O secretário de Educação, Marcelo Aguiar, assumiu o cargo em meio a duas polêmicas. Primeiro, acirrava-se a discussão sobre ciclos e semestralidade nas escolas públicas, que inclusive contribuiu para a queda do seu antecessor, Denílson Bento. No jogo político, os dirigentes do PDT, a que Aguiar é filiado, desautorizaram a escolha, uma vez que a legenda rompeu com o Buriti há mais de dois anos. Mesmo assim, o secretário mantém a esperança de que os dois lados se aproximem para a próxima eleição. Claro que o gesto do governador buscava uma ponte de interlocução, admite.
Quando podemos imaginar que Brasília terá escolas em tempo integral para todos?
Não é um processo rápido, nem fácil. Implantar escola integral não envolve apenas a ampliação do espaço físico da escola, mas também uma ampliação muito grande no número de profissionais da rede pública. Nós estamos tomando iniciativas agora, a partir da minha chegada, três meses atrás. Tomamos a decisão de aceitar uma sugestão feita no início do governo pelo senador Cristovam Buarque, de implantar educação integral por cidade, em vez de forma dispersa em todo o DF. Por não ser em toda a rede não tem o impacto em cada cidade que poderia ter. A universalização em uma cidade criará as condições para que a gente possa medir o verdadeiro impacto que aquilo pode ter em um programa como esse naquela cidade. Nossa área técnica escolheu Brazlândia para iniciar. Todos os estudos foram feitos no sentido de avaliar quais investimentos precisam ser feitos na cidade em todas as escolas, em relação à ampliação de espaço, melhoria nas condições de cada escola, de utilização de espaços na cidade e também no aumento no número de profissionais. Brazlândia vai ser um modelo que pretendemos ir replicando ao longo do tempo em todo o DF. Isso já está sendo feito com consulta à comunidade. Estamos com a intenção de transformar Brazlândia em uma cidade educadora. Então, a partir do primeiro semestre do ano que vem, 100% dos alunos de lá estarão com escola integral.
Um leitor pergunta sobre a falta de escolas públicas em Águas Claras. Quando será resolvido?
O leitor tem razão. Realmente falta. Inclusive, a gente já tinha identificado isso em 2010, na minha primeira passagem pela secretaria. Agora, eu já conversei com a nossa equipe de engenharia no sentido de colocar no plano de obras do ano que vem pelo menos uma escola em Águas Claras, para atender um pouco da demanda até porque a maioria dos alunos de lá é atendida por Taguatinga, Guará e Núcleo Bandeirante.
O senhor assumiu a secretaria no meio da crise dos ciclos e da semestralidade nas escolas, com questionamento do Ministério Público, inclusive. O que mudou?
O que aconteceu naquele episódio foi falta de diálogo, de debate. Assim que eu tomei posse anunciei o debate. Fizemos uma série de encontros em todo o Distrito Federal. Conseguimos transformar o que era uma pauta negativa em positiva, na minha avaliação. A maioria das pessoas que criticavam aquele processo, não contavam com a interlocução. Também determinei que nenhuma escola seria obrigada a implantar. Todas poderiam decidir se queriam ou não implantar os ciclos e a semestralidade. Isso distendeu o clima e a maioria das escolas que já estavam iniciando o processo resolveu continuar. A Lei de Diretrizes Básicas da Educação dá autonomia à escola para se organizar pedagogicamente. Foi com base nessa autonomia prevista pela lei que eu coloquei a opção implantar ou não. Acho que estamos conseguindo superar o problema. A proposta dos ciclos não é uma coisa inventada agora e nem uma experiência que vai ser feita aqui no DF. O sistema de ciclos é utilizado largamente pelos países que têm os melhores indicadores em educação, como Coreia, Finlândia, Japão, mas é claro que toda e qualquer novidade causa apreensão, principalmente no meio dos professores.
No último domingo, foi realizado um concurso para professores. Os aprovados serão chamados em quanto tempo?
Nós estamos trabalhando com a Secretaria de Administração, com apoio do governador, para fazer o máximo de contratações logo no início do ano. Queremos, com isso, dar início à substituição do banco de temporários que nós temos. Na realidade, o chamamento de novos professores efetivos vem para diminuir o banco de temporários. Temos hoje um concurso de temporários vigente, que começa a não atender a demanda da secretaria. Houve uma grande convocação, quase seis mil professores, dois anos atrás. Essa convocação vem para suprir isso e para que a gente possa distribuir melhor os professores, assim consolidando o programa da educação integral também.
Existe um déficit de professores?
Não. O que existe é a necessidade normal, pelo crescimento da cidade e necessidade de construção de novas escolas. Um conjunto de escolas que será inaugurado e ampliado. Também a implantação da escola integral exigirá mais professores. O sistema de ciclos também exige da gente uma redução no número de alunos por sala e isso só acontece com mais professores.
É verdade que o absenteísmo dos professores constitui o grande problema para a qualidade da educação? Essas ausências são maiores do que em outras categorias?
Não, não é verdade que seja a causa dos problemas da educação. E o absenteísmo não é tão absurdo, mas tão grande como qualquer outra categoria. Claro que é uma profissão que exige muito fisicamente, porque o professor tem que ficar oito horas por dia em sala de aula falando. Isso causa problemas em cordas vocais. Em algumas regiões da cidade, mais problemáticas do ponto de vista de violência, você tem uma tensão dentro da escola. Isso também causa uma tensão nos professores. São problemas de saúde inerentes à profissão. E não é essa coisa tão absurda quanto parece.
E como se resolve esse problema?
