Francisco Dutra
Sete em cada dez brasilienses preferem que o vice Michel Temer assuma a Presidência da República no lugar da presidente Dilma Rousseff. Mas a ascensão de Temer não voa em céu de brigadeiro. Praticamente metade da população do Distrito Federal vê o eventual novo governo com desconfiança e não crê que ele terá forças para retirar o Brasil da crise política e econômica.
Segundo especialistas, se o mandato “tampão” não apresentar resultados no primeiro mês, será dinamitado pela opinião pública. O diagnóstico é de pesquisa do Instituto Exata de Opinião Pública (Exata OP) que o Jornal de Brasília publica com exclusividade. O mapeamento foi concluído ontem com 700 entrevistas.
Considerando a votação do impeachment no Senado, 70,3% dos entrevistados querem que Temer assuma o Planalto, enquantol 10,1% são favoráveis a continuidade de Dilma. Não souberam ou não quiseram se posicionar 19,6%.
Sinal amarelo
Na pesquisa, o sinal de alerta para o provável governo Temer ficou claro. A princípio, 47,9% das pessoas nutrem a expectativa de melhora. No entanto, 47% revelaram expectativas negativas de que um novo governo não terá forças para tirar o País do ciclo negativo.
Em números, 30,6% dizem que a crise seguirá com a mesma intensidade. Além disso, 16,4% preveem piora do drama nacional.
“As pessoas querem mudança e Temer está sendo beneficiado pela situação. O cidadão prefere uma nova administração. Mas existe um pessimismo muito grande e pouca paciência. Tudo vai depender dos primeiros atos do novo governo e a primeira impressão é a que fica. Temer tem uma semana, talvez um mês, para conquistar a opinião pública. A população torce por mudanças, mas Temer precisa mostrar resultados rápido”, resume o coordenador do Exata OP, Marcus Caldas.
Prioridade será a estabilização da economia
A prioridade zero da gestão Temer deve ser a estabilização da economia, do ponto de vista de Marcus Caldas. É óbvio que a crise nacional não pode ser sanada em poucos dias ou meses, mas o eventual novo governo precisa dar sinais concretos de que pretende recolocar as contas nacionais nos trilhos, diz o especialista.
“A manutenção dos trabalhos da Lava Jato e das investigações da Polícia Federal também é fundamental. A população não vai aceitar que as investigações sejam interrompidas. Outra medida necessária é a redução dos ministérios”, acrescenta Caldas.
O cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) João Paulo Peixoto também considera que Temer precisa manter o apoio no Congresso Nacional para estabilizar o governo “tampão”. Para o especialista, nenhuma dessas medidas é de fácil execução.
Professor de ciências políticas da UnB, David Fleischer acredita que, se a pesquisa fosse feita nacionalmente, teria resultados diferentes. “Dilma teria um pouco mais de apoio. E Temer teria um pouco menos. Ele tem uma forte rejeição a nível nacional”, argumenta.
Conforme a pesquisa, 79,9% dos brasilienses é a favor do impeachment. Caso Dilma seja afastada na primeira votação do Senado, 61,7% dos entrevistados julgam que ela não conseguirá retornar ao Planalto na segunda votação, prevista para 180 dias depois do afastamento.
Ponto de vista
Marcus Caldas calcula que o modelo de loteamento de cargos públicos caminha para o fim. “A população não aceita mais a indicação de pessoas que não pertencem aos setores em jogo”, afirma. Para o especialista, a força das alianças políticas foi superada pelo peso da aprovação da opinião pública. “Veja o exemplo do juiz Sérgio Moro. Considere tudo que ele conseguiu com o aval da população”, explica. Segundo Caldas, o eleitor ficou mais politizado. Transformou as redes sociais em arenas para a definição de opiniões e ações.