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Política & Poder

Fiquei com muito medo de morrer sem me defender, diz Pezão sobre vida após Covid

Pezão, 66, voltou à carga contra o coordenador da força-tarefa da Lava Jato fluminense, Eduardo El Hage, e o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal

Redação Jornal de Brasília

12/06/2021 8h38

Catia Seabra
Piraí, RJ

Condenado a 98 anos e 11 meses de reclusão, o ex-governador do Rio de Janeiro Luiz Fernando Pezão, 66, voltou à carga contra o coordenador da força-tarefa da Lava Jato fluminense, Eduardo El Hage, e o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, ao afirmar nesta quinta-feira (10) que os dois foram citados pelo advogado que o avisou de sua prisão com 15 dias de antecedência.

“Ele vendeu esse serviço. Ele vendeu essa informação. Ele falou que teria como me ajudar, que eu não seria preso, para eu não ser preso. Ele disse que Bretas e Al Hage estavam convencidos de que eu era sócio de uma empresa em Piraí. E que seria preso por esse motivo”, afirmou Pezão, seis dias depois de ser condenado por Bretas.

Como informou o jornal O Dia, Pezão diz ter sido alertado pelo advogado Nythalmar Dias Filho duas semanas antes de ser preso, no dia 29 de novembro de 2018.

À Folha Pezão conta ter recebido Nythalmar no Palácio Guanabara, sede do governo fluminense. Segundo ele, a conversa com o criminalista foi intermediada pelo empresário Fernando Cavendish, ex-dono da Delta Construções, que firmou acordo de delação premiada e indenização de R$ 21 milhões.

Pezão afirma que riu ao ouvir que a força-tarefa não tinha dúvidas de sua participação na empresa. Mas hoje percebe que Nythalmar tinha trânsito, “protagonismo”. “Não levei fé. Depois que começou a surgir o nome dele eu fui ver que era a mesma pessoa que eu tinha recebido”, diz.

Ele se refere ao fato de Nythalmar ser alvo de investigação por suposto tráfico de influência na Lava Jato do Rio e estar prestes a fechar acordo de delação premiada com a PGR (Procuradoria-Geral da República), como antecipou a coluna de Mônica Bergamo.

Questionado sobre o fato de a prisão ter sido decretada pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), Pezão diz acreditar que a PGR se baseou em informações fornecidas pela força-tarefa do Rio para fazer o pedido de detenção.

Vinte e três quilos mais magro devido à Covid-19 —a ponto de sua tornozeleira ter sido ajustada—, Pezão fala, nesta entrevista, do um ano e 11 dias vividos na cadeia. Enquanto dissolvia requeijão no café preto, o ex-governador também contou sobre a rotina desde que passou a cumprir prisão domiciliar, no dia 11 de dezembro de 2019, em Piraí, no sul do Rio de Janeiro.

NYTHALMAR
Ele chegou lá falando para mim assim: que queria me defender, que eu iria ser preso e que o dr. Bretas e o dr. El Hage não tinham dúvida que eu era sócio de uma construtora em Piraí.

RAQUEL DODGE
Tive meu sigilo quebrado. Fui investigado três anos e foi arquivado por unanimidade pelo STJ. O que ocorreu de março de 2018 para novembro de 2018 para a dra. Raquel Dodge e o dr. Félix Fischer pedirem minha prisão, falando que tinha sinais de ter até R$ 39 milhões? O que me deixa mais revoltado e perplexo é como de março de 2018 a novembro de 2018 eu viro essa pessoa, se tinha sido arquivado.

EL HAGE
Quando vou preso entram dez pessoas dentro do palácio, seis homens de fuzil e quatro mulheres de metralhadora apontados para Maria Lúcia e para mim na cama, dentro do palácio. E dr. El Hage gritando onde está o cofre. Eu: “Não tem cofre aqui, pô”.

CABRAL 2
Vou ficar questionando ele? Cada um tem sua vida. Duas semanas antes de ele ser preso fui na casa dele em Mangaratiba. Estava ouvindo falar que ele seria preso. Falei “Sérgio, você tem dinheiro no exterior? Faz repatriamento”. Ele me disse: “Pezão, você vem no sábado para ser piloto de trem fantasma”. Foi minha última conversa com ele.

LAVA JATO
A engenharia nacional foi liquidada.A arrecadação de impostos caiu. Em nome de quê? Será que não valeria a pena só punir os donos e deixar as empresas funcionando? Parar investimento em cima de quê? Fazer aquele fundo que a procuradoria queria fazer de R$ 2 bilhões? De eleger um procurador em cada estado como era a proposta do Dallagnol, de ter um fundo e lançar, de ter aqui o juiz Witzel bancado?

CAIXA DOIS
Hoje tenho certeza que teve caixa dois. O Sérgio falou que foi. Ele que tocou a campanha. Nunca poderia imaginar. Minha campanha custou R$ 75 milhões, já era dinheiro demais para mim. Você vai fazer o que com o mandato gastando dinheiro desse? Por isso, sou favorável ao financiamento público.

FORÇA-TAREFA
É um movimento orquestrado, um projeto político. Não dá para um juiz igual ao Moro ser ministro. Bolsonaro foi um instrumento político para atingir os objetivos dele.

PROCESSO CONTRA LULA
Um absurdo. Quando vi aquele processo contra o Lula a gente começa a duvidar de tudo. Como você pode condenar uma pessoa se não tem escritura e o cara não morou ali? Ilações? Destroem o cara e colocam dois anos na cadeia?

ROTINA NA PANDEMIA
Com essa Covid-19 até o bar do torresmo acabou. Estou ficando em casa, lendo. Acordo de madrugada, leio jornais. Leio os blogs, revista e jornal. Mas ando na cidade e recebo amigos.

RAIO-X
Luiz Fernando Pezão, 66
?Natual de Piraí (RJ), é formado em economia. Foi vereador (1982-1988 e 1993-1996) e prefeito da cidade por dois mandatos (1996-2004), vice-governador do Rio de Janeiro (2007-2014) e governador (2014-2018), sempre pelo MDB

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