Fernanda Brigatti
São Paulo – SP
A Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) terá nesta segunda-feira (16) seu dia de acerto de contas -ou de lavar a roupa suja, a depender de quem olha. Está marcada para as 14h a assembleia geral extraordinária que poderá terminar na destituição de Josué Gomes da Silva, o atual presidente.
Também nesta segunda, Josué recebe na Fiesp o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que é também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviço (MDIC). O convite para um almoço, como antecipou o Painel S.A., foi visto como uma sinalização de força do atual presidente da federação.
Amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Josué Gomes chegou a ser convidado a assumir o MDIC. Ele recusou o convite, mas a proximidade com o novo governo é vista por pessoas próximas ao imbróglio como um fator favorável a ele.
Uma das críticas da oposição à gestão de Josué Gomes é a de que ele seria ausente do dia a dia da federação, dedicando mais tempo às empresas que administra do que à entidade. Para ficar, defendem que ele precisará demonstrar que tem tempo para liderar a representação da indústria paulista.
A plenária dos delegados representantes de sindicatos ligados à indústria paulista foi marcada após uma sequência de pressões públicas e privadas pela convocação da reunião. O primeiro pedido feito por um grupo de 78 sindicatos foi rejeitado por Josué. Na reunião em que apresentou a decisão, o presidente da Fiesp afirmou que esse tipo de solicitação precisava estar acompanhada de motivos claros e detalhados.
Alguns dias depois, o grupo encaminhou à Fiesp novo pedido, dessa vez com 12 pedidos de explicações à presidência da Fiesp. Sem resposta do presidente, os sindicatos manifestaram à primeira-secretaria da federação, ocupada pelo industrial Vandermir Francesconi Júnior, a necessidade de realizar a reunião.
Sem resposta, o grupo publicou a convocação dessa assembleia para o dia 21 de dezembro, mas acabou recuando quando, dia depois, o próprio Josué Gomes convocou a reunião marcada para esta segunda.
As discordâncias com a atual presidência teriam começado cerca de quatro meses depois do início do mandato e foram se acumulando até que “vazaram” para além do prédio da avenida Paulista, em São Paulo.
Dirigentes que assinaram o pedido de assembleia reclamam que Josué Gomes não participa do dia a dia da entidade, não recebe representantes dos sindicatos e deixou de receber indicações desses grupos para cargos na federação.
Gomes substituiu Paulo Skaf no comando da Fiesp, que ficou 17 anos à frente da instituição e o apoiou na disputa. O ex-presidente da Fiesp é apontado como um articulador da crise com o atual, mas aliados o defendem e dizem que ele só foi procurado quando a relação de Josué com os dirigentes já tinha azedado.
Na oposição, dirigentes dizem que a destituição de Josué Gomes não é único resultado possível e que o desfecho dependerá da maneira como o atual presidente tratará as insatisfações dos sindicatos. Se ele sair, deverá ser substituído por Rafael Cervone, seu vice, que hoje comanda o Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).
O que os sindicatos querem de Josué Gomes Os pontos de tensão na relação entre Josué Gomes e esses sindicatos podem ser vistos no detalhamento de motivos pelos quais esses defenderam a realização da assembleia.
O estilo discreto e mesmo avesso a entrevistas incomoda os dirigentes que assinam o pedido, assim como o fato dele te assinado, em nome da Fiep, um manifesto pela democracia. Apesar de apartidário, o documento foi entendido como de oposição ao então presidente Jair Bolsonaro (PL) -Skaf foi aliado dele e o apoiou nas eleições de 2022.
Em um dos itens, os sindicatos insatisfeitos questionam as razões pelas quais a Fiesp publicou o manifesto. O texto das entidades foi divulgado dias antes do ato de 11 de agosto, na Faculdade de Direito da USP, e foi referendado por apenas 13,7% dos sindicatos filiados à Fiesp.
“Queira esclarecer se os sindicatos filiados foram consultados quanto ao conteúdo do texto publicado pela Fiesp e se tiveram a oportunidade de debater e deliberar sobre o tema”, escrevem, e também pedem que ele diga se o texto foi discutido pela diretoria “uma vez que o tal ato indicou um claro posicionamento político da entidade e que, pelo momento, teria ganhado contorno de posicionamento político e institucional.”
Em outro ponto, o grupo pede que justifique um artigo publicado na Folha de S.Paulo em março, no qual escreveu considerar que a arbitragem comercial enfrentava grave crise de confiabilidade. Para os sindicatos, o conteúdo do texto de opinião assinado por Josué desprestigia a Câmara de Arbitragem da Fiesp.
Os sindicatos pedem que ele faça uma relação de visitas presenciais em Brasília (DF) para discutir questões importantes para a indústria junto ao Legislativo federal e detalhe o número de entrevistas concedidas em prol da defesa do setor.
Ele querem que Josué Gomes explique as atividades exercidas por algumas pessoas em órgãos ligados à Fiesp, como é o caso do Sesi e Senai.
A composição dos departamentos e conselhos, apontados por aliados e opositores como uma fonte de tensão entre os sindicatos e Josué, também aparece no detalhamento do pedido. Para a oposições, Gomes deve justificar a participação ou ausência dos sindicatos nesses espaços.
A assembleia marcada para esta tarde será a portas fechadas. Somente os representantes indicados pelos sindicatos (a maioria deles, os presidentes) poderão participar.
Na última semana, lideranças ligadas aos sindicatos de oposição à atual gestão monitoravam a possibilidade de alguma manobra judicial tentar impedir a realização da assembleia ou, preventivamente, barrar um resultado.