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Vladimir Putin, um ‘czar’ guerreiro em busca de grandeza internacional

O sistema de poder de Vladimir Putin, oriundo da KGB soviética e que chegou ao Kremlin em 31 de dezembro de 1999, confirmou duas características ao longo dos anos

Redação Jornal de Brasília

08/12/2023 12h42

Foto: Sergey GUNEYEV / POOL / AFP

Com a invasão da Ucrânia, a repressão na Rússia e sua confrontação com o Ocidente, Vladimir Putin se tornou um chefe de guerra autoritário, no poder há um quarto de século e que agora aspira a permanecer no Kremlin por mais seis anos.

Nesta sexta-feira (8), Putin anunciou sua candidatura a um quinto mandato nas eleições de 17 de março de 2024. Já completou dois mandatos de quatro anos e dois mandatos de seis anos, com um interlúdio como primeiro-ministro.

O sistema de poder de Vladimir Putin, oriundo da KGB soviética e que chegou ao Kremlin em 31 de dezembro de 1999, confirmou duas características ao longo dos anos.

A primeira é o constante endurecimento do sistema, contra os oligarcas, com a segunda guerra na Chechênia, a redução das liberdades públicas e a repressão dos meios de comunicação social e da oposição.

A segunda característica é o reforço de sua presença internacional, com a guerra da Geórgia (2008), a anexação da Crimeia ucraniana (2014), a intervenção militar na Síria (2015) e a invasão da Ucrânia (2022).

A Europa, em particular a Alemanha de Angela Merkel, acreditou equivocadamente que iria canalizar essas ambições, apostando na codependência econômica, mediante maciças compras de gás russo.

Mas Putin parece imparável e, aos 71 anos, aspira a uma nova eleição presidencial, marcadas para 17 de março.

Embora esteja envolvido na guerra na Ucrânia, onde seu Exército sofreu derrotas humilhantes, ele persiste e espera obter uma vitória por desgaste.

Em seus discursos de tom marcial, marcados pelo revisionismo histórico, Putin acusa a Ucrânia de nazismo, diz querer anexar territórios e considera esse conflito uma guerra com os Estados Unidos por trás.

Segundo ele, a sobrevivência da Rússia está em jogo. Por isso, pune com prisão aqueles que se opõem à invasão da Ucrânia. Há milhares de russos processados, perseguidos e presos.

Putin não se importa com as sanções ocidentais, nem com o fato de o Tribunal Penal Internacional (TPI) tenha-no processado pela acusação de deportação de crianças ucranianas. Considera que sua missão é se livrar da hegemonia ocidental.

Marcado pela derrota

Putin era um agente da KGB, instalado na Alemanha Oriental na década de 1980, e continua marcado pela desintegração da União Soviética, um sinal da derrota de Moscou na Guerra Fria.

Para atingir seus objetivos, conta hoje com o apoio diplomático da China. A Ásia, com a Índia à frente, está comprando petróleo russo, e Putin assegura que a África vê a Rússia como um aliado contra o “neocolonialismo” ocidental. Ele também pretende obter armas do Irã e da Coreia do Norte.

O líder russo quer, ainda, ser o porta-bandeira dos valores “tradicionais”, frente ao que considera a decadência moral do Ocidente e, em particular, sua tolerância para com a comunidade LGTB+.

Com o fracasso da contraofensiva ucraniana em meados de 2023, Putin se sente mais forte e aproveita a divisão ocidental sobre a continuação da ajuda militar a Kiev.

Em plena pandemia da covid-19, conseguiu que a Constituição fosse modificada para poder concorrer à presidência em 2024 e 2030, mas tem muitos desafios pela frente.

A guerra na Ucrânia está longe de ser uma vitória russa e a capacidade dos russos, da elite e da economia para resistir a este conflito no longo prazo permanece uma incógnita.

Em junho, o motim dos mercenários do grupo Wagner, liderado por Yevgueni Prigozhin, até então leal a Putin, foi um exemplo de oposição, embora os líderes rebeldes tenham sido mortos mais tarde no que foi descrito como um acidente de avião fortuito.

Segundo a analista russa Tatiana Stanovaya, o custo do conflito está aumentando para Moscou.

“A guerra está esgotando a Rússia (…) claro que pode durar muito tempo, mas o preço a pagar é gigantesco”, comentou a cientista política em uma nota recente no Telegram, lembrando que, aos 71 anos, “Putin não é eterno”.

Para muitos russos, Vladimir Putin continua a ser o homem que devolveu a honra à Rússia, minada pela pobreza, pela corrupção e pelo declínio alcoólico do presidente Boris Yeltsin na década de 1990.

Aos 47 anos, quando chegou ao Kremlin, prometeu amizade aos líderes ocidentais e desenvolveu a economia, aproveitando o preço favorável dos hidrocarbonetos.

Em meados da década de 2000, porém, começou o divórcio com o Ocidente. Acusou a Otan de ameaçar a Rússia, ao se expandir, e censurou os Estados Unidos, por se considerarem o “único soberano” do mundo.

© Agence France-Presse

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