esforço no sentido de reduzir a temperatura política, para que o segmento que apoia Bolsonaro possa assumir uma postura de maior moderação.