Uma especialista das Nações Unidas pediu, nesta quinta-feira (12), a proibição de 20 “instrumentos modernos de tortura” utilizados pelas forças de segurança em todo o mundo, alguns dos quais são semelhantes aos utilizados pelos “torturadores medievais”.
“Os itens na minha lista de artigos proibidos não são apenas instrumentos de tortura modernos. São tão horríveis quanto os potros e os esmagadores de polegares usados pelos torturadores medievais”, alertou Alice Edwards, relatora especial sobre tortura, ao apresentar um relatório a um comitê da Assembleia Geral da ONU.
Essas 20 ferramentas são “intrinsecamente cruéis, desumanas ou degradantes”, pois foram “projetadas com o único propósito de causar dor”, acrescentou em uma coletiva de imprensa.
A lista inclui instrumentos “antigos” como cassetetes com espinhos, camas-gaiola, esmagadores de polegares, escudos com espinhos, “sjamboks” (chicotes tradicionais), “lathis” (cassetetes longos de madeira ou bambu) e até correntes que prendem os detidos entre si.
Alguns deles “lembram as imagens dolorosas e degradantes associadas à escravidão e à servidão”, denunciou a especialista designada pela ONU, que, no entanto, não falou em nome da organização.
Sua lista também abrange capuzes ou vendas para os olhos, bem como armas de descarga elétrica e equipamentos mais sofisticados, como armas de ondas milimétricas.
Esse armamento de energia é “projetado para aquecer a camada superior da pele quando apontado para uma multidão, de modo que as pessoas se dispersam devido à dor insuportável, sem saber de onde vem”, explicou.
De acordo com sua pesquisa, 335 empresas de 54 países em todas as regiões fabricam ou promovem essas 20 ferramentas.
Além de proibi-las imediatamente, ela instou os países a elaborarem um inventário de seus equipamentos policiais e a destruírem esses artefatos se fizerem parte dele.
A especialista também pediu um tratado internacional que proíba seu comércio, cujos “tentáculos se estendem por todo o mundo”, à espera que a Assembleia Geral da ONU inicie negociações nesse sentido.
Em termos gerais, ela também falou sobre um “aumento significativo nas acusações de tortura” durante o ano passado, especialmente as “relacionadas com a guerra”.
Ela apontou para a Rússia, cujas forças armadas são alvo de “acusações críveis” na Ucrânia: “Minha visita recente à Ucrânia confirmou o pior, sugerindo que a tortura é uma política de Estado russa”.
“A tortura e outros tratamentos desumanos também foram observados infelizmente em conflitos no Haiti, Mali, Mianmar, Sudão e Iêmen”, acrescentou, expressando sua preocupação com a frequência da “tortura sexual”.
© Agence France-Presse