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Suécia aprova, mas não recomenda, vacina contra Covid para crianças de 5 a 11 anos

Em dezembro, a entidade emitiu uma recomendação de vacinação de crianças nessa faixa de idade suscetíveis a infecções respiratórias

FolhaPress

27/01/2022 19h21

Foto: Reprodução

Patricia Pamplona
Florianópolis, SC

Apesar de ter aprovado a aplicação da vacina contra Covid-19 em crianças com mais de cinco anos, a Agência de Saúde Pública da Suécia divulgou nesta quinta-feira (27) que não recomenda a imunização daquelas com idade de 5 a 11 anos, em mais uma política que vai na contramão de diferentes países.

Em dezembro, a entidade emitiu uma recomendação de vacinação de crianças nessa faixa de idade suscetíveis a infecções respiratórias, mas ainda não havia divulgado a decisão sobre a campanha em geral entre esse grupo.

Em comunicado, a agência defendeu que o benefício médico é atualmente pequeno e que a imunização não deve ter efeito importante na disseminação do vírus, nem entre as crianças dessa idade nem em outros grupos da população.

“As crianças correm um risco significativamente menor de desenvolver formas graves de Covid-19 em comparação com os adultos”, defende o texto. “Em geral, quanto mais jovem a criança, menor o risco.” A agência lembra ainda que recomenda a vacinação geral para pessoas com 12 anos ou mais. “Isso é baseado no benefício para a criança individualmente.”

A decisão vai de encontro à política de países que já iniciaram a vacinação desse grupo e à avaliação de especialistas, que defendem a imunização de crianças como o próximo passo no combate à crise sanitária. “Os pais precisam entender a urgência da vacinação porque a pandemia ainda não acabou”, disse à BBC James Versalovic, patologista-chefe do Hospital da Criança do Texas (EUA).

Segundo a avaliação de diversas agências reguladoras, inclusive a brasileira Anvisa, e da Organização Mundial da Saúde, a vacina é eficaz e segura para as crianças.

Independentemente da decisão desta quinta, o governo sueco incentiva a vacinação para aqueles com 12 anos ou mais como forma de diminuir a propagação do vírus, reforçando que a imunização previne contra a forma grave da doença, que as injeções foram submetidas a testes rigorosos e que milhões no mundo já receberam as doses.

Até esta quarta, 74,25% da população estava com esquema vacinal completo, segundo a plataforma Our World in Data.

A diretora-geral da agência, Karin Tegmark Wisell, explicou, no comunicado, que a decisão sobre a vacinação infantil não é definitiva. “Estamos constantemente avaliando o estado do conhecimento e o desenvolvimento da pandemia na Suécia e no resto do mundo, e uma nova posição será tomada sobre essa questão antes do outono [primavera no Brasil].”

Assim como diversos países da Europa, a Suécia vê a curva da média móvel de casos como uma reta em ascendência, em um ritmo nunca registrado antes na pandemia, após a chegada da variante ômicron. Nesta quarta (26), foram 39.021 diagnósticos, bem acima dos 7.441 de janeiro do ano passado, pico anterior.

Em cifras que levam em conta a proporção de casos pela população total, o país está em décimo no ranking europeu. Despontam na frente Andorra (média móvel de 9.492 infecções por milhão de habitantes), Dinamarca (7.354) e Eslovênia (5.706) –na Suécia, a cifra foi de 3.840.

Mesmo com o recorde, o sistema de saúde sueco não enfrenta a mesma demanda de surtos anteriores. Nesta quarta, eram 1.975 pacientes internados com Covid, enquanto em janeiro do ano passado eram cerca de 3.000. Em UTI, foram registrados 109, contra 420 em abril do ano passado.

A não recomendação da agência sueca se soma a decisões polêmicas tomadas no combate à Covid-19. O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), chegou a destacar que o governo do país europeu não fechou estabelecimentos ainda no início da pandemia. De fato, não houve confinamento geral, mas a Suécia restringiu a operação de museus, eventos esportivos, universidades e colégios (aulas prosseguiram online), visitas a casas de repouso e reuniões de mais de 50 pessoas.

Em Estocolmo, restaurantes e bares precisam garantir distanciamento físico e alguns chegaram a ser fechados porque descumpriram regras.

Entre os argumentos para evitar as restrições mais severas estava a legislação do país (que impede esse tipo de medida), a baixa densidade populacional (que reduz o número de encontros entre pessoas), o fato de que metade dos suecos mora sozinha (evitando a transmissão doméstica) e o alto grau de adesão da população às recomendações do governo.

Ainda assim, apesar de uma defesa da estratégia geral, o coordenador do combate ao coronavírus no país, Anders Tegnell, reconheceu que era possível ter feito mais, ainda em junho de 2020. “Se fôssemos passar pela mesma doença, sabendo exatamente o que sabemos hoje, eu acho que acabaríamos fazendo algo entre o que a Suécia fez e o que o resto do mundo fez”, disse.

Uma comissão independente nomeada pelo governo para revisar a resposta nacional à crise sanitária, porém, avaliou em outubro que a estratégia sueca foi lenta e insuficiente para limitar a propagação das infecções e esteve abaixo do padrão esperado.

“A escolha sueca enfatizou medidas de controle baseadas no voluntarismo e na responsabilidade individual, em vez de medidas interventivas”, dizia um trecho. “O controle foi descentralizado e fragmentado de forma que não deixa claro quem é o responsável pelo todo quando uma doença infecciosa afeta o país.”

Hoje, a Suécia adota restrições como limitação no horário de funcionamento de restaurantes e de público em locais fechados. As medidas foram renovadas por duas semanas nesta quarta, mas o governo espera removê-las em 9 de fevereiro. Outra decisão anunciada foi a extensão da proibição de entrada de viajantes de países da União Europeia até 28 de fevereiro e de turistas de locais fora do bloco até 31 de março.

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