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Rússia, arquiteta dos corredores humanitários sírios

As retiradas foram marcadas pela violência, o que complicou a chegada de ajuda humanitária e colocou em perigo a vida de milhares de pessoas

Redação Jornal de Brasília

09/03/2022 11h30

A Rússia, que anunciou corredores humanitários para permitir a retirada de civis na Ucrânia, já organizou este tipo de saída de civis e combatentes na Síria, onde está presente desde 2015 apoiando o governo do presidente Bashar Al Asad.

Em 2016, mais de 200.000 pessoas deixaram as zonas rebeldes das províncias de Aleppo (norte), Dara (sul) e Guta Oriental, próxima a Damasco, em virtude de acordos mediados pela Rússia, aliada do regime sírio.

As retiradas foram marcadas pela violência, o que complicou a chegada de ajuda humanitária e colocou em perigo a vida de milhares de pessoas.

“Na Ucrânia, os riscos são os mesmos que na Síria”, explica à AFP Emma Beals, do Middle East Institute.

Em alguns casos, os corredores humanitários estão em territórios controlados pelos combatentes, por quem podem ser atacados.

Aleppo

Em novembro de 2016, o regime de Damasco lançou uma ofensiva para recuperar o controle dos bairros de Alepo onde estavam entrincheirados os rebeldes desde 2012.

Segundo as Nações Unidas, cerca de 40.000 civis e 1.500 combatentes se encontravam até então bloqueados no leste da cidade

Em dezembro de 2016, um acordo entre Rússia, Irã e Turquia – que apoiava parte da oposição – estabelece corredores humanitários.

De 15 a 22 de dezembro, ao menos 34.000 pessoas saem da zona de guerra, segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

Porém alguns habitantes contaram à AFP que foram detidos durante horas em postos de controle do regime e dos combatentes pró-iranianos.

No segundo dia de retirada, uma ambulância que transportava feridos foi atingida por disparos.

Guta oriental

Oito dias depois do início de uma ofensiva em Guta Oriental em 18 de fevereiro de 2018, a Rússia implementou uma trégua humanitária para permitir que os civis abandonassem a zona de guerra.

Durante a primeira trégua, em 26 de fevereiro, confrontos deixaram sete mortos. Aterrorizados e famintos, os habitantes – quase 40.000 – se negaram a utilizar os corredores humanitários.

Em 5 de março, um comboio de ajuda humanitária reduz suas entregas à parte rebelde de Guta Oriental devido aos bombardeios do regime. Moscou decide então a negociar acordos com os rebeldes para que seus familiares sejam retirados em direção às regiões controladas pela oposição.

A partir de 22 de março, mais de 67.000 pessoas deixam Guta em um ônibus. As viagens foram supervisadas diretamente por Moscou.

Adicionalmente, os postos de controle da polícia militar russa registram os nomes dos passageiros e as tropas sírias inspecionam as bolas e as armas dos rebeldes.

Dara

Em julho de 2018, o regime conclui um acordo com os grupos rebeldes com interlocução da Rússia, que inclui um cessar-fogo imediato em Dara e a evacuação para Idleb dos combatentes opostos ao acordo.

Centenas de combatentes e seus familiares partem em direção ao norte do país e seus veículos são registrados pelas forças russas.

Em agosto de 2021, a Rússia negocia uma segunda onda de saídas após os piores combates entre rebeldes e forças do regime desde 2018. Dezenas de combatentes e familiares abandonaram Dara de ônibus.

©️ Agence France-Presse

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