DIEGO FELIX
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
A defesa do banqueiro Daniel Vorcaro apresentou à 10ª Vara Federal do Distrito Federal um documento em que afirma que, durante videoconferência realizada no último dia 17, o empresário comunicou o Banco Central sobre uma viagem que faria aos Emirados Árabes. O objetivo seria a assinatura do contrato de venda do Banco Master.
Na noite do mesmo dia, ele foi detido pela Polícia Federal, no aeroporto de Guarulhos, suspeito de tentativa de fuga do país. Os representantes do controlador do Master negam essa intenção.
Os advogados de Vorcaro distribuíram à imprensa um despacho assinado nesta terça-feira (25) pelo chefe-adjunto do Desup (Departamento de Supervisão Bancária do BC), Paulo Sérgio Neves de Souza. O documento indica que o banqueiro relatou a diretores do BC sobre tratativas da venda do Banco Master para o Grupo Fictor –anunciada na tarde do dia 17– e que faria, ainda naquele dia, uma viagem a Dubai para assinatura do contrato e anúncio da operação com investidores estrangeiros no negócio.
Segundo o despacho, além de Paulo de Souza, participaram da reunião o diretor de Fiscalização, Aílton de Aquino Santos, e o chefe do Desup, Belline Santana. Procurado, o BC disse que não comenta investigações em curso.
Como a Folha de S. Paulo mostrou, investigadores da operação que resultou na prisão de Vorcaro suspeitam que a proposta de compra do Master pela Fictor tenha sido uma espécie de simulacro para facilitar a fuga do banqueiro do país. A oferta teria sido feita em conjunto com investidores dos Emirados Árabes cuja identidade nunca foi revelada.
O documento apresentado pela defesa do banqueiro é resposta a um pedido feito ao BC via Lei de Acesso à Informação. Era solicitado o acesso à gravação da videoconferência bem como o registro dos assuntos tratados.
Como o BC não faz registros de reuniões do tipo, foi necessária a emissão de um despacho oficial do órgão com detalhes sobre o encontro.
“Ficam absolutamente afastadas as especulações de tentativa de fuga de Daniel Vorcaro, que, na verdade, buscava -e continuará buscando- soluções de mercado hígidas para o conglomerado Master, com boa-fé, transparência e deferência ao regulador”, afirma em nota a defesa.
Além da venda do Master, Vorcaro relatou aos diretores do BC que esperava assinar, no dia seguinte à reunião, o contrato de alienação da Will Financeira e que estava trabalhando para anunciar a venda do Banco Master de Investimentos até o fim daquela semana.
Neste momento, o banqueiro está preso no Centro de Detenção Provisória 2, em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. A defesa argumenta na Justiça que a prisão é ilegal, não tem base em fatos novos e poderia ser substituída por medidas cautelares.
Durante o fim de semana, os advogados do banqueiro divulgaram uma série de documentos para contestar a base da investigação da Polícia Federal que culminou na liquidação extrajudicial do banco.
Os documentos, que incluem notas do Banco de Brasília (BRB) e ofícios do BC, são usados para alegar que o suposto crime de fraude ou prejuízo de R$ 12,7 bilhões é um “fato inexistente”, pois o Master agiu em “boa-fé” para proteger o BRB de qualquer perda.
Investigações do BC, Ministério Público Federal e Polícia Federal mostraram que o Banco Master teria vendido ao BRB carteiras de consignado forjadas no valor de R$ 12,2 bilhões, o equivalente a mais de 20% das operações de crédito do banco de Brasília.
Os advogados afirmam, no entanto, que, ao identificar que a documentação das operações adquiridas de terceiros estava fora do padrão, o próprio banco teria iniciado a substituição dos ativos, evitando o prejuízo ao BRB.