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Putin formaliza anexação de áreas da Ucrânia

A Rússia formalizou o processo de anexação de 4 regiões ucranianas ao seu território, um movimento fortemente condenado internacionalmente

FolhaPress

30/09/2022 10h34

Foto: IStock/Divulgação

GIOVANNA GALVANI
SÃO PAULO, SP

A Rússia formalizou nesta sexta-feira (30) o processo de anexação de quatro regiões ucranianas ao seu território, um movimento fortemente condenado pela comunidade internacional.

As duas áreas do Donbass, Donetsk e Lugansk, e Kherson e Zaporizhzhia, ambas no sul, fazem parte do bloco mirado pelo Kremlin. As áreas representam cerca de 15% do território total da Ucrânia. Na última semana, foram organizados “referendos” de anexação que, apesar de serem acusados de fraude, deram ampla vitória pró-Rússia.

Em Moscou, áreas cercadas em torno da Praça Vermelha são decoradas com banners e contam com estruturas de palcos e telões, que compunham a paisagem comemorativa. “Donetsk, Lugansk, Zaporizhzhia e Kherson. Rússia!”, dizem os escritos dos cartazes.

A cerimônia ocorreu no Palácio de St. George, em Moscou. Participaram Vladimir Putin, fez um longo discurso, e os governantes pró-Rússia das quatro regiões.

Não foi a primeira vez que a Rússia deu seguimento a planos de anexar uma região da Ucrânia mesmo com condenações internacionais. Em 2014, a península da Crimeia (sul) passou a ser considerada território russo, embora o decreto também não tenha sido reconhecido pela comunidade internacional.

O que Putin disse em seu discurso?

O presidente russo disse estar disposto a voltar à mesa de negociações com a Ucrânia, mas afirmou que os territórios das quatro regiões estão fora de questão porque “as pessoas fizeram suas escolhas”.

“Instamos ao regime de Kiev que cesse imediatamente os disparos, todas as hostilidades e volte à mesa de negociações”, declarou.

“Os habitantes de Lugansk e Donetsk, Kherson e Zaporizhia se tornam nossos cidadãos para sempre”, disse Putin à elite política do país. “As pessoas votaram pelo nosso futuro comum”, acrescentou.

Para justificar a anexação, Putin mencionou o direito de “autodeterminação” dos povos e retomou o histórico da União Soviética como razão da proximidade da população do sul da Ucrânia com a Rússia.

“É um direito baseado na unidade histórica dos nossos povos que por gerações protegeram a Rússia”, disse. “O que está por trás disso é nossa história compartilhada, esse amor pela Rússia que não pode se exterminado por ninguém. Todas as gerações nascidas após a tragédia da destruição da União Soviética queriam a unidade”.

Vladimir Putin também criticou fortemente o Ocidente, em especial os Estados Unidos. “Eles acreditam que sua cultura liberal são os padrões de ouro para todos”, disse, acusando os países de manterem uma cultura “neocolonial” em relação à Rússia e outros países orientais.

“Eles têm uma motivação cruel e por isso são agressivos contra estados independentes, contra culturas tradicionais. Para eles é importante que todos os países se rendam aos Estados Unidos, e muitos voluntariamente concordaram em se tornar vassalos dos EUA”, declarou.

Quais são as regiões que serão anexadas pela Rússia?

O Kremlin já considera Luhansk e Donetsk, que juntos formam a região de Donbas, como estados independentes Elas foram citadas como prioritárias no início da chamada “operação militar especial” em 24 de fevereiro, dia da invasão na Ucrânia. No pronunciamento feito à nação naquele dia, Putin repetiu acusações de um “genocídio” orquestrado pela Ucrânia nos territórios separatistas pró-Rússia no Donbass.

Já Kherson e Zaporizhzhia tornaram-se focos de intensas disputas ao longo dos último sete meses, com tensão especial voltada ao fato da maior usina nuclear da Europa ter ficado no meio do fogo cruzado em Zaporizhzhia.

Recentemente, uma comissão da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), órgão da ONU, visitou a região e concluiu que a situação é “insustentável” em termos de segurança nuclear.

Referendo foi acusado de fraude

O governo de Volodimir Zelensky, presidente da Ucrânia, e países ocidentais, como os Estados Unidos, chamaram as votações de “farsas” e já afirmaram que não reconhecerão a anexação dos territórios.

A Ucrânia denunciou que os moradores foram obrigados a votar, ameaçados com armamentos pesados, e que o resultado “já estava pronto há tempo”.

A ONU (Organização das Nações Unidas) manifestou que os referendos não têm “base legal no direito internacional” e foram realizados em “áreas de conflito ativo”.

“Qualquer decisão de prosseguir com a anexação das regiões de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia na Ucrânia não teria valor legal e merece ser condenada”, endossou António Guterres, secretário-geral da ONU, a repórteres.

Aumento da tensão poderia levar ao uso de armas nucleares?

O temor da anexação é que, com essas áreas consideradas por Moscou como parte de seu território, a Rússia poderá usar armas nucleares para “defendê-las”.

Putin declarou na semana passada que a Rússia estava disposta a recorrer a “todos os meios” de seu arsenal para “defender” seu território. O presidente russo ainda ressaltou que “não estava blefando” ao fazer a ameaça. Ele também convocou cerca de 300 mil reservistas do exército para se unirem às tropas.

Nesta sexta, questionado por repórteres se um ataque da Ucrânia aos territórios que a Rússia reivindica como sua terra seria considerado um ataque à Rússia, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse: “Não seria outra coisa”.

Ataque mais cedo matou 25 civis

A Ucrânia e as tropas da Rússia trocaram acusações nesta sexta-feira sobre um bombardeio contra um comboio de carros civis no limite entre a zona ucraniana e a região ocupada de Zaporizhzhia. O ataque deixou pelo menos 25 mortos e mais de 50 feridos.

“O inimigo executou um ataque com foguete contra um comboio humanitária de civis, pessoas que estavam na fila para seguir até a zona temporariamente ocupada, encontrar parentes, receber ajuda”, afirmou no Telegram o governador ucraniano da região, Oleksandr Starukh.

“Apenas terroristas completos poderiam fazer isso e não deveriam ter espaço no mundo civilizado”, disse Volodimir Zelensky, antes de chamar a Rússia de “Estado terrorista” e “escória sanguinária”.

Uma fonte do governo russo acusou as tropas ucranianas de atacar os veículos para impedir que estes civis entrassem na zona ocupada. “As forças ucranianas atacaram nosso povo, que estava em uma fila”, acusou um comandante da ocupação regional, Vladimir Rogov, que citou 23 vítimas fatais.

Os dois lados divulgaram imagens de cadáveres e de carros destruídos no ataque.

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