A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Crise Aérea vai ouvir na próxima quinta-feira (9) um representante da Airbus. O nome deverá ser definido até a segunda-feira (6), advice de acordo com o 1º vice-presidente da CPI, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Dois advogados da fabricante no Brasil, que acompanharam os trabalhos da CPI na tarde desta quinta-feira, prometeram apresentar um nome, após conversas com a companhia. Eles foram contratados para acompanhar a investigação sobre o acidente com o Airbus A320 da TAM que matou cerca de 200 pessoas, no dia 17 de julho, no aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
A presença de um representante legal da companhia para dar explicações técnicas sobre o funcionamento do modelo A320 foi cobrada pela CPI durante toda a tarde desta quinta. Os deputados ficaram irritados com o depoimento do consultor de comunicação da fabricante no País, Mário Sampaio, que alegou falta de conhecimento técnico para discutir as questões consideradas mais importantes, como o funcionamento do reverso das turbinas do avião.
Segundo os parlamentares, a Airbus mostrou desrespeito com o Brasil ao não ter aparecido em público para prestar declarações sobre o funcionamento do avião e possíveis falhas com o equipamento. “O mínimo que a Airbus deve fazer é indicar uma pessoa no País para tratar desse caso”, reforçou o relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS).
Vitória da CPI
Com a vinda de um representante da Airbus, a CPI poderá voltar-se para a investigação da aeronave. O consultor Mário Sampaio informou que a fabricante não tem representante legal no país, apesar de a holding que controla a Airbus (EADS) ter uma fábrica em São José dos Campos (SP). A EADS produz equipamentos de defesa, como radares e satélites.
O depoimento de Sampaio não trouxe novidades em relação ao acidente. Desde o começo ele deixou claro que não falava em nome da fabricante do avião, pois seria apenas um assessor de imprensa contratado por Toulouse (cidade na França, sede da Airbus). Sampaio respondeu algumas perguntas, principalmente sobre a sua ligação com a empresa européia e as decisões tomadas por ela após o acidente em Congonhas.
“Foi um depoimento extremamente ruim”, afirmou Eduardo Cunha. Mesmo assim, a CPI aprovou um requerimento que mantém a convocação de Sampaio, pois os deputados entenderam que ele se contradisse algumas vezes sobre a existência de representantes da Airbus no País. A nova convocação poderá ser usada, segundo Cunha, caso haja necessidade de confrontar o depoimento do consultor com o do representante da empresa.
Novos depoimentos
Na terça-feira a CPI vai ouvir o coronel Fernando Camargo, responsável pela investigação do acidente da TAM. Na quarta-feira, será ouvido o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, e na quinta-feira será a vez dos quatro controladores de vôo que estavam na torre de Congonhas na hora do acidente.
Investigação
O 1º vice-presidente da CPI solicitou ao governo que abra investigação para apurar o vazamento de informações sigilosas das duas caixas-pretas do Airbus da TAM. Em ofícios aos ministros da Justiça (Tarso Genro) e Defesa (Nelson Jobim), Cunha pede a abertura de inquérito policial federal e inquérito policial militar (IPM), respectivamente.
Outro ofício foi direcionado ao presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, para uma sindicância que apure eventuais responsabilidades da Casa. Reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo trouxe referências às informações sigilosas, dando a entender que a divulgação teria partido de parlamentares, pois as informações eram as mesmas “entregues ao Congresso”.
Cunha e Marco Maia rechaçaram as acusações de que a CPI vazou os dados. Cunha repudiou também as declarações do senador Demostenes Torres (DEM-GO), que disse que os integrantes da CPI da Câmara deveriam renunciar por causa do vazamento. “É um desrespeito a quem trabalhou no recesso, por quem estava de férias”, disse, referindo-se ao fato de a CPI do Senado não ter funcionado nos 14 dias de recesso parlamentar.