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Política & Poder

João Campos se une a ex-líder de Bolsonaro e incomoda alas do PT em Pernambuco

Um dos filhos de Fernando Bezerra, o deputado estadual Antonio Coelho (União Brasil) assumiu a Secretaria de Turismo da cidade

Redação Jornal de Brasília

03/10/2023 6h19

JOSÉ MATHEUS SANTOS
RECIFE, PE (FOLHAPRESS)

Uma nova articulação do prefeito do Recife, João Campos (PSB), uniu o PT e o grupo político do ex-senador Fernando Bezerra Coelho (MDB), ex-líder do governo Bolsonaro, na mesma gestão, na capital pernambucana.

Um dos filhos de Fernando Bezerra, o deputado estadual Antonio Coelho (União Brasil) assumiu a Secretaria de Turismo da cidade, por indicação do irmão, o ex-prefeito de Petrolina Miguel Coelho (União Brasil), derrotado na disputa para o Governo de Pernambuco em 2022.

O movimento gerou incômodo em alas do PT, como no entorno dos senadores petistas Humberto Costa e Teresa Leitão. Entretanto, o partido não ensaia rompimento e seguirá ocupando cargos na prefeitura.

No governo Bolsonaro, Bezerra Coelho indicou um aliado para o comando da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) na superintendência de Petrolina. A estatal é alvo de investigações por licitações afrouxadas, superfaturamentos e corrupção. A companhia escoa verbas de emendas parlamentares em obras de pavimentação e maquinários.

O governo Lula (PT) manteve a fórmula de Bolsonaro de usar as indicações para a estatal em troca de apoio político no Congresso Nacional. No caso de Petrolina, a chefia passou para as mãos do PT.

Em 2022, Miguel, Fernando e Antonio Coelho apoiaram a reeleição do então presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem o ex-senador foi líder por três anos no Senado.

O ex-parlamentar integrou a tropa de choque na defesa do governo Bolsonaro na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que apurou, em 2021, ações e omissões durante a pandemia de Covid-19. Já o prefeito é apoiador de Lula.

Apesar da divergência em 2022, o fator político que une os dois grupos é a oposição à governadora Raquel Lyra (PSDB), que teve o apoio de Miguel no segundo turno da eleição estadual de 2022, enquanto o PSB de João Campos apoiou Marília Arraes (Solidariedade).

Após ser vitoriosa, Raquel Lyra chegou a convidar Miguel Coelho para fazer parte do governo, mas o ex-prefeito de Petrolina entendeu que o espaço oferecido não estava à altura do grupo. Aliados de Miguel acreditam que foi proposital a proposta de Raquel, para que Coelho fosse praticamente forçado a recusar.

João Campos, inclusive, disse que “não tem medo de sombra”, ao citar a aliança com os Coelhos, no discurso de posse do novo secretário. A fala foi vista como recado à governadora Raquel Lyra.
Desde então, Raquel Lyra não fez novos acenos ao clã Coelho. Antonio Coelho, novo secretário municipal, fez críticas a projetos do governo na Assembleia Legislativa.

A aliança deverá ter implicações nas eleições de 2024 no Recife e no pleito estadual de 2026. Com a reaproximação dos Coelhos com o PSB após sete anos, João Campos praticamente sela o apoio da União Brasil à sua candidatura à reeleição.

O prefeito também é aliado de Luciano Bivar, presidente nacional do partido. Com isso, tenta isolar o deputado federal Mendonça Filho, rival do PSB, na União Brasil.

Além disso, João Campos conta com apoios de PDT e Republicanos e tenta consolidar o do PT, que tem duas secretarias no município.

Em 2026, o clã Coelho deverá ter uma vaga na chapa majoritária a ser apoiada por João Campos. Se o prefeito for candidato a governador, Miguel Coelho pode ocupar uma das vagas para a disputa do Senado. Outro cotado para a majoritária é o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos), que quer ser candidato a senador.

A movimentação gerou incômodos no PT pernambucano. O senador Humberto Costa reclamou da aliança de João Campos com o clã Coelho e disse que o partido não foi ouvido pelo prefeito.

“Estranhei bastante. Tenho uma boa relação com Fernando Bezerra, mas temos divergências muito grandes com o grupo político que ele lidera. Foi uma aproximação que se deu sem que atores que estão com o PSB na prefeitura tenham sido ouvidos. O PT não foi chamado para essa discussão, para dizer o que acha, se é bom ou não”, diz o petista.

Interlocutores da senadora Teresa Leitão, outra liderança do PT no estado, também dizem que ela ficou insatisfeita. A parlamentar não se manifestou publicamente sobre o assunto.

Questionado sobre a reação da base aliada, o prefeito João Campos lembrou as alianças de Lula com segmentos que não apoiaram a sua candidatura em 2022 para assegurar a governabilidade no Congresso.

“A gente fez uma aliança seguindo os ensinamentos do presidente Lula. Eu aprendi a fazer política juntando forças para poder ter um projeto que entregue mais qualidade de vida às pessoas. Então, é assim que a gente vai seguir fazendo”, afirmou.

Grupos do PT avaliam que há uma tentativa do prefeito de se fortalecer e isolar a legenda de Lula. Por outro lado, o presidente do PT no Recife, Cirilo Mota, compareceu à posse de Antonio Coelho e discursou. Afirmou que é hora de pensar nos projetos para o Recife. Ele não faz parte dos grupos internos dos dois senadores no PT.

O presidente estadual do PT, Doriel Barros, disse, na sexta (22), que o partido tem Humberto Costa como pré-candidato a governador em 2026. O senador, porém, disse que será candidato, mas ainda não sabe se a governador ou à reeleição ao Senado.

O acordo com João Campos também prevê que o PSB apoiará a reeleição do prefeito de Petrolina, Simão Durando (União Brasil), ex-vice de Miguel Coelho.

Em 2022, Miguel Coelho fez críticas ao PSB durante a campanha para o governo estadual. Afirmou que o partido “é bom de desculpa e mimimi”. Questionado sobre a mudança de posição, ele disse que “o que atrasava o PSB já deixou o partido”, em referência ao ex-governador Paulo Câmara, atual presidente do Banco do Nordeste.

A vaga que Antonio Coelho ocupou na Secretaria de Turismo foi aberta após o rompimento do PSD com João Campos. O partido, comandado no estado pelo ministro da Pesca e Aquicultura, André de Paula, deixou a pasta e optou por aderir ao governo de Raquel Lyra, em revés para o prefeito da capital, que reagiu com a aliança com o clã Coelho.

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