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UE e Celac tentam retomar diálogo apesar das divergências sobre a Ucrânia

A última reunião de cúpula entre os blocos aconteceu em 2015 e agora as duas partes correm contra o relógio para recuperar uma difícil interação.

Redação Jornal de Brasília

17/07/2023 11h57

A União Europeia (UE) e os 33 países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) celebram nesta segunda-feira e na terça-feira uma reunião de cúpula de dois dias em Bruxelas na tentativa de retomar um diálogo interrompido, com divergências consideráveis sobre a mesa.

A última reunião de cúpula entre os blocos aconteceu em 2015 e agora as duas partes correm contra o relógio para recuperar uma difícil interação.

Os governantes pretendem discutir temas como as relações comerciais, incluindo as negociações com o Mercosul, uma reforma na composição do sistema financeiro internacional, a mudança climático e as transições energética e digital. Além disso, os negociadores europeus pretendem fazer uma menção à guerra na Ucrânia durante o encontro.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, se reuniu durante a manhã em Bruxelas com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. “Queremos aprofundar com a UE a discussão sobre a questão climática”, declarou Lula.

O Brasil, garantiu o presidente, “vai cumprir com sua parte na questão climática. Temos um compromisso de desmatamento zero até 2030 na Amazônia”.

A questão dos compromissos contra o desmatamento e os temas ambientais viraram obstáculos nas demoradas negociações sobre um acordo comercial entre UE e Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai).

A presidente da Comissão Europeia disse que a visita de Lula tem “uma dimensão histórica”. “Enfrentamos o desafio geracional da mudança climática. Por isto precisamos que nossos amigos próximos estejam do nosso lado em tempos de incerteza”, afirmou.

“Eu saúdo o retorno do Brasil ao cenário internacional”, acrescentou Von der Leyen.

“Não vai ser fácil”

O encontro de cúpula foi estimulado em grande parte pela Espanha, com o apoio de Portugal. Madri assumiu em 1º de julho a presidência semestral rotativa do Conselho da UE. O Executivo espanhol trabalhou durante pelo menos um ano para concretizar a reunião, que espera transformar em um dos legados de seu mandato à frente do bloco europeu.

A ministra das Relações Exteriores do México, Alicia Bárcena, que representará seu país no evento, advertiu na sexta-feira que a reunião “não vai ser fácil”.

Depois da última reunião, a UE mergulhou em problemas internos como a gestão da grave onda migratória de 2015-2016, o Brexit, a pandemia de coronavírus e finalmente a guerra na Ucrânia, que gerou também um forte crise energética.

Neste cenário, as relações europeias com a região do outro lado do Atlântico ficaram em compasso de espera, e agora as capitais tentam recuperar o tempo perdido.

A UE espera dar a essa relação uma estrutura permanente, mas a Celac não possui o nível de institucionalização da UE, e por isso a ideia ainda exigirá muitas horas de negociações.

O texto das conclusões da cúpula tem sido objeto de discórdias desde o início das conversas. A principal é a sugestão dos europeus de mencionar a guerra da Ucrânia no documento, uma delicada questão na qual os dois blocos não têm posições totalmente alinhadas.

Uma fonte diplomática sul-americana disse à AFP que os países da Celac entendem a “sensibilidade” do tema, mas apontou que a contraparte europeia também deveria compreender que os países latino-americanos e caribenhos têm posições diferentes.

“Esta não é uma reunião sobre a Ucrânia, e sim sobre as relações bilaterais entre Celac e UE. (…) O tema surgiu nas discussões? Sim, com certeza. É o único tema importante? Acho que não”, disse um negociador latino-americano.

A falta de consenso fez com que a participação do presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, fosse descartada.

Tensões

A própria organização da cúpula foi objeto de tensões. O chanceler de Cuba, Bruno Rodríguez, denunciou em um vídeo a “falta de transparência e a conduta manipuladora” da UE. “Resta pouco tempo, mas ainda não é tarde demais para evitar um fracasso”, advertiu.

Já a chancelaria da Venezuela apoiou as queixas de Rodríguez e afirmou que “a decisão da UE de impor seu próprio formato” à cúpula “ameaça levar ao fracasso os esforços realizados para sua organização”.

© Agence France-Presse

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