MARIANNA HOLANDA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) assumiu nos últimos meses a linha de frente de Jair Bolsonaro (PL) nos bastidores políticos e vem adotando uma defesa pública mais enfática do pai e dura contra o STF (Supremo Tribunal Federal). O movimento intensificou apostas de aliados para seu nome como alguém que Bolsonaro gostaria de indicar como sucessor ao Palácio do Planalto, embora o cenário ainda seja incerto.
A avaliação que, para alguns, é mais um temor é que o ex-presidente confia mais em seus filhos e acharia justo manter no clã o espólio eleitoral. Dentro dessa lógica, Flávio seria o nome mais viável.
Além disso, interlocutores que estiveram com Bolsonaro nas últimas semanas relatam que ele põe empecilhos a todos os outros nomes citados, de governadores à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. A auxiliares, ele reafirmou recentemente que ela será candidata ao Senado pelo Distrito Federal.
Por outro lado, o ex-presidente dá sinais contraditórios e, com o isolamento da prisão domiciliar, o contato com o mundo político fica restrito. Em determinado momento, segundo relatos à reportagem, ele já chegou a dizer que não quer sua família em cargos do Executivo, por acreditar que seus ocupantes são mais suscetíveis que os parlamentares a supostas perseguições do Judiciário.
Bolsonaro já foi declarado inelegível pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Além disso, nesta sexta-feira os ministros da Primeira Turma do STF votaram, por unanimidade, para rejeitar os primeiros recursos da defesa no caso da trama golpista, no qual ele foi condenado a 27 anos de prisão o que pode deixá-lo sem direito de concorrer até 2062.
A iminência de um desfecho para o caso ampliou as pressões de setores da sociedade e do mundo político por uma decisão sobre 2026.
No início do ano, havia expectativa de que, quando fosse preso, Bolsonaro anunciasse a quem gostaria de entregar o seu capital político. Com isso, os partidos de direita poderiam organizar suas candidaturas e campanhas para o próximo ano. O nome preferido era e continua sendo o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Flávio sempre negou publicamente qualquer alternativa ao pai na disputa ao Planalto e diz ser candidato à reeleição no Senado, mas seu nome se mantém na bolsa de apostas há meses. Como a Folha de S.Paulo mostrou em julho, aliados diziam à época que a disputa estava afunilando entre o senador e Tarcísio.
Desde então, o ex-presidente foi colocado em prisão domiciliar antes do esperado, em agosto. Outros nomes surgiram para a sucessão, notadamente, de governadores de direita e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Em paralelo, a atuação deste nos Estados Unidos levou a tarifas a produtos brasileiros, além de sanções a ministros do STF.
Nesse movimento, Tarcísio teria se desanimado para a disputa. Ele visitou Bolsonaro mais de uma vez, repetindo na saída que é candidato à reeleição em São Paulo. A interlocutores, diz que só deixaria o Palácio dos Bandeirantes se fosse a pedido do ex-presidente algo que, até o momento, não teria sido formalizado.
Bolsonaro, por sua vez, diz que este não é o momento de decidir quem indicará, só mais adiante, sem dizer quem escolherá ou qual o prazo que definiu.
Parte dos interlocutores do ex-presidente acredita que o governador será mesmo o candidato, e que há alguma espécie de acordo tácito entre Tarcísio e Bolsonaro para que o anúncio seja feito apenas no próximo ano, antes da janela partidária.
ATUAÇÃO NOS BASTIDORES
Enquanto isso, Flávio mantém a interlocução primordial com o mundo político. Ele discute candidaturas internamente e com outros partido, como porta-voz do pai, um papel de bastidor que ele já é conhecido por exercer.
Flávio foi escalado pelo pai para ir aos Estados Unidos conversar com Eduardo para “alinhar discurso” com o irmão. O deputado adotou um tom mais radical desde que foi para o exterior e não tem poupado ataques a aliados de direita, em especial Tarcísio. A troca de farpas pública é algo que incomoda Bolsonaro.
Aliados de Eduardo dizem que eles conversaram sobre 2026 e que os dois estarão juntos apoiando o mesmo candidato que o ex-presidente.
O senador também tem intensificado ataques ao governo Lula (PT), sobretudo no que diz respeito à segurança pública, e ao STF.
Dos filhos, Flávio sempre foi o mais moderado e defendia uma anistia “a todos, inclusive a Moraes”.
Depois, adotou tom mais crítico e passou a defender o impeachment do magistrado.
Em entrevista à Folha de S.Paulo em junho, ele disse que um eventual candidato, para receber o apoio do pai, deve não só conceder indulto a ele, mas brigar com o Supremo por isso, se preciso.
Ele também participa de conversas e eventos políticos, em nome do pai. Na última sexta (7), foi à posse do novo conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado) de São Paulo, Wagner Rosário, que foi ministro da CGU de Bolsonaro. O evento serviu como uma espécie de desagravo ao ex-presidente.
Tarcísio, em seu discurso, disse que gratidão não prescreve e fez um gesto ao senador. “Queria agradecer muito as presenças especiais dos senadores Rogério Marinho e Flávio Bolsonaro. E dizer, Flávio, que teu pai está presente aqui conosco: você representa o presidente Jair Bolsonaro, que não está aqui, mas, com certeza, está muito feliz com a posse do Wagner de Campos Rosário”, afirmou.
Wagner Rosário também lembrou de Bolsonaro e embargou a voz para falar do ex-presidente. Segundo relatos, os presentes ficaram emocionados, inclusive Flávio.
Nas redes sociais, o senador também publicou uma foto com Wagner e Tarcísio e disse que dias melhores virão.
“Jair Bolsonaro era quem deveria estar na Mesa de Honra comemorando com a gente sua merecida posse no TCE/SP, mas a perseguição implacável, covarde e ilegal não permitiu. Dias melhores virão, para o Brasil e para São Paulo contigo numa missão tão especial. Parabéns pela certeira indicação, Tarcisão!”, escreveu.
Em participação por videoconferência na inauguração da sede regional do PL em Atibaia, Flávio insistiu que o pai será eleito novamente presidente da República.
“Podem ter certeza: a gente não vai desistir do nosso Brasil. O presidente Bolsonaro está passando por esse momento de perseguição, mas a gente vai dar uma resposta a cada um que hoje promove essa perseguição implacável desleal e injusta. Porque a gente vai junto subir a rampa em Brasília pela eleição do nosso presidente Bolsonaro”, afirmou.