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Rússia reitera ameaça nuclear no último dia de referendos de anexação dos territórios ucranianos

As autoridades reivindicaram a vitória à integração com a Rússia das duas regiões da Ucrânia onde foram organizados os referendos

Redação Jornal de Brasília

27/09/2022 18h07

Foto: AFP/Divulgação

A Rússia reiterou nesta terça-feira (27) a ameaça de utilizar armas nucleares, no último dia dos referendos de anexação de quatro territórios sob seu controle, onde o “sim” está em clara vantagem numa consulta denunciada pelo Ocidente.

As autoridades pró-Moscou reivindicaram a vitória do “sim” à integração com a Rússia das duas regiões do sul da Ucrânia onde foram organizados os referendos, Kherson e Zaporizhzhia, sob ocupação russa. As porcentagens de apoio foram de 87% e 93% respectivamente, segundo anunciaram após a contagem de todas as cédulas.

As outras duas regiões envolvidas são Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, onde as autoridades pró-Rússia também deram uma vantagem do “sim” na contagem parcial das cédulas.

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, minimizou o valor desses referendos, que não mudarão “nossas ações no campo militar”.

Os aliados da Ucrânia denunciaram os referendos, organizados de maneira expeditiva diante do avanço das forças de Kiev, que com o apoio das armas ocidentais recuperou milhares de quilômetros quadrados que estavam sob controle russo desde setembro.

O G7 prometeu que “nunca reconhecerá” os resultados, pensamento reiterado nesta terça-feira pelo secretário de Estado americano, Antony Blinken.

“Nós e muitos outros países deixamos isso claro. Nunca vamos reconhecer a anexação do território ucraniano pela Rússia”, garantiu Blinken em entrevista coletiva.

A Otan afirmou que os referendos são uma “violação flagrante do direito internacional”, e Israel alertou que também não reconhecerá os resultados.

A França descreveu os referendos como uma “mascarada”, e sua ministra das Relações Exteriores, Catherine Colonna, que encontra-se em Kiev nesta terça-feira, que será necessária “uma melhor correlação de forças entre a Rússia e a Ucrânia” para encerrar a guerra.

A ONU declarou apoiar “a integridade territorial da Ucrânia” em suas fronteiras “reconhecidas”.

O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que os referendos pretendem “salvar as populações” que moram nestes territórios, que representam cerca de 20% da superfície ucraniana.

“Para que a guerra acabe”

Na Crimeia, península anexada em 2014 pela Rússia, foram abertas sessões eleitorais para os refugiados da região de Donetsk, parcialmente controlada por Moscou e seus aliados separatistas pró-Rússia.

“Com meu voto eu quero tentar fazer uma pequena contribuição para que a guerra acabe”, disse à AFP Galina Korsakova, de 63 anos. “Tenho muita vontade de voltar para casa”, acrescentou.

“Espero que as pessoas e os trabalhadores comuns recuperem a paz e a estabilidade”, disse Ruslan Yushkevich, um mecânico de 37 anos de Mariupol, uma cidade portuária amplamente destruída por combates ferozes nesta primavera.

Para enfatizar seu zelo pelos novos territórios, Moscou ameaçou novamente na terça-feira recorrer a armas nucleares.

“A Rússia tem o direito de usar a arma atômica, caso seja necessário”, ameaçou o ex-presidente russo e agora número dois do Conselho de Segurança russo, Dmitri Medvedev.

Uma posição confirmada pelo porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, que lembrou que a doutrina militar russa contempla a possibilidade de responder com armas nucleares em caso de ataques ao território russo.

Êxodo de russos

Paralelamente, a Rússia anunciou uma mobilização de reservistas que pretende recrutar 300.000 soldados para fortalecer a invasão.

Na Crimeia, uma jornalista da AFP viu fileiras de homens mobilizados, vestidos com trajes militares e fuzis nas mãos, esperando sua vez para subir em ônibus do exército, enquanto seus familiares se despediam com lágrimas nos olhos.

A campanha de recrutamento às vezes caótica levou milhares de russos a fugir do país, um êxodo confirmado nesta terça-feira por dois países vizinhos, Geórgia e Cazaquistão. As chegadas à Finlândia e à Mongólia também são numerosas.

A Geórgia relatou 10.000 russos cruzando a fronteira todos os dias desde que a mobilização foi anunciada, mais que o dobro da taxa normal. O Cazaquistão indicou que 98.000 cidadãos russos atravessaram a fronteira desde 21 de setembro.

“Estava chovendo e fazia frio, mas seis horas de espera é uma coisa razoável, tendo em vista as circunstâncias”, disse à AFP por telefone Fyodor, um moscovita que chegou à fronteira com o Cazaquistão depois de quase dois dias de viagem e várias horas de espera para entrar neste país da Ásia Central.

Segundo seu relato, ele não estava na lista dos 300.000 reservistas, mas preferiu deixar Moscou “por precaução” e em vista do “caos total” que prevalece.

Cerca de 66.000 cidadãos russos entraram na UE na semana de 19 a 25 de setembro, 30% a mais que na semana anterior, segundo a agência europeia de fronteiras Frontex.

Vazamentos no Nord Stream

Ao mesmo tempo, os dois gasodutos Nord Stream que transportam gás russo para a Europa sofreram vazamentos significativos, segundo Suécia e Dinamarca. 

Os dois gasodutos, no Mar Báltico, estão fora de serviço, mas cheios de gás. De acordo com sismólogos suecos, pouco antes de os vazamentos serem observados, duas explosões submarinas foram registradas, provavelmente devido “a algum tipo de detonação”.

A Ucrânia disse que provavelmente foi um “ataque terrorista” planejado por Moscou contra a União Europeia. A Rússia afirmou estar “extremamente preocupada” e disse que não descarta “nenhuma” hipótese, incluindo sabotagem.

© Agence France-Presse

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