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Política & Poder

A batalha entre ‘adesistas e ‘puros’ se repete no MDB; leia análise

Candidatura de Simone Tebet é contestada internamente por alas minoritárias que preferem o apoio a Lula

Redação Jornal de Brasília

27/07/2022 6h13

Foto: José Cruz/Agência Brasil

João Villaverde

Ânimos exaltados e confronto físico marcaram a última vez que o MDB fez uma convenção nacional relativamente dividida. Era 1998 e o partido tinha lideranças defendendo candidatura própria enquanto outros caciques advogavam apoio a um candidato de outro partido.

Os resultados magros anteriores do MDB em disputas eleitorais criaram dentro do partido uma ala crescentemente favorável a tese de apoio a um candidato de outro partido – no caso, a Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que buscava a reeleição. Um dos líderes dessa ala, chamada de “adesista”, era o então presidente da Câmara, Michel Temer.

Convenção do MDB
Outra ala, chamada de “pura”, advogava a importância do partido na política brasileira e considerava indiscutível a necessidade de uma candidatura própria. O candidato seria o ex-presidente Itamar Franco. Naquela época, as convenções dos partidos ocorriam dentro do Congresso Nacional.

Quando, em março de 1998, os delegados do MDB chegaram ao Congresso para a convenção, uma luta campal se instalou. Os camisas amarelas (favoráveis a Itamar) e os camisas brancas (favoráveis ao apoio a FHC) trocaram socos e chutes, exigindo intervenção da polícia legislativa. A tensa e dramática convenção terminou rachada, mas com maioria favorável a não-candidatura, com apoio a FHC.

Sem candidato próprio entre 1998 e 2014, o MDB apresentou candidaturas peculiar e antes disso (em 1994, com Orestes Quércia) e depois (em 2018, com Henrique Meirelles). No caso de Quércia, ex-governador de São Paulo, seu comando sobre a máquina partidária e sua expressiva situação financeira tornavam sua candidatura inescapável: quem se oporia? Já em 2018, Meirelles autofinanciou sua candidatura.

A última vez em que o MDB apresentou uma candidatura efetiva foi em 1989, quando Ulysses Guimarães liderou chapa após acirrada disputa de prévias internas. Foi, também, a chapa mais votada do partido em eleições presidenciais: 4,7% dos votos, ante 4,4% de Quércia e 1,2% de Meirelles.

A senadora Simone Tebet não tem postura autocrática sobre o partido (como Quércia em 1994) e nem autofinanciará sua campanha (como Meirelles em 2018). Sua candidatura é contestada internamente por alas minoritárias que preferem o apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. São os “adesistas” da nova geração. Neste sentido, a convenção nacional do MDB neste ano está mais próxima daquela de 1998, sem, é claro, os mesmos níveis de violência. Se for vitoriosa no voto interno da convenção, como foi Ulysses, a senadora terá uma batalha semelhante à dele em 1989, que precisava romper com a polarização eleitoral precoce.

João Villaverde é mestre e professor de Administração Pública e Governo na FGV-SP.

Estadão Conteúdo

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