VINICIUS SASSINE
BELÉM, PA (FOLHAPRESS)
O barco usado pelo presidente Lula (PT) em Belém durante as agendas associadas à COP30, a conferência do clima da ONU, tem um custo diário de R$ 2.647 por pessoa. O contrato que detalha os gastos totais com a embarcação -de grande porte, com três pavimentos e capacidade equivalente à de um hotel- serão mantidos em sigilo pelo governo até o fim do mandato.
As informações foram fornecidas à Folha de S.Paulo pela Presidência da República nesta terça-feira (4) em resposta aos questionamentos sobre a contratação da embarcação para hospedagem e locomoção do presidente antes e durante a COP30.
Lula, a primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, e uma comitiva na capital do Pará estão hospedados no barco Iana 3, que já circula pelos rios e canais da região desde o começo a manhã de segunda-feira (3). A embarcação fica ancorada na Base Naval de Val-de-Cans.
Segundo a assessoria da Presidência da República, o barco ficou disponível ao presidente a partir de um contrato de locação com a Icotur Transporte e Turismo, empresa sediada em Manaus.
“A opção pela embarcação Iana 3 foi definida com base em critérios técnicos de segurança, logística e economicidade”, disse a Secretaria de Comunicação da Presidência, em nota. A Icotur apresentou a proposta mais econômica e adequada em relação a opções disponíveis na hotelaria convencional, segundo a Secom, com valor médio diário de R$ 2.647 por pessoa.
As informações sobre o contrato foram classificadas de reservadas e permanecerão em sigilo até a conclusão do mandato em exercício -ou até o fim do último mandato, no caso de reeleição de Lula-, conforme a resposta da Presidência e a legislação citada na nota. Segundo a lei mencionada, esse tipo de sigilo é aplicado quando as informações podem colocar em risco a segurança do presidente da República.
“Todas as decisões seguem planejamento antecipado, critérios de segurança e transparência”, afirmou a Secom.
No começo da manhã de segunda, a assessoria do presidente afirmou, em resposta a questionamentos da Folha, que “a embarcação atende às especificações necessárias para receber o presidente e sua equipe, operando como um hotel”. Disse ainda que “a Presidência buscou soluções que fossem adequadas, cumprindo a legislação vigente, o que inclui segurança, preço e conforto.”
O Diário Oficial da União não tem registro do processo de contratação e do contrato com a empresa mencionada, levando em conta o nome e o CNPJ do empreendimento. Também não há registros no Portal da Transparência, mantido pela CGU (Controladoria-Geral da União), do governo federal.
Presidência da República, a Casa Civil da Presidência e a CGU sobre as informações básicas da contratação. Até agora, não se sabe o modelo adotado no acordo; o valor global e a vigência do contrato; a quantidade de diárias; os serviços incluídos; e as especificações técnicas da embarcação. O tamanho da comitiva do presidente não foi mencionado na
O presidente está em Belém desde sábado (1°), onde cumpre agendas que antecedem a cúpula de chefes de Estado e de governo, que será realizada na quinta-feira (6) e na sexta-feira (7) na cidade. Já a COP30 será realizada de 10 a 21 de novembro.
Até o final de outubro, o local de hospedagem de Lula em Belém estava incerto. Um navio da Marinha cogitado para receber o presidente foi considerado inadequado, pelas especificações exigidas para a estadia de Lula. Segundo relatos de auxiliares do presidente, a embarcação teria sido testada pelo ministro da Defesa, José Mucio, que teria ficado insatisfeito com o conforto e com o acesso à embarcação.
Em meio à crise de hospedagem em Belém, Lula disse no começo de outubro que pretendia dispensar um hotel e se hospedar numa embarcação. “Falei para a [primeira-dama] Janja, não vou nem para hotel, vou dormir num barco”, disse. “Enquanto os gringos estiverem dormindo, eu vou estar pescando. Quem sabe eu consigo pegar um filhote, um pirarucu.”
Lula e Janja já usaram o barco contratado pela Presidência para uma visita a uma comunidade quilombola em Acará (PA), a uma hora de Belém, na manhã de segunda. A visita foi acompanhada dos ministros Anielle Franco (Igualdade Racial) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar).
O barco é escoltado por grandes embarcações da Marinha e por veículos menores, que fazem a proteção policial da comitiva.