STÉFANIE RIGAMONTI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Na zona eleitoral onde o candidato Guilherme Boulos (PSOL) teve sua melhor votação proporcional no primeiro tuno, a opinião dos eleitores nas ruas atesta o que já estava estampado no resultado das urnas: a disputa está apertada e assim deve continuar no segundo turno.
O psolista obteve ali 43,7% dos votos válidos ali, ante 22,7% de Ricardo Nunes e 19,7% de Pablo Marçal.
O bairro tem características associadas a segmentos em que Boulos vai bem: é da região central de São Paulo, abriga população de média e alta renda e concentra espaços culturais.
Nesta segunda-feira (7), a reportagem encontrou diversos eleitores do psolista nas ruas. Ainda assim, nem todos manifestaram convicção.
O motorista de aplicativo José Sérgio da Silva, 55, por exemplo, afirmou que iria votar em Marçal, mas desistiu na reta final da disputa e migrou direto para Boulos quando o ex-coach publicou laudo falso de drogas contra o psolista nas redes sociais. “Mudei quando ele fez aquela besteira”, diz.
Já o mecânico Josias Gusmão Cavalcante, 42, que declarou voto em Marçal, afirmou que nem sabe o que fazer no segundo turno após se decepcionar com o posicionamento do ex-coach, que indicou que pode apoiar Nunes.
“Eu fiquei indignado. Ele disse que, se ganhasse, ia prender o Nunes, e logo depois da votação falou que apoiaria o prefeito.”
Dos que disseram à reportagem que votaram em Marçal, todos afirmaram que escolheriam Nunes no segundo turno, e um eleitor que declarou voto em Tabata Amaral (PSB) se mostrou indeciso quanto ao que fará.
O mapa da votação por zona eleitoral mostra que Nunes predominou em distritos da zona sul e parte da norte de São Paulo, enquanto Boulos conquistou maioria dos votos em boa parte do centro, dos extremos leste e parte de oeste e norte. Marçal predominou no restante da zona leste e em parte da norte.
Na Bela Vista, todos os eleitores que declararam voto em Boulos justificaram a escolha pelo interesse em sua posição ideológica de esquerda, em suas propostas e seu histórico político. Alguns eleitores também citaram a trajetória da vice em sua chapa, Marta Suplicy.
“Boulos tem mais propostas voltadas para a baixa e média renda. Ele também tem mais preocupação social”, afirmou a arquiteta Maria Laura Prado, 28.
“Votei nele porque eu sou de esquerda. Não que eu concorde com tudo o que ele diz, mas é o que temos de esquerda e ele tem um histórico político que me agrada”, disse a atriz Thabata Ottoni, 41.
“Gosto das propostas dele e também votei nele por causa da situação da cidade. Não é só questão de opção, mas do jeito que está não dá e o outro nem pensar”, afirmou uma bibliotecária, que preferiu não se identificar.
“Boulos é o mais preparado e o mais preocupado com o povo”, declarou a analista financeira Bruna Andrade, 38.
O perfil profissional dessas pessoas dá pistas do perfil dos eleitores do psolista. Entres os entrevistados estavam também uma artista plástica, um profissional autônomo e um consultor de vendas. Segundo levantamento da organização Nossa São Paulo, a Bela Vista é o terceiro distrito com maior concentração de espaços de cultura independentes na capital paulista.
As condições socioeconômicas do bairro também podem ser reveladoras.
Embora não tenha as residências mais caras da cidade de São Paulo, a Bela Vista é o único bairro da região central entre os dez mais valorizados do município, com o metro quadrado valendo R$ 11.759, segundo o Índice FipeZAP de agosto. À frente dele estão, em ordem, Itaim Bibi, Pinheiros, Jardins, Moema, Vila Mariana, Paraíso e Perdizes.
De todos esses bairros, apenas nos Jardins Boulos não levou a melhor, ficando atrás de seu rival, Ricardo Nunes.
Ainda segundo levantamento do FipeZAP, entre os dez bairros mais caros da cidade, a Bela Vista foi a que mais se valorizou no acumulado de 12 meses até agosto deste ano, com uma alta de preço de 9,2% no período.
Com uma população de 73.508 moradores, segundo dados de 2023 da Prefeitura de São Paulo, o bairro possui um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,940, considerado muito alto, segundo o Atlas do Desenvolvimento de São Paulo.
Pesquisa Datafolha divulgada um dia antes da eleição mostrava que entre os mais ricos, a vantagem do psolista em relação ao atual prefeito era significativa: Boulos e Marçal chegavam a 32% das intenções de voto, contra apenas 18% de Nunes. A margem de erro no segmento é de quatro pontos.
Já entre os mais pobres, o candidato do PSOL empatava tecnicamente com o prefeito, e ambos também ficavam igualados a Marçal no segmento de renda média.
Entre os entrevistados do bairro que disseram que votaram em Nunes no primeiro turno, dois eram comerciantes. Eles defenderam a continuidade da gestão atual. “Ele já está lá e fez coisas boas como a faixa azul”, disse Clóvis Lima da Rocha, 73. “Mas o que mais me fez votar nele é porque ele é mais educado do que os outros”, completou.
“Ele é o mais preparado e não é hora de mudar”, afirmou o comerciante Raimundo Cândido da Silva, 67.
Já entre os que disseram que votaram em Marçal, o discurso era contrário, de busca por mudança.