Não é tão simples resolver, porque é uma profissão que exige fisicamente do profissional. E as tensões inerentes ao entorno do ambiente educacional não são resolvidas pela escola. Aí é uma ação mais ampla do governo e da sociedade para melhorar isso. Nós temos os serviços médico e psicológico que atendem esses professores com problemas de estresse e tensão. E como eu disse, o sistema de ciclos vai possibilitar a diminuição no número de alunos por professor.
Como foi a participação da comunidade nas eleições para diretores de escolas?
Essa foi a segunda. A primeira foi no ano passado. Não tenho ainda o balanço completo, mas o número de votos foi maior do que na eleição passada. Agora, essa eleição me causou uma preocupação, porque tivemos 70% das escolas com chapa única. Eu, pessoalmente, não acredito que 70% das escolas tiveram uma gestão tão boa que não apareceu nenhum concorrente. Mas quando você tem chapa única, o voto não também conta e se for maior do que o sim, a chapa única também perde, não é eleita. Não temos os números ainda, mas em algumas escolas aconteceu isso. A lei prevê que eu tenho que convocar uma nova eleição em 180 dias.
É inevitável que exista uma diferença tão grande de aproveitamento entre alunos de escolas públicas e privadas?
Eu não gosto de comparar os desiguais. A maioria das escolas que têm os melhores índices têm também sistema de seleção de alunos. Só entram os melhores. Já começa por aí. E elas, por cobrarem altas mensalidades conseguem atrair os melhores profissionais. Paga-se muito bem para atrair os melhores quadros. E a maioria das escolas tem focado seus processos pedagógicos nessas avaliações, vestibular e Enem. Os alunos são preparados para responder aqueles itens, para que sua escola tenha o melhor resultado. Na rede pública é diferente. Como ela é pública, democrática e universal, tem que atender todo mundo, seja qual for sua condição sócio-econômica e seu rendimento escolar. Enquanto nós não tivermos a escola pública com as mesmas condições de infraestrutura, material pedagógico, seus professores, a gente não vai conseguir avançar tanto quanto essas escolas que trabalham um universo mínimo de alunos. E a escola pública são todos os alunos da rede, 500 mil alunos. O Olimpo não: trabalha ali com mil alunos e foca nos itens da prova e vai embora. É diferente.
Quando o senhor foi convidado para a secretaria, existia a expectativa de que trouxesse novamente o PDT para a base do governo. Isso lhe causou algum desgaste político?
Claro que todo gesto de qualquer governador no mundo tem fundo político. Mas quando ele me chamou, me disse que queria que gostaria de usar minha experiência em gestão. Tinha acabado de sair do Ministério do Trabalho, mas ele já tinha me chamado antes, quando eu ainda estava lá. Depois que saí, ele voltou a conversar comigo, mas eu disse que tinha um problema, o partido não está no governo e ele insistiu, dizendo que era um convite em caráter pessoal e, não, partidário. O governador disse que o partido não indicaria ninguém porque decidiu ficar independente em relação ao governo. Mesmo assim, fiz questão de conversar antes com todas as principais lideranças do partido. Conversei com Cristovam, com Reguffe, com George Michel, presidente do partido, e deixei claro que se eu aceitasse o convite, seria em caráter pessoal. Claro que esse gesto do governador veio no sentido de criar uma ponte de interlocução interna. No primeiro momento, houve reação interna do partido, mas a coisa tem caminhado bem. Eu tenho mantido distância da vida partidária, até porque pedi licença do partido. Nem o PDT, nem ninguém ainda decidiu o que vai fazer, a não ser terem lançar candidaturas, como a do Reguffe. Acho que isso só vai se decidir lá para abril.
O senhor alimenta esperanças de que o PDT esteja junto com o governador nas eleições?
Alimento, porque acho que, para o partido, ainda é o melhor caminho. Houve esse afastamento no início do governo, por conta de decisões do governador que desagradaram o partido, mas como diz o senador Cristovam, apesar de muita gente dizer que não existe esquerda e direita, existe o lado “de lá” e o lado “de cá”. Eu, particularmente, não prefiro estar do “lado de lá”. Outro dia, eu estava conversando com o deputado distrital Joe Valle, que foi para o PDT, e ele me dizendo “Como eu vou para a Câmara e ficar do lado da Liliane Roriz, da Eliana Pedrosa, da Celina Leão, contra os nossos companheiros históricos, Arlete Sampaio, Chico Leite, Chico Vigilante? São as pessoas que sempre estiveram de nosso lado”.
Não pode haver dois lados “de cá”?
Pode, também, mas sempre que acontece a divisão, o lado de lá ganha. Vamos lembrar. Quando a Arlete e o Augusto Carvalho foram candidatos ao Senado, ganhou Luiz Estevão.
Tem muita gente no Buriti dizendo que a chapa dos sonhos seria Agnelo governador e Reguffe senador. Isso pode se concretizar?
Se depender de mim, pode. Acho que estou falando demais… Olha, todo e qualquer partido tem autonomia para lançar seus candidatos, é legítimo, justo. Agora, nós temos que pensar em um projeto para a cidade. Em qual a melhor maneira de construir esse projeto. Também em como não deixar que aconteçam os problemas que aconteceram no passado recente e venham a se repetir. Acho que o campo democrático tem uma responsabilidade muito grande nesse processo agora, de consolidação de um projeto que foi interrompido em 1998.
O senhor falou sobre a tentativa de reaproximação. Essa ponte já trouxe algum resultado?
Não. Ainda não. Não sei se pode acontecer, mas vamos tentar.