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Política & Poder

Ernesto Araújo pede demissão do Itamaraty

Ernesto vivia forte pressão nos últimos dias e, nesta segunda (29), desmarcou sua agenda e reuniu a equipe para anunciar o pedido

Redação Jornal de Brasília

29/03/2021 12h29

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pediu demissão nesta segunda-feira (29). Ernesto vivia forte pressão nos últimos dias.

Antes do pedido, o agora ex-ministro desmarcou os compromissos de sua agenda e reuniu a equipe do Itamaraty pela manhã para anunciar o pedido. Em seguida, Ernesto foi até o Palácio do Planalto e pediu ao presidente Jair Bolsonaro para deixar o cargo.

Ernesto passou 2 anos e 3 meses no cargo. Ele, que à época de sua posse era um desconhecido diplomata recém-promovido a embaixador, deixa o posto após ter amealhado a aversão de diferentes setores da sociedade e do governo. Das cúpulas do Congresso Nacional aos generais que aconselham Bolsonaro, de grandes empresários a lideranças do agronegócio, todos se uniram nos últimos dias para tirá-lo da Esplanada.

A demissão de Ernesto, um admirador declarado do escritor Olavo de Carvalho, é também um duro golpe na ala ideológica do bolsonarismo, que nos últimos anos conviveu com portas abertas no Itamaraty.

Embora sempre tenha enfrentado resistências por ter promovido uma guinada ultraconservadora no ministério, o destino de Ernesto foi selado após os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), terem se unido à coalizão para afastá-lo do governo.

Ainda não se sabe quem ocupará a vaga.

Pressão

Na semana passada, Ernesto Araújo foi bombardeado em uma comissão do Senado. Criticado duramente, ele ouviu de dezenas de parlamentares o pedido para que deixasse o cargo, até mesmo por iniciativa própria. O Congresso tem interpretado que Araújo não tem trabalhado da melhor forma possível para negociar a compra de vacinas contra a covid-19, por exemplo.

O principal flanco de desgaste de Ernesto em seus meses finais no cargo foi a relação com a China, maior parceiro comercial do Brasil e país exportador da matéria-prima utilizada tanto pelo Instituto Butantan quanto pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) na produção de imunizantes contra o coronavírus.

Em 22 de março, Lira e Pacheco tiveram um encontro em São Paulo com grandes empresários, que não pouparam Ernesto. O chanceler foi chamado de omisso e acusado de executar na política externa o negacionismo de Bolsonaro na pandemia, o que teria feito o Brasil perder um tempo precioso nas negociações por vacinas e insumos para o combate à Covid-19.

Na reunião, a suposta omissão de Ernesto foi apontada como um dos fatores para a situação de calamidade pela qual o Brasil passa, com recordes diários de mortes pelo vírus, risco de escassez de medicamentos e ritmo de vacinação insuficiente para fazer frente aos meses mais duros da doença.

Além disso, Araújo e Kátia Abreu, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, vivem embate há dias.

O ataque de Ernesto à Kátia, no entanto, teria atingido todo o Senado. Quem conta é o próprio presidente da Casa, Rodrigo Pacheco. Um grupo de senadores voltou a cobrar neste domingo (28) a demissão dele, cuja permanência no cargo é considerada insustentável até mesmo por integrantes do governo.

No domingo (28), Ernesto postou em uma rede social que não teria cedido a um pedido de Katia Abreu, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, para acenar ao lobby chinês em relação ao tema do 5G no país. A acusação gerou forte reação de deputados e senadores, e Katia Abreu chegou a chamar o agora ex-chanceler de marginal. No dia seguinte, houve movimentações para formular um pedido de impeachment e a ameaça de que indicações para postos diplomáticos seriam bloqueadas.

Em nota, Kátia acusa Ernesto de mentir e o chama de marginal. “O Brasil não pode mais continuar tendo, perante o mundo, a face de um marginal. Alguém que insiste em viver à margem da boa diplomacia, à margem da verdade dos fatos, à margem do equilíbrio e à margem do respeito às instituições”, escreveu a parlamentar. “Alguém que agride gratuitamente e desnecessariamente a Comissão de Relações Exteriores e o Senado Federal”, completou.

Em áudio enviado a senadores, mais cedo, ela pediu aos colegas uma “reação séria” às postagens de Ernesto, que, segundo ela, estaria afirmando que o Senado se vendeu ao lobby chinês. “Concomitante a esse tuíte, porque eles são muito organizados, está em todas as redes bolsonaristas a mensagem de que o Arthur Lira [PP-AL, presidente da Câmara] e os senadores se venderam para a empresa do 5G chinês. Isso é uma orquestração para segurar o chanceler”, disse Katia Abreu no áudio, obtido pelo jornal Folha de S.Paulo.

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