Francisco Dutra
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Financiamentos inusitados marcaram a corrida pelas duas vagas brasilienses para o Senado Federal. Entre os R$ 13 milhões movimentados, determinados investidores apostaram pesado em diferentes candidatos, como foi o caso do empresário e concorrente a suplente Luis Felipe Belmonte (PSDB) e do candidato ao cargo de senador Fernando Marques (SD). Outros saltam aos olhos pelo volume de dinheiro desembolsado, como é o caso do PSB na campanha de Leila do Vôlei (PSB).
Belmonte é 1º suplente do candidato Izalci Lucas (PSDB). Segundo o Divulgacand, o sistema de informações sobre as todas as candidaturas da Justiça Eleitoral, o tucano recebeu o total de R$ 2.988.000 em doações. Deste montante, R$ 1.480.000 partiram de Belmonte. Ao mesmo tempo, o empresário doou R$ 1.190.000 para a campanha ao Senado da Professora Amábile (PR), que concorre na mesma coligação “Coragem e Respeito pelo Povo”, junto com Izalci.
Outra movimentação peculiar ocorreu na coligação “Unidos pelo DF”. O concorrente Fernando Marques, dono da União Química, aplicou R$ 2.705.850 do próprio bolso na campanha. Simultaneamente, fez uma doação de R$ 300.000 na campanha de reeleição senador Cristovam Buarque (PPS). Somando outros doadores, o parlamentar teve R$ 1.593.018,11.
No caso do PSB, o ponto fora da curva é o volume elevado de recursos destinado para a campanha de Leila do Vôlei. A candidata recebeu R$ 3.000.000 da direção nacional do partido. Ou seja, ela recebeu literalmente o teto de recursos que podem ser gastos pelas candidaturas ao Senado, estabelecido pela Justiça Eleitoral nestas eleições de 2018. Pelos números oficiais do Divulgacand, o total de doações para a candidata extrapolou o teto, chegando a R$ 3.046.334,52.
No caso de Leila, outros pontos tornam a questão ainda mais peculiar. Em primeiro lugar, ela concorre sob as bênçãos do governador e concorrente a reeleição Rodrigo Rollemberg (PSB), principal líder do partido no DF. Além disso, ela tem como suplente a ex-secretária de Planejamento Leany Lemos (PSB), um das principais aliadas do atual governador.
Concorrentes sofrem com os cofres vazios
Sem grandes doações de campanha outros candidatos batalham pelas duas vagas para senador longe de polêmicas. São os casos, por exemplo, das campanhas dos deputados distritais Chico Leite (Rede), Wasny de Roure (PT), Paulo Roque (Novo), Marcelo Neves (PT) e Marivaldo Pereira (PSol).
Defendo o combate contra a corrupção, a radicalização da transparência o fim do voto secreto, Chico Leite recebeu apenas R$ 339.404. Ou seja, teve apenas 10% dos recursos disponíveis para a companheira de chapa. Por outro lado Wasny de Roure, outro personagem sem controvérsias durante a eleição teve somente R$ 325.000. O petista é especialista em fiscalização dos gastos públicos e tem laços estreitos com a comunidade evangélica.
O PT destinou R$ 260.000 para Marcelo Neves, que no total de doações disputa com R$ 293.814,10. Concorrente pela primeira vez ao Senado, Paulo Roque contou apenas com R$ 535.873,00. A maior parte dos recursos ele sacou do próprio bolso – mais precisamente, foram R$ 442.000,00. Por outro lado Marivaldo entrou no jogo com R$ 304.544,29.
Coincidência ou não, quem teve menos dinheiro nesta eleição protagonizou menos polêmicas do que os nomes na ponta, que tiveram mais dinheiro no bolso. Esta é mais uma distorção do atual modelo eleitoral. Em linhas gerais, as condições de competição não são iguais. Tem mais chances, quem tem as bênçãos do partido ou muito dinheiro no bolso.
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A campanha de Izalci não vê problemas com o duplo financiamento de Belmonte. Segundo a assessoria, o tucano pede votos para Amábile. Para Belmonte, haveria problema se a professora participasse de outra aliança.
“Haveria conflito se fosse de outra coligação”, justificou. De acordo com o empresário, o objetivo é garantir que o segundo voto dos eleitores fique na coligação. “É ciscar para dentro”, brincou. No caso de Izalci, argumenta que o dinheiro não foi uma doação, mas sim um “autofinanciamento” de campanha. Para vagas proporcionais, ele fez doações suprapartidárias para aproximadamente 20 candidatos. Belmonte alega que, no caso dos pretendentes aos cargos de deputado distrital e federal, quer ajudar a política a receber pessoas com passado limpo, com propostas objetivas e que não tivessem mandato. “Eu já faço um trabalho social para ajudar as pessoas. Percebi que investindo em mandatos consigo ajudar bem mais”, alegou.
Fernando Marques comentou: “Eu sou contra o financiamento público de campanhas. O dinheiro público deve ser gasto com saúde, educação e segurança pública. Eu apoio os candidatos nos quais eu acredito que trabalharão para um Distrito Federal melhor. São duas vagas ao Senado, e não é meu concorrente. Invisto no Cristovam porque ele é uma pessoa admirável.
Segundo o presidente regional do PSB, Tiago Coelho, no caso de Leila, as doações partiram do Diretório Nacional. Mas, contou que o valor foi repassado também para que Leila apoie candidatos proporcionais da coligação “Brasília de Mãos Limpas”. De acordo com o dirigente, esta missão foi cumprida. Segundo Coelho, a campanha de Leila respeitará o teto e devolverá o valor excedente para o partido.