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Política & Poder

Como estaria o Brasil se Lula tivesse escolhido um outro candidato em 2010 que não fosse Dilma?

Um presidente mais ponderado, menos voluntarista e mais capacitado a lidar com o Congresso poderia ter mantido a economia nos trilhos

Redação Jornal de Brasília

04/03/2022 8h10

Foto: Banco de imagem

Rogério L. Furquim Werneck*

Como estaria o Brasil, hoje, se Dilma Rousseff jamais tivesse sido presidente da República? O que teria ocorrido se, na eleição de 2010, Lula tivesse escolhido outro candidato, mais preparado e com melhor trânsito no Congresso e no PT, em vez de ter insistido em ungi-la como sua sucessora, para desespero da cúpula do partido?

Já seria um grande avanço se, na reflexão sobre essa indagação, se pudesse mapear o que possivelmente não teria ocorrido. Salta aos olhos, como altamente improvável, que qualquer outro candidato plausível, eleito pelo PT na disputa presidencial de 2010, viesse a ter desempenho tão desastroso como o que teve Dilma, nos cinco anos e meio em que ocupou o Palácio do Planalto.

Como estaria o País hoje, não tivesse sido metido no atoleiro em que foi deixado por Dilma, na esteira de uma gestão destrambelhada da política econômica, marcada por devastação fiscal e intervenções inconsequentes na formação de preços, que redundou em queda de mais de 8% no PIB por habitante, desorganização da economia, perda irremediável de apoio do Congresso e traumático processo de impeachment?

Um presidente mais ponderado, menos voluntarista e mais capacitado a lidar com o Congresso poderia perfeitamente ter mantido a economia nos trilhos. Nos mesmos trilhos em que foi feita a difícil transição entre o segundo mandato de FHC e o primeiro mandato de Lula.

Responsabilidade fiscal, preços realistas, inflação sob controle. E, em vez de recessão tão brutal, crescimento econômico sustentado, no limite do possível.

Mas falta, aqui, uma indagação crucial. Quão plausível é a ideia de que Lula poderia ter ungido outro candidato em 2010? A verdade é que o ex-presidente jamais levou a sério qualquer outro nome que não o de Dilma. Em parte, porque alimentava a fantasia de que, não tendo ela luz política própria, se contentaria com um único mandato e lhe cederia a vez em 2014. Mas em grande parte, também, porque Lula tinha, em comunhão com Dilma, a mesma visão triunfalista sobre as possibilidades das alterações de rumo que vinham sendo feitas na condução da política econômica no seu segundo mandato.

Como bem esclareceu a própria Dilma, em entrevista à Folha de S.Paulo de 28/7/2013, ela e Lula eram “indissociáveis”. “Eu estou misturada com o governo dele total. Nós ficamos juntos todos os santos dias, do dia 21 de junho de 2005 (quando ela assumiu a Casa Civil) até ele sair do governo.”

Tinha tudo para ser ungida por Lula, em 2010.

*ECONOMISTA, DOUTOR PELA UNIVERSIDADE HARVARD, É PROFESSOR TITULAR DO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-RIO

Estadão Conteúdo

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