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Política & Poder

Alckmin mantém triplo mistério sobre futuro, mas empurra aliado ao PSB

Alckmin, porém, manteve um triplo mistério sobre seu futuro político. Não indicou data de desfiliação do PSDB nem confirmou a nova sigla

FolhaPress

14/12/2021 14h22

Foto: BBC

Joelmir Tavares
São Paulo, SP

Com chance de se filiar ao PSB para ser candidato a vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-governador Geraldo Alckmin (de saída do PSDB) participou nesta segunda-feira (13) de uma reunião no PSB em São Paulo na qual um aliado seu discutiu o ingresso na legenda.

Alckmin, porém, manteve um triplo mistério sobre seu futuro político. Não indicou data de desfiliação do PSDB nem confirmou a nova sigla (além do PSB, ele tem convites do PSD e do Solidariedade) ou sua presença na eleição presidencial de 2022, deixando para trás uma campanha ao Governo de São Paulo.

O tucano e o médico Sandro Lindoso, que foi candidato a prefeito de Osasco em 2020 pelo Republicanos, foram recebidos na sede estadual do partido pelo ex-governador Márcio França, que é líder do PSB no estado, próximo de Alckmin e entusiasta do arranjo com o PT.

Doutor Lindoso, como é conhecido, pertenceu ao PSDB e mantém boa relação com o grupo político de Alckmin. O médico e ex-vereador, que presidiu a Câmara Municipal na cidade da região metropolitana, é visto como potencial candidato a deputado estadual ou federal nas eleições do ano que vem. A presença de Alckmin nas articulações de Lindoso com o PSB foi interpretada em alas do partido como sinalização de que o quase ex-tucano deu um passo adiante na proposta de entrar na legenda e avançar na composição com Lula. O ex-governador, contudo, não oficializou uma decisão.

À reportagem Lindoso disse que sua própria filiação ao partido de França é um assunto que “está bem encaminhado”. O médico postou em uma rede social foto do encontro ao lado de Alckmin e França. Ele relatou que foi convidado por ambos para a reunião. “Eu namorei o PSB e agora noivei. Está caminhando para o casamento. O Alckmin e o Márcio me chamaram para conjecturar”, afirmou Lindoso. “Sou do grupo do doutor Geraldo e estou com os dois.”

O médico ficou em segundo lugar na disputa para a Prefeitura de Osasco em 2020. Ele deixou o PSDB meses antes do pleito, motivado por descontentamento com a ascensão do grupo do governador de São Paulo, João Doria, na estrutura partidária Recentemente, Lindoso publicou em sua página na internet uma foto ao lado de Alckmin e se referiu ao tucano como “meu professor e líder” e “ser humano ímpar”.

O médico disse não saber qual será o caminho do padrinho e ventilou a possibilidade de que ele tente retornar ao Palácio dos Bandeirantes. “Ele pode ir para um partido, mas não necessariamente eu irei para o mesmo”, afirmou, ressaltando que, de qualquer modo, será aliado e apoiador de Alckmin. “Ele e o Márcio me chamaram para a gente conjecturar e saber se teria problema para mim, como líder regional, da cidade de Osasco, uma decisão ou outra. Eu falei que não, que eu estou fechado com eles até a alma. Estou sob a tutela deles.”

“A posição dele [Lindoso] é a de acompanhar o Alckmin. Então, está dependendo de uma definição do Alckmin”, afirmou o secretário-geral do PSB em São Paulo, Mário Luiz Guide, que também participou do encontro. “Ele [Lindoso] está analisando a hipótese do PSB.”

Segundo Guide, o que houve foi uma visita de cortesia ao partido. Aliados de Alckmin disseram nos bastidores que a possível filiação do médico de Osasco ao PSB já era algo discutido antes e que a presença do ex-governador em eventos do partido tem sido frequente.

Por outro lado, há a a avaliação de que, para alguém habituado a emitir sinais em vez de agir com clareza na fase de costuras políticas pré-eleição, o aval à filiação do correligionário foi uma demonstração de intimidade com o partido de França, no mínimo. “O Alckmin tem a maneira dele, o tempo dele de definir”, disse Guide, negando que tenha havido sinalização clara do ex-governador sobre um embarque. “A relação com ele é boa. A questão aí é que não depende só de um lado, envolve vários aspectos”, acrescentou o dirigente do PSB.

Políticos que têm conversado com Alckmin repetem que é uma questão de dias o anúncio da desfiliação do PSDB, partido que ele ajudou a fundar e no qual construiu sua carreira, até bater de frente com o ex-afilhado político Doria, que agiu para minar o espaço dele dentro da legenda. O pré-candidato do PSDB ao governo é o atual vice-governador, Rodrigo Garcia, que deverá assumir o comando do estado com a renúncia de Doria para concorrer à Presidência da República.

Um dos interlocutores que falaram com o ex-governador nos últimos dias afirmou, em tom de deboche, que nem mesmo a esposa dele, a ex-primeira-dama Lu Alckmin, deve saber que rumo o marido tomará. O tucano é reservado e dificilmente se abre, mesmo com pessoas de confiança. Dona Lu afirmou ao colunista do UOL Thiago Herdy que acompanhará o ex-governador para onde ele for. “As coisas acontecem de acordo com as circunstâncias”, disse ela, enigmática.

“Burro, ele não é”, comentou a ex-primeira-dama, diante de questão sobre a eventual aliança com Lula, um adversário histórico. “Ele [Alckmin] tem uma capacidade muito grande de percepção das coisas, de mundo. Mas não dou meu palpite, isso não é da minha conta. O que ele decidir, estou com ele.”

Há várias teses na praça: a de que Alckmin anunciará de uma vez só a saída do PSDB e o ingresso em uma nova legenda, a de que fará o movimento inicial de se descolar do tucanato e só depois verá o resto e também a de que ele nada decidirá por enquanto, mantendo o debate em torno de seu nome aceso.

França tem repetido que o aliado está se mostrando mais propenso a encarar o projeto nacional e que é “de 99%” a chance de ser vice na chapa de Lula. O cacique do PSB almeja disputar o Bandeirantes, mas descarta enfrentar o ex-governador e amigo, alegando um pacto de lealdade.

Alckmin é o líder em intenções de voto para o governo estadual, com 26%, segundo pesquisa Datafolha de setembro. Fernando Haddad (PT) aparece numericamente em segundo lugar (17%), e França é o terceiro (15%). Em um cenário sem Alckmin, o nome do PT fica em primeiro e o do PSB, em segundo.

Apesar das posições favoráveis tanto dentro do PSB quanto dentro do PT, a entrada de Alckmin na chapa presidencial de Lula sofre resistências internas de ambos os lados e esbarra em exigências, como a de que o PT possa abrir mão de candidaturas próprias em cinco estados, incluindo São Paulo. Alckmin ainda deve se encontrar nesta semana com o presidente nacional do Solidariedade, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (SP), que convidou o ex-governador a entrar no partido, também na intenção de formar uma dupla com o petista no pleito de 2022. Alas do PT estimulam a tática.

No caso do PSD, a proposta do presidente nacional da sigla, o ex-ministro Gilberto Kassab, é que Alckmin seja candidato a governador de São Paulo, estado que o tucano já administrou por quatro mandatos. O presidenciável do PSD é o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG).
Procurados, nem Alckmin nem França se manifestaram.

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