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Republicanos em Utah perdoam o ceticismo climático de Trump, apesar de sofrerem na pele com o aquecimento global

Ferry elogia os “bons resultados econômicos” que Trump obteve durante sua presidência (2017-2021), assim como seus “valores familiares”

Redação Jornal de Brasília

07/10/2024 15h28

trump

FOTO: PATRICK T. FALLON / AFP

Em seu rancho na margem norte do Grande Lago Salgado, Joel Ferry é um espectador da primeira fila das mudanças climáticas. Natural de Utah, este agricultor republicano viu a extensão da água diminuir dois terços em 40 anos.

Diretor do departamento de Recursos Naturais de Utah, Ferry sabe que a seca do lago é uma “bomba nuclear ambiental” que ameaça a existência da capital, Salt Lake City, e dos dois milhões de habitantes que vivem em suas margens.

Ele votará sem dúvidas nas eleições presidenciais de novembro de Donald Trump, apesar do candidato republicano ser cético em relação às mudanças climáticas.

Ferry elogia os “bons resultados econômicos” que Trump obteve durante sua presidência (2017-2021), assim como seus “valores familiares”.

Mórmon, assim como metade da população de Utah, Ferry também é grato a Trump por nomear juízes conservadores para a Suprema Corte, o que permitiu a revogação da proteção constitucional do direito ao aborto.

Esses pontos ofuscam, segundo Ferry, a posição negacionista de Trump, que neste ano sugeriu que o aumento do nível dos oceanos resultará em mais propriedades à beira-mar.

“Eu acho que é apenas uma provocação, não acredito que ele pense isso realmente”, disse Ferry.

Este é um acontecimento comum em Utah, onde os mórmons estão em grande parte leais ao partido Republicano, apesar de terem reservas sobre a personalidade de Trump.

Os republicanos vencem as eleições presidenciais neste estado há setenta anos.

– “Como Mad Max” –

Os moradores entenderam a fragilidade da região em 2022, quando o Grande Lago Salgado atingiu seu ponto mais baixo, afetado, por um lado, entre o consumo excessivo de água do setor agrícola e da indústria mineradora, e por outro, por uma seca histórica que desidratava a região há duas décadas.

“Disparou a preocupação de que o lago secaria completamente”, disse à AFP David Parrott, diretor-adjunto do Great Salt Lake Institute, da Universidade de Westminster.

“Seria como Mad Max, onde a água desaparece completamente. Teríamos que abandonar a cidade”, explica o biólogo.

O leito do lago, cada vez mais exposto, contém naturalmente arsênio tóxico, além de metais pesados ​​que se concentraram devido à indústria mineradora e que se liberaram na atmosfera com as tempestades.

Este ponto de inflexão gerou “um grito de guerra” de políticos e cidadãos, acrescenta Ferry.

A administração conservadora investiu mais de um bilhão de dólares (R$ 5,46 bilhões na cotação atual) em três anos em iniciativas como incentivos financeiros para que os agricultores reduzam o consumo de água por meio de novas tecnologias de agricultura, assim como para promoção a chuva e obras para dividir o lago em dois e limitar sua salinidade.

Até mesmo a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias racionou seu consumo de água.

“O meio ambiente deveria ser uma prioridade para os republicanos” nos Estados Unidos, acrescenta.

– “Problema local” –

O programa de Trump, no entanto, não está em sintonia com os desejos de Ferry.

Segundo um estudo da organização Carbon Brief, se Trump ganhar a corrida pela Casa Branca, ele acabará com as esperanças de limitar o aquecimento global a +1,5°C.

O republicano prometeu que os Estados Unidos retirariam novamente o Acordo de Paris, assinado para limitar as emissões de gases de efeito estufa, além de defender o aumento da produção de petróleo.

“Uma presidência de Trump seria desastrosa para o meio ambiente e para o Grande Lago Salgado”, disse Parrott, que aplaude os esforços dos republicanos em Utah.

Em Salt Lake City, a maioria dos republicanos com quem a AFP conversou expressamente com o lago.

Mas para alguns, como Bill Clements, trata-se de um problema local em que a Casa Branca não tem influência.

Clements, de 75 anos e que também é mórmon, agradece os dois últimos invernos, mais úmidos que a média, os quais deram um respiro ao lago.

Embora tenha tido um pouco, o lago não alcançou o nível mínimo para sua conservação.

“Eu acho que muitas dessas coisas são da natureza (…) sobem e descem”, diz Clements.

“Ainda não abracei a religião da mudança climática”, finaliza.

© Agence France-Presse

